MSF pedem resposta rápida e coordenada para o surto de cólera no Sudão

Mais de cinco mil casos e 191 mortes foram reportados pelas autoridades de saúde sudanesas, levando ao pedido dos Médicos sem Fronteiras para que os obstáculos à ajuda médica sejam retirados.

Foto
A guerra civil no Sudão começou em Abril do ano passado El Tayeb Siddig / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
04:11

Os Médicos sem Fronteiras (MSF) pediram esta quinta-feira uma "resposta rápida" e "acesso irrestrito" para tratar e conter o surto de cólera que se propaga no Sudão desde Agosto, com 191 mortes e mais de cinco mil casos reportados pelo Ministério da Saúde sudanês.

O surto de cólera surge no contexto de uma guerra civil no Sudão que dura desde Abril de 2023, quando as forças paramilitares conhecidas como Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla inglesa) se revoltaram contra as Forças Armadas e o Governo do Sudão e ocuparam grandes partes do país, causando uma guerra marcada por fome, violência sexual e deslocamento em massa de milhões de pessoas.

Segundo os MSF, o surto de cólera tem afectado estados do centro e Leste do país, nomeadamente os estados de Kassala, Gedaref e do Nilo. Em Kassala, refere a organização as chuvas torrenciais e as fortes cheias subsequentes afectaram maioritariamente "comunidades deslocadas internamente e refugiados da Eritreia e da Etiópia", que ficaram "em condições de vida ainda mais terríveis".

https://publico.pt/2024/07/29/mundo/noticia/organizacoes-naogovernamentais-denunciam-violencia-sexual-guerra-civil-sudao-2098695

"A mistura preocupante de fortes inundações e chuvas torrenciais com condições de vida miseráveis e acesso inadequado à água potável que milhões de pessoas têm hoje, particularmente em campos lotados de pessoas deslocadas, criou a tempestade perfeita para a propagação desta doença muitas vezes mortal", referiu Esperanza Santos, coordenadora dos MSF para a emergência no Sudão, num comunicado à imprensa.

Em resposta à emergência, a organização afirma que mobilizou as suas equipas para assistir as autoridades de saúde para responder à situação, com centros e unidades de tratamento de cólera e ajudando os centros de tratamento já existentes, tendo os MSF afirmado que trataram 2.165 pacientes entre o fim de Agosto e 9 de Setembro.

No entanto, os MSF afirmam que o acesso oferecido pelas partes beligerantes não está a ser suficiente para combater a cólera e pediram um aumento da resposta das autoridades internacionais.

"As pessoas estão a morrer de cólera neste momento; por isso, apelamos às Nações Unidas e às organizações internacionais para que financiem e aumentem as actividades, em especial os serviços de água e saneamento, que são cruciais para travar a propagação letal", disse o coordenador médico da organização, Frank Ross Katambula.

A cólera é uma doença que se espalha através da água ou comida contaminada ou através de contacto com fezes ou vómito de pessoas infectadas. A doença causa diarreia e vómito graves e pode ser fatal, causando desidratação que pode matar em horas se não for tratada. Porém, o tratamento, segundo a organização, é simples: a reidratação das pessoas que sofrem desta doença.

No comunicado, os MSF pedem assim que as partes "permitam o acesso sem entraves do pessoal médico e dos fornecimentos a todas as zonas carenciadas do Sudão, de modo a garantir uma resposta rápida e coordenada e evitar mortes evitáveis".

​"Existe o risco de se esgotarem os fornecimentos essenciais, como os kits para a cólera, numa altura em que é urgentemente necessário intensificar a resposta. Apelamos às autoridades para que acelerem e facilitem a entrega de fornecimentos e medicamentos, uma vez que os obstáculos burocráticos continuam a ser um grande desafio​", afirmou ainda o coordenador médico dos MSF.

No Sudão, para além dos Médicos sem Fronteiras, também a organização não-governamental Save the Children advertiu para os surtos de cólera no país e afirmou que precisavam de fundos para poder garantir o tratamento eficaz da cólera no país.

"Estamos a trabalhar para garantir o acesso a água potável, instalações sanitárias e actividades de promoção da higiene para evitar a propagação de doenças transmitidas pela água, como a cólera, em zonas afectadas pelo conflito. No entanto, necessitamos urgentemente de uma enorme injecção de fundos para podermos fornecer o tratamento necessário para a cólera", afirma Mohamed Abdiladif, director interino da Save the Children no Sudão.

Num relatório publicado a 6 de Setembro pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a organização informa que os casos de cólera pelo mundo aumentaram no ano passado, face a 2022, subindo para 535.321 casos em 2023. Em África, os casos de cólera aumentaram 123% face há dois anos.

"Conflitos, alterações climáticas, investimento limitado no desenvolvimento e deslocação da população devido a riscos emergentes e re-emergentes" são as principais razões apontadas para este aumento pela OMS, no relatório.

Sugerir correcção
Comentar