As vindimas já arrancaram no Dão e as expectativas são de que as uvas colhidas resultarão num vinho de grande qualidade, mas as quebras na produção poderão, afinal, ser superiores a 20%. Tudo por causa do míldio tardio, que atacou algumas vinhas na região. "O estado actual das uvas faz prever uma belíssima colheita, esperamos que não chova no mês de Setembro", comentava, este domingo, o presidente da Comissão Vitivinícola Regional (CVR) Dão.
Segundo Arlindo Cunha, que falava à agência Lusa, "as uvas estão num estado sanitário excelente, porque choveu até há dois meses, e as videiras têm boas reservas hídricas, estão frondosas, têm uma boa carga vegetativa". "Augura-se uma óptima qualidade, sendo que, em termos de quantidade de produção, a nossa previsão é de uma redução significativa relativamente ao ano anterior, talvez na casa dos 20 a 25%", estimou o responsável.
No ano passado, foram produzidos mais de 25 milhões de litros de vinho no Dão. E o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) previu uma quebra de produção de 15% na região. O problema, que a meio do Verão não entrava ainda na equação, foi o míldio tardio.
"A quebra é mais grave do que o IVV tinha previsto com base nas nossas informações iniciais. Na altura em que fornecemos a primeira previsão não tínhamos ainda informação deste surto gravíssimo de míldio tardio, que fez com que houvesse zonas onde a colheita se perdeu", explica Arlindo Cunha.
Já o presidente da União das Adegas Cooperativas do Dão (UDACA), António Mendes, revela que, no caso das cooperativas, a quebra na produção "poderá situar-se entre 10 e 15%". "Tem muito a ver com algumas uvas em particular, nomeadamente a Touriga Nacional. Mas veremos até ao final da vindima, porque se houver alguma humidade é uma situação, se não houver humidade e muito calor é outra", referiu, também à Lusa.
António Mendes explica que a quebra na produção se ficou a dever "ao mau vingamento provocado pelo excesso de chuvas na época da floração". No ano passado, entraram nas quatro cooperativas que a UDACA representa cerca de 15 milhões de quilos de uvas, de boa qualidade, sendo que esta se deverá manter.
Castas precoces sofreram mais
Também o director de Enologia da Global Wines, Paulo Prior, está muito confiante na qualidade dos vinhos produzidos no Dão, concretamente dos vinhos Casa de Santar e Paço dos Cunhas. As vindimas já começaram na Casa de Santar, com a colheita de uvas brancas e uvas rosés.
"Na Casa de Santar só comercializamos vinhos provenientes de uvas da nossa exploração. Temos 103 hectares de vinha em que cerca de 70% são tintos e 30% brancos", contou. As suas previsões de quebra de produção comparativamente ao ano passado aproximam-se das avançadas pelo IVV: "uma quebra de 15% em relação aos tintos e de cerca de 8% em relação aos brancos".
"Neste momento só podemos falar pela Casa de Santar porque as vindimas já se iniciaram lá", referiu Paulo Prior, acrescentando que na Casa de Santar, no ano passado, foram colhidas 950 toneladas de uva.
Por aquilo que se tem apercebido nos controlos de maturação e durante as visitas à vinha, "será um ano fabuloso" de vinho, uma vez que "os mostos têm um potencial aromático extremamente elevado e são equilibrados em termos de composição físico-química".
Na Casa de Santar, há ainda a particularidade de, como os cachos brancos são vindimados durante a noite, a uma temperatura de 10,5/11 graus, "não existe dissolução de oxigénio e os mostos não ficam oxidados". "Queremos fazer o melhor produto para o cliente", sublinhou.
O enólogo explica que a quebra de produção tem que "ver com temperaturas baixas na semana seguinte à floração" e que "castas mais tardias não tiveram esse problema de vingamento".
"Esperamos uma produção de excelente qualidade. Os mostos dos vinhos da Casa de Santar são diferenciados e estamos extremamente confiantes num ano vitícola com potencial qualitativo enorme", realçou.