Dia da Ecologia

É a compreensão de fenómenos básicos que está subjacente ao desenvolvimento de soluções baseadas na natureza, verdadeiras ferramentas práticas de gestão.

São inúmeros os dias comemorativos para sensibilizar a sociedade sobre a necessidade de respeitar e proteger a natureza: o Dia do Planeta Terra, da Água, da Biodiversidade, do Ambiente, dos Oceanos, entre outros. Se há tantos dias dedicados ao “ambiente”, porquê mais um dia da Ecologia? A Ecologia, enquanto área científica, cobre todos os temas atrás mencionados, já que, de acordo com a definição proposta pelo zoólogo e ilustrador alemão Ernst Haeckel (1866), aborda todas as complexas inter-relações entre organismos e o meio envolvente, incluindo, em sentido lato, todas as condições necessárias à sobrevivência.

A ecologia é, actualmente, uma ciência transversal e catalisadora, já que reúne cientistas com diferentes conhecimentos para, em conjunto, encontrar soluções para os problemas actuais. Um ecólogo tanto pode estudar a biodiversidade do plâncton do oceano para avaliar a sua capacidade de retenção de carbono, ou o comportamento evolutivo de pragas florestais a fim de compreender a perda de resiliência da área produtiva e o impacto das medidas de gestão.

Neste contexto, podemos elencar três razões que justificam a celebração deste dia:

1. A Ecologia enquanto ciência, multi e transdisciplinar, está a conduzir as tendências de pensamento e acção dos mais diversos sectores, desde a política à saúde, educação e economia. Basta lembrar a gestão da pandemia, a discussão à volta dos incêndios florestais e a necessidade de desenvolvimento de uma economia rural, a fim de minimizar a desertificação do interior e a degradação da paisagem.

2. O desconhecimento do trabalho de um ecólogo e da sua abordagem transversal, o qual permite transformar conhecimento em planos de acção que, em conjunto com outros técnicos, podem ser estruturantes e abrangentes. Por outro lado, cabe aos ecólogos o dever de contribuir com o seu conhecimento, de forma eficaz e assertiva, para as políticas públicas. Não se devem calar perante a indiferença pública em relação aos verdadeiros riscos ambientais.

3. A base do desenvolvimento da economia digital e verde, como preconiza a União Europeia, exigirá mudanças profundas na relação entre a natureza, as instituições sociais e governamentais. A transição ecológica e digital que tanto se defende exigirá um nível ambicioso de investimento em I&D (investigação e desenvolvimento) para estimular a produção de soluções inovadoras, necessárias à transição energética, ao aumento da produtividade e compatíveis com a salvaguarda do património natural.

Desde 2017 que a Sociedade Portuguesa de Ecologia abraça este projecto de lançar o Dia da Ecologia com o apoio da Comissão Nacional da UNESCO. Todos os anos convidamos cientistas, técnicos, centros de Ciência Viva a juntarem-se para mostrar que o “ambiente” de um ecólogo é muito mais do que o meio atmosférico envolvente. O “ambiente” de estudo de um ecólogo pode ser o solo, o território, os rios ou o oceano e pode avaliar as alterações nas interacções entre espécies, o Homem incluído, neste planeta em evolução.

São estes alguns do casos de estudo que o Público anuiu dar à estampa para, neste dia da Ecologia, mostrar a diversidade de abordagens, a variedade de “ambientes” e objectivos com que se constroem narrativas científicas. É a compreensão de fenómenos básicos que está subjacente ao desenvolvimento de soluções baseadas na natureza, verdadeiras ferramentas práticas de gestão.

É tempo de os media e os políticos tirarem partido destes profissionais, chamando-os e consultando-os, por forma a minimizar os riscos que podem colocar em perigo a sobrevivência do Homem.

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