O declínio das aplicações de encontros?

Parece que a “geração cronicamente online” está a regressar a formas de convívio alternativas (e presenciais). As dating apps parecem estar em declínio.

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As aplicações de encontros vieram revolucionar a "dating scene" moderna. Apps como o Tinder, Bumble ou Hinge observaram um aumento expressivo nas suas utilizações durante a pandemia, quando as pessoas não tinham outra alternativa se não comunicar através destas plataformas online para fazer face à solidão provocada pelo distanciamento social instituído.

Estas aplicações não só nos permitem manter o contacto com pessoas à distância, como potenciam a criação de ligações entre pessoas que talvez nunca se cruzariam na vida real, por não pertencer aos mesmos círculos, por exemplo, e, nesse sentido, contribuem para relacionamentos menos homógamos e mais diversificados e interacções mais seguras no seio da comunidade queer.

Contudo, são cada vez mais os relatos de discriminação mesmo neste contexto, situações por vezes potenciadas pelos algoritmos destas aplicações, criados para levar os utilizadores a fazer upgrade para as versões premium, que lhes permitem ter acesso a conteúdo exclusivo e personalizado, ou a um maior número de potenciais matches, colocando o seu perfil em destaque ou garantindo que ele é mostrado mais vezes.

Não desmerecendo que por vezes se encontrem conexões genuínas e se construam ligações duradouras com início neste contexto (nos EUA, de acordo com um inquérito conduzido em 2017 e publicado em 2019, concluiu-se que cerca de 39% dos casais se tinham conhecido online), a maior parte dos relatos é de desgaste e alguma frustração com o infindável número de interacções que ficam sem princípio, meio e fim. Por isso, não é de espantar que as pessoas tenham vindo a procurar alternativas.

Nas últimas semanas, tornou-se popular a prática de “engatar no Mercadona” uma tendência que se tornou viral, havendo alguns que se questionam se não será uma estratégia de marketing muito bem conseguida pela cadeia de supermercados espanhola. A verdade é que vem demonstrar uma vontade de sair à rua e falar com as pessoas na “vida real”, naquilo que talvez para muitos – principalmente aqueles que trabalham maioritariamente a partir de casa – se tenha tornado numa das únicas ocasiões de interacção social do dia-a-dia.

Parece que a “geração cronicamente online” está a regressar a formas de convívio alternativas. Antes da última tendência de virar o ananás, já tinham surgido vozes a queixar-se de que as dating apps não resultam e que seria melhor “fingir-se perdida numa livraria ou numa zona com várias empresas” (esperando a ajuda dos potenciais pretendentes), ou ainda o clássico “I’m looking for a man in finance, blue eyes, 6’5” ("Estou à procura de um homem que trabalhe no sector financeiro, olhos azuis, 1,95 m"), som que ficou viral no TikTok há uns meses.

Uma coisa é certa: há muitos a quem parece já não bastar as interacções online. Será que estamos a observar uma inversão da tendência de crescimento e o consequente declínio das aplicações de encontros?

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