Um branco dourado, que cheira a ilha e sabe a mar
É um vinho soberbo e continua a ser o melhor Caracol que já provámos. Cheira a flores, a duna e a mar, revela excelente acidez, sabor, muito sabor e um lado incrivelmente salino.
O que é bom e raro é, regra geral, caro. Claro que há menos bom, e não tão raro, igualmente caro. Ora, para início de conversa, este Caracol que António Maçanita e Nuno Faria fazem desde 2020 no Porto Santo é, como dizem os anglo-saxónicos, value for money. Ou seja, vale bem o valor que a dupla pede por ele.
Consistentemente bom, é um vinho soberbo e continua a ser o melhor Caracol que já provámos, de entre os diferentes produtores que o vinificam estreme — a irrequietude de Maçanita levou mais gente a explorar o potencial da variedade, alguns até a olhar pela primeira vez para o Porto Santo como terroir (calcário, em ilha vulcânica) de vinhos tranquilos.
O Caracol é uma uva geneticamente próxima do Listrão e deverá o seu nome ao facto de a sua folhagem e cachos estarem sempre cobertos de caracóis — e, já agora, não está relacionado com um tal de sr. Caracol que em tempos a teria trazido de África do Sul, como é costume contarem na ilha.
De um dourado revolto, no nariz, mistura cheiro a flores, a duna e a mar, enquanto na boca revela excelente acidez, sabor, muito sabor — é um vinho que se mastiga, praticamente uma “refeição” —, e um lado incrivelmente salino.
Os mostos foram pré-oxidados e fermentados em inox numa adega rudimentar, literalmente uma antiga garagem automóvel em que a recepção das uvas acontece onde antes os mecânicos recebiam os carros, e os vinhos fermentam e estagiam em contentores de frio no parque de estacionamento! O essencial está lá, portanto. E isso, aliado ao engenho de Maçanita, tem como resultado vinhos originais e muito bons, como este.
Estagiou dez meses sobre as borras e, sendo a referência mais em conta no portefólio da Companhia de Vinhos dos Profetas e dos Villões na ilha dourada, oferece já uma singular experiência, que no final nos deixa a salivar, seja pela segunda garrafa, seja de pensar nos outros brancos desta dupla.
Apesar de ser acessível, não é, ainda assim, um vinho para comprar todos os dias, sabemo-lo. E é pena, mas assim é com as coisas verdadeiramente especiais e/ou raras na vida. Este vinho é especial e raro, até na produção — até eram 4897 garrafas, engarrafadas em Abril, mas em Agosto, quando andámos pela ilha, já não havia uma para amostra na adega. Valeu-nos a garrafeira local Vila de Baco, onde é possível encontrar este e outros vinhos madeirenses. Bem-haja.
Nome Caracol dos Profetas 2023
Produtor Companhia de Vinhos dos Profetas e dos Villões
Castas Caracol
Região Madeira
Grau alcoólico 12%
Preço (euros) 25 (Garrafeira Vila de Baco)
Pontuação 93
Autor Ana Isabel Pereira
Notas de prova De um dourado revolto, no nariz, mistura cheiro a flores, a duna e a mar, enquanto na boca revela excelente acidez, sabor, muito sabor, e um lado incrivelmente salino. Os mostos foram pré-oxidados, fermentados a temperatura controlada e o vinho estagiou dez meses sobre as borras. Original e muito bom. Consistentemente bom, este vinho.