Afinal, os cães de raças cruzadas não são mais saudáveis do que os de raça pura, diz estudo

Após analisarem as respostas de mais de 9 mil donos de caniches de raças híbridas e puras, os autores do estudo concluíram que nenhum era mais saudável ou tinha menos problemas de saúde.

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Cães de raças cruzada não são mais saudáveis do que os de raça pura, diz estudo Mia Anderson/Unsplash,Mia Anderson/Unsplash
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Labradoodles, puggles, dorgis, cavoodles, cavapoos: seja qual for o nome que lhes deram não há como escapar à explosão das raças cruzadas que, actualmente, andam pelas ruas e nos parques para cães.

As pessoas aderiram a estes tipos de cães porque os problemas de saúde associados às raças puras (ou de pedigree) se tornaram mais conhecidos. A teoria diz que, os cães que surgiram do cruzamento de raças são geneticamente mais diversificados e têm menos probabilidades de sofrer os problemas de saúde que afectam os de raça pura.

Mas será que os chamados "designer dogs" (raças de cães híbridos, em tradução livre), são mais saudáveis do que as de raça pura?

Foi a esta pergunta que os investigadores da universidade Royal Veterinary College, no Reino Unido, se propuseram responder num novo artigo publicado recentemente.

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Labradoodles, spoodles e cavapoos são algumas das raças "designer dogs" Janosch Diggelmann/Unsplash

O estudo centrou-se em três cruzamentos comuns de caniches: os cockapoos, que resultam do cruzamento entre um cocker spaniel e um poodle, os labradoodles, mistura entre labrador e poodle; e cavapoos, reprodução entre um cavalier king charles spaniel e poodle, e concluiu que não eram mais nem menos saudáveis do que os homólogos de raça pura. Os investigadores esperam que as conclusões ajudem os donos a tomar decisões mais informadas e baseadas em provas quando escolherem o próximo cão.

Raças híbridas de cães

Apesar de a maioria dos cães de hoje em dia não ter nascido sob o controlo humano, as pessoas criaram mais de 400 raças de cães em cerca de 200 anos, cada uma com um aspecto e temperamento próprio.

Algumas das raças populares, como o golden retriever, surgem do cruzamento de raças. No entanto, muitos são “cães de raça pura” criados a partir de um conjunto genético limitado. Os defensores desta raça de cães acreditam que é mais fácil prever a saúde, o comportamento e a aparência dos animais. Além disto, muitos registos de pedigree já não permitem a inclusão de cães nascidos de cruzamento de raças.

No entanto, ao longo do tempo, esta falta de diversidade genética entre os cães de raça pura conduziu a formas corporais extremas e a graves problemas de bem-estar para muitos animais. Para ultrapassar estes problemas, alguns criadores recorreram ao out-crossing: o cruzamento deliberado de dois cães de raças diferentes.

O objectivo desta prática é diminuir os problemas físicos ou comportamentais herdados, produzindo crias mais saudáveis. Os criadores pretendem ainda que a descendência se revele mais robusta do que a dos progenitores, qualidade também conhecida como “vigor híbrido”.

Este facto conduziu a um aumento dos “designer dogs”, em particular dos caniches que foram cruzados com outras raças, tais como o cavalier king charles spaniel, conhecido como cavoodle ou cavapoo; o cocker spaniel, também apelidado de spoodle ou cockapoo e o labrador retriever-cross, conhecido como labradoodle. Estes cruzamentos foram originalmente criados por um australiano que pretendia criar um cão-guia adequado para pessoas com alergias conseguindo assim o pêlo hipoalergénico de um caniche e capacidade de treino e temperamento de um labrador.

Têm muitos problemas de saúde?

A investigação do Royal Veterinary College contou com cerca de 9400 pessoas que responderam a um inquérito. Algumas tinham um cão resultante do cruzamento de raças como um cockapoo, um cavapoo ou um labradoodle. Outras possuíam uma das raças puras “progenitoras” ou que estão na origem das anteriores — um cavalier king charles spaniel, um cocker spaniel, um labrador retriever ou um poodle. Todos os cães tinham menos de 5 anos.

Os autores testaram o pressuposto de que os cruzamentos de raças de cães híbridos têm menos hipóteses de sofrer de doenças comuns em comparação com as raças que lhes deram origem. Compararam as probabilidades das 57 doenças mais comuns nos três cruzamentos de "designer dogs" com cada uma das raças fundadoras. No total, foram feitas 342 comparações. Os problemas de saúde mais comuns incluíam infecções dos olhos e dos ouvidos, diarreia e rupturas de ligamentos.

E os resultados? Os cães cruzados com os poodles e os cães de raça fundadora semelhantes a estes partilharam resultados de saúde em 87% das vezes.

Os cães de cruzamento de raças tinham mais probabilidades de sofrer um pequeno número de perturbações (7%). No entanto, tinham menos probabilidades de sofrer um pequeno número (6%) de outras patologias.

De um modo geral, o estudo não reuniu provas convincentes de “vigor híbrido” nestes cruzamentos de caniches. Da mesma forma, não conseguiram provas de que os cães de raça pura fossem significativamente mais saudáveis do que os cães que resultam do cruzamento de raças.

O que significa tudo isto?

Os autores concluíram que, tendo em conta os resultados, quem pretende saber que cão adquirir devem considerar outros factores, como as condições de criação, o temperamento e a saúde dos progenitores do animal.

O estudo centrou-se apenas em cães adultos jovens, uma vez que os benefícios que o cruzamento de raças pode trazer para a saúde só surgem mais tarde na vida do animal. Assim, uma investigação que repita estas questões quando os cães são seniores ajudar-nos-ia a compreender como envelhecem os cães de cruzamento de raças e a identificar os factores de risco para os podermos ajudar a envelhecer bem.

É importante reforçar ainda que a investigação analisou apenas três tipos de cruzamentos de raças, sendo que todos envolviam poodles. Outros cruzamentos de "designer dogs" podem ter melhor saúde do que os cães de raça pura.

Por exemplo, os cães de focinho achatado, como os pugs e os buldogues franceses são susceptíveis de sofrer de falta de ar e de problemas de pele e de olhos. O cruzamento destas raças com outros cães reintroduziria um focinho adequado no seu rosto, trazendo vantagens para a saúde e o bem-estar dos animais.

Quais as origens dos cães?

Tudo isto levanta questões importantes. De onde vêm os animais que nos rodeiam? Como é que são criados? Esta informação é transparente? Estamos de acordo com as actuais práticas de criação? E se não, o que é que tem de mudar?

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Cruzar cães de focinho achatado com outras raças reintroduziria um focinho adequado ao rosto do animal JC Gellidon/Unsplash

É lógico que quando procuramos o companheiro canino perfeito queremos um que seja saudável e tenha uma vida longa vida e feliz connosco.

Estes atributos são bons para o cão e também são bons para os tutores. Um animal saudável significa menos despesas de veterinário. Uma vida mais longa equivale a mais tempo partilhado com os donos, e viver feliz ao lado destes traduz-se em menos stress e numa melhor qualidade de vida para todos em casa. Assim sendo, como é que encontramos este tipo de cão?

Alguns países europeus exigem que os cães cumpram requisitos físicos, genéticos e comportamentais rigorosos antes de serem registados e utilizados para reprodução. Isto requer um regime de licenciamento consistente a nível nacional e uma fiscalização com bons recursos. Na Austrália, por exemplo, estes requisitos não existem.

Em última análise, quem controla se os cães são saudáveis, vivem mais anos e são felizes somos nós. Os criadores decidem quais os cães a cruzar e quem gosta de animais decide qual quer levar para casa. E quando votamos, ajudamos a decidir como os governos regulam a indústria da criação.

Para o bem dos nossos amigos caninos, é bom que façamos uma boa escolha.


Exclusivo P3/The Conversation
Mia Cobb é investigadora na Universidade de Melbourne, na Austrália

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