Medicamento para a epilepsia pode ajudar a reduzir os sintomas da apneia do sono

A apneia obstrutiva do sono caracteriza-se por episódios de interrupção respiratória durante o sono. As estimativas indicam haver cerca de 936 milhões de adultos a viver com a doença no mundo.

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O sultiamo é um medicamento para a epilepsia freepik
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Um medicamento para a epilepsia pode ajudar a impedir que a respiração dos doentes com apneia do sono pare temporariamente durante a noite, de acordo com um estudo internacional apresentado recentemente.

A síndrome da apneia obstrutiva do sono caracteriza-se pela ocorrência de episódios de interrupção respiratória durante o sono. As estimativas, conforme noticiou o PÚBLICO, indicam que há cerca de 936 milhões de adultos a viver globalmente com apneia obstrutiva do sono leve a severa. E importa salientar que os especialistas estimam que entre 80% a 90% dos casos não sejam diagnosticados (e tratados).

A Direcção-Geral da Saúde (DGS) destaca, numa publicação no seu site, que “a síndrome da apneia obstrutiva do sono é um distúrbio respiratório do sono caracterizado pelo breve, mas frequente bloqueio das vias respiratórias, que provoca interrupções da respiração totais [apneias] ou parciais [hipopneias] durante o sono”.

“Ou seja, ocorre um relaxamento excessivo dos músculos da via aérea superior resultando no bloqueio da normal respiração”, acrescenta a DGS, sublinhando ainda que os sintomas mais frequentes são “ressonar, despertares súbitos com engasgos ou sensação de sufocação, despertares recorrentes, necessidade de urinar durante a noite, sono agitado, cefaleias matinais, sensação de sono não reparador, sonolência diurna excessiva, irritabilidade e falta de atenção, memória ou dificuldade de concentração”.

A apneia obstrutiva do sono está associada a uma sonolência diurna excessiva, assim como ao aparecimento de doenças como hipertensão arterial, diabetes mellitus, acidente vascular cerebral, arritmias e insuficiência cardíaca.

Tratamentos alternativos

O estudo em questão revelou que um medicamento para a epilepsia, o sultiamo, está associado a uma redução significativa dos sintomas da apneia do sono. Os resultados foram apresentados no Congresso Internacional da Sociedade Respiratória Europeia em Viena (Áustria).

“O tratamento padrão para a apneia obstrutiva do sono é dormir com uma máquina que sopra ar através de uma máscara facial para manter as vias respiratórias abertas. Infelizmente, muitas pessoas consideram estas máquinas difíceis de utilizar a longo prazo, pelo que é necessário encontrar tratamentos alternativos”, explicou, em comunicado, Jan Hedner, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, que apresentou o estudo. “Precisamos também de compreender melhor os mecanismos subjacentes à apneia do sono para ajudar os clínicos a efectuar um tratamento mais personalizado.”

A equipa envolvida no estudo realizou um ensaio clínico com quase 300 doentes com apneia obstrutiva do sono na Bélgica, República Checa, França, Alemanha e Espanha que não utilizavam as máquinas para manter as vias respiratórias abertas durante a noite. Os participantes foram divididos em quatro grupos em função das suas dosagens: 74 pessoas tomaram 100 miligramas (mg) de sultiamo diariamente, outras 74 pessoas tomaram 200 mg, 75 tomaram 300 mg e os restantes 75 tomaram um placebo.

O estudo analisou a respiração dos doentes, os níveis de oxigénio no sangue, o ritmo cardíaco, os movimentos oculares, bem como a actividade cerebral e muscular durante o sono no início do ensaio clínico, após quatro semanas e após 12 semanas.

A Sociedade Europeia de Pneumologia esclarece, em comunicado, que “o sultiamo é um medicamento que tem como alvo o sistema respiratório, inibindo uma enzima chamada anidrase carbónica e estimulando os músculos das vias respiratórias superiores”.

A nota frisa ainda que “as pessoas que tomaram sultiamo apresentaram menos pausas na respiração e níveis mais elevados de oxigénio no sangue durante o sono”. Uma medida da frequência das pausas respiratórias durante o sono, denominada AHI3a, foi 17,8% mais baixa nos doentes que tomaram a dose mais baixa de sultiamo, 34,8% mais baixa nos doentes que tomaram a dose média e 39,9% mais baixa nos doentes que tomaram a dose mais elevada.

Quando os investigadores utilizaram uma outra medida denominada IAH4 verificaram que, após 12 semanas, os doentes que tomaram sultiamo tiveram até 50% menos episódios em que a respiração parou (comparativamente com os participantes que tomaram o placebo) e níveis mais elevados de oxigénio no sangue durante o sono.

Os efeitos secundários sentidos pelas pessoas que tomaram sultiamo, tais como formigueiro, dores de cabeça, fadiga e náuseas, foram geralmente ligeiros ou moderados.

Jan Hedner salienta que os resultados sugerem que o medicamento pode ser um tratamento eficaz para a apneia obstrutiva do sono, mas são necessários mais estudos para confirmar os efeitos respiratórios benéficos do sultiamo a longo prazo e num grupo maior de doentes, assim como eventuais efeitos secundários.

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