A ecologia e os ecólogos

A definição do conceito de ecologia deve-se ao investigador e ilustrador alemão Ernst Haeckel que morreu há, precisamente, 100 anos. Por ecologia entende-se o estudo de todas as complexas interrelações entre organismos e o meio envolvente, incluindo, em sentido lato, todas as condições necessárias à sobrevivência. Durante o século XX a ecologia cresceu como ramo da biologia mas, a partir da década de 60, o seu impacto foi maior pelo crescimento e desenvolvimento económico do pós-guerra. Desabrocharam, nessa altura, dois grupos: um, influenciado por Rachel Carson e Barry Commoner, apostados em denunciar o impacte negativo do Homem no ambiente, e outro, mais científico e profundo, liderado por Eugene Odum e Paul Ehrlich, que incluíam nos seus estudos o Homem como outra espécie da natureza. O seu objectivo era estudar e interpretar cientificamente as respostas dos organismos às diferentes condições que afectam o seu desenvolvimento. O primeiro deu origem ao movimento ecologista, com uma forte implantação social e política. O segundo, mais introspectivo, aos ecólogos, enquanto profissionais que se fundamentam em dados recolhidos segundo o método científico.

No século XXI a ecologia é uma ciência transversal, integradora, motivada pelos desafios e problemas que a sociedade enfrenta. Os estudos são desenvolvidos em equipas interdisciplinares para assegurar uma melhor abordagem aos cenários previsíveis e providenciar soluções operacionais relevantes à sustentabilidade do planeta. A noção crescente do cariz multidisciplinar e transdisciplinar da ecologia enquanto ciência está a conduzir as tendências de pensamento e acção dos mais diversos sectores, desde a política à saúde, educação e economia.

Actualmente, os ecólogos, enquanto profissionais científicos, possuem o conhecimento necessário que permite apoiar as metas estipuladas pelo programa dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. É, por isso, fundamental olhar para o panorama actual e compreender o trabalho que tem sido desenvolvido, neste contexto, até ao presente. Só assim será possível delinear novos objectivos realistas, que ponderem as contribuições transversais das diversas áreas do conhecimento nas metas que elencam.

Os ecólogos podem debruçar-se sobre o oceano profundo para investigar as cadeias alimentares responsáveis pela dinâmica populacional das espécies, dando informações cruciais para a definição das quotas de pesca. E as viagens aos pólos ou às florestas profundas são essencialmente focadas em entender as interrelações que permitem afectar ou promover a sobrevivência das espécies. O seu investimento é o de preencher a lacuna de conhecimento das complexidades dos ecossistemas. Por isso, tanto podem usar satélites ou programas de computador sofisticados para modelar respostas e prever consequências, como usar metodologias moleculares e genéticas para compreender as respostas funcionais que podem ser usadas como indicadores ecológicos e funcionais.

A afirmação e projecção dos ecólogos, enquanto profissionais da ecologia, passa também por saber comunicar usando uma mensagem científica compreensível, clara e simples. Mostrar que os desafios e avanços que afectam a sociedade só podem ser respondidos se houver uma monitorização de dados recolhidos na natureza, de forma correcta e sistemática, sem barreiras físicas ou políticas. Sem esta recolha e posterior avaliação de dados sem fronteiras não há políticas inovadoras que permitam assegurar a sustentabilidade do planeta e as condições sociais e humanamente exigíveis para alcançar as metas dos ODS.

Surge, assim, de forma oportuna a reunião de ecólogos de todo o mundo, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que, durante uma semana [de 29 de Julho a 2 de Agosto], irá mostrar a ligação da ecologia aos ODS. O congresso recebe contributos inegáveis de dez dos 17 ODS, provenientes não só de toda a comunidade científica, mas também do tecido empresarial e industrial, cuja actividade atravessa o domínio da ecologia. Faltam dez anos para o culminar das metas estabelecidas pelas Nações Unidas. Os ecólogos e a ecologia, enquanto ciência, devem mostrar o que sabem e contribuir de forma eficaz e assertiva para o desenvolvimento sócio-económico, tendo presente a salvaguarda do ambiente que nos rodeia. Não podem continuar fechados e conformados com a fraca participação pública. Mas os media e os políticos devem também saber tirar partido destes profissionais detentores do conhecimento científico, por forma a salvaguardar os recursos que, em falta, podem colocar em perigo a sobrevivência do Homem.

Bióloga, professora catedrática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, presidente da Sociedade Portuguesa de Ecologia

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