De volta à escola, de volta ao trânsito

Estamos perante um problema de transportes, fruto de um problema de falta de planeamento, relacionado com o modo como utilizamos, vivemos e nos deslocamos no território.

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Paulo Pimenta - 21 Junho 2024 - Portugal, Porto - Obras do Metro do Porto (Linha Rosa) na Avenida da Liberdade/Aliados. Abertura ao trânsito, circulação rodoviária (carros) recupera vias e sentidos habituais o automovel Paulo Pimenta
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As aulas estão quase a começar e o inferno vai retomar. Quem trabalha na área sabe os efeitos que as escolas têm nos sistemas de transportes, especialmente quando estão massivamente dependentes do transporte automóvel privado. Quem anda no trânsito, mesmo não tento os conhecimentos técnicos para perceber todas as implicações e complexidades em causa, sente esses efeitos.

Estamos perante um problema de transportes, fruto de um problema de falta de planeamento, relacionado com o modo como utilizamos, vivemos e nos deslocamos no território. Então porque se agrava tanto o tráfego devido às escolas? Simples, porque temos mais viagens, em múltiplos sentidos, pontos de concentração espacial e temporal, um efeito multiplicador, que muitas vezes ocorre de forma altamente ineficiente, por melhor que possa ser o sistema existente.

Existem zonas, marcadamente residenciais, mas raramente as escolas estão próximas dessas zonas. Por outro lado, mesmo havendo escolas de proximidade, existe a possibilidade dos pais poderem escolher outras, independentemente de ser eficiente ou sustentável. A falta de escolas que sirvam os territórios de proximidade e a possibilidade de levar as crianças e jovens em veículos privados para qualquer local limitam o planeamento do sistema de transportes. Se os transportes públicos cobrissem todo o território, com oferta, qualidade e segurança, poderíamos minimizar o problema. Mas, com uma escassez de investimento e utilização, é igualmente inviável aproveitar o seu potencial de escala.

Não estamos condenados. Podemos inverter isto. Na realidade portuguesa, tendo em conta as competências e delimitações administrativas, são os municípios que podem actuar, directamente ou através das regiões metropolitanas ou comunidades intermunicipais. É preciso pensar a várias escalas, o que nem sempre é fácil pois pode não coincidir com delimitações dos mandatos políticos. Desde a escola que pode e deve servir um bairro ou freguesia, minimizando as viagens e distâncias, permitindo alternativas suaves como o acesso pedonal e bicicleta, complementadas com a partilha de boleias e criação de circuitos de transportes públicos que sirvam várias escolas e os seus territórios de influência. Caso as escolas já existam, faz sentido que as áreas habitacionais se densifiquem nesses locais, tal como capacitar as escolas com mais valências para o apoio às famílias de modo a minimizar a simplificar os transportes.

Para implementar estas e outras soluções é preciso planear, simular cenários, envolver as entidades que podem contribuir para um melhor sistema de transportes e vivência dos territórios, envolver os pais e restante comunidade escolar. Há também uma importante parte pedagógica envolvida de responsabilidades públicas e privadas. Uma solução serão as abordagens de planeamento colaborativo, incluído as dinâmicas de simulação e jogos sérios.

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