Raimundo põe pressão sobre OE e pede “responsabilidades sem jogos” nem “manobras”
O líder do PCP acusou o PS de se preparar para “a partir de serviços mínimos, a que chama linhas vermelhas”, “justificar a viabilização da política em curso”.
Com críticas a um PS que pede "serviços mínimos" e a um Governo "apostado na propaganda", Paulo Raimundo usou a Festa do Avante! para pressionar os partidos de direita e os socialistas a responderem "ao país real" no Orçamento do Estado: "Que cada um assuma responsabilidades sem jogos de sombras e sem manobras”, pediu, avisando, em particular, o PS que "não se pode ficar em cima do muro".
Das “lebres de corrida das velhas receitas saudosistas e reaccionárias”, em que inclui o Chega e a IL, a um Governo que dá “lustro à agenda de interesses do capital”, passando por um PS que “escancarou as portas” ao “rumo desastroso” do país, ninguém escapou às críticas de Paulo Raimundo, durante o discurso de encerramento da rentrée do partido.
Mas foi ao PS que o líder dos comunistas deixou o primeiro aviso. Falando para uma plateia cheia de bandeiras do PCP, Raimundo defendeu que o partido de Pedro Nuno Santos “se prepara agora, a partir de serviços mínimos, a que chama linhas vermelhas, para justificar a viabilização da política em curso”, numa referência ao facto de o líder do PS ter colocado como condições que o documento não inclua a descida do IRC e o IRS Jovem. E advertiu que, perante o "projecto" do Governo, "não se pode ficar em cima do muro". "Ou se está com os que querem aprofundar a política de direita" ou com "as forças de Abril e da Constituição”.
Fazendo equivalências entre PSD e PS, que acusa de estarem “vergados às ordens da UE” ou aos “interesses dos grupos económicos”, o comunista acusou também o Governo de estar a pôr em prática uma “agenda de exploração, destruição dos serviços públicos e alienação dos interesses nacionais”. E deixou igualmente um aviso: “Ou se governa para a maioria ou se está ao serviço de uma minoria”, algo que apelou que a seja já esclarecido no Orçamento do Estado.
O secretário-geral do PCP rejeitou a “chantagem da instabilidade política”, defendendo que a “verdadeira instabilidade é a da vida das pessoas”. E criticou a direita e o PS por falarem do “Orçamento como se não existisse um país real”. “Falam de referendos, linhas vermelhas, ultimatos e afins, quando o que se impõe é responder, e já”, aos problemas da saúde, trabalhadores e reformados, habitação, crianças, estudantes ou imigrantes.
“É a vida real que precisa de estabilidade, que não terá mais uma vez resposta no Orçamento de Estado de um Governo apostado na propaganda e na ilusão”, argumentou, apelando a que “cada um assuma as suas responsabilidades sem jogos de sombras e sem manobras”.
Do lado do PCP, defendeu uma série de medidas para mostrar que “há resposta para os problemas nacionais”, como 100 mil novas vagas e uma rede pública de creches gratuitas, a valorização dos profissionais de saúde, o fim das privatizações — como a da TAP, que diz ser "um crime económico" — ou 1% do PIB para habitação pública. E anunciou que o PCP vai lançar uma "campanha nacional para colocar os salários no centro do debate político".
Raimundo garantiu ainda que vai "confrontar o Governo na Assembleia da República" com a situação na educação e insistir numa comissão de inquérito à privatização da ANA.
"Palestina vencerá"
A política internacional não ficou de fora e, aí, a Palestina foi a protagonista. O líder do PCP começou por saudar o “corajoso povo palestiniano” e vincou a “solidariedade” do PCP “para com a sua luta libertadora”, o que levantou palmas e gritos da plateia: “Palestina vencerá”, ouviu-se em uníssono.
Lado a lado com os dirigentes da festa, do PCP e da JCP, Paulo Raimundo acusou Israel de estar a cometer um "genocídio" contra a Palestina, "com o apoio dos Estados Unidos da América e da União Europeia", que criticou por não terem "uma iniciativa" para exigir o cessar-fogo ou o reconhecimento da Palestina. "São hipócritas, cúmplices e promotores do massacre em curso e, mais cedo ou mais tarde, vão ter de responder por isso", alertou, lembrando também como o Governo português "teima em não reconhecer" o Estado palestiniano.
As restantes menções foram para a China, que inclui nos "exemplos de resistência e processos de mudança" que "põem em causa a “ordem imperialista”, e para Cuba, Venezuela e o povo sarauí, que diz serem mostras de “resistência heróica e um factor de esperança e confiança”.
Já os EUA, vaiados em todas as ocasiões, mereceram acusações de "recorrer ao seu braço armado, a NATO" e ao "fascismo para intensificar as provocações, chantagens, sanções, bloqueios, ingerências, golpes e guerras”. Tal como a UE foi acusada de "abandonar" os refugiados no Mediterrâneo e de estar "cada vez mais às ordens dos EUA" ou "ao serviço dos interesses económicos e do militarismo".