Os aumentos dos preços das casas vêm sendo notícia há algum tempo, em diversos meios de comunicação. Já em Maio – na sequência do anúncio das medidas do pacote de habitação do Governo – escrevi a respeito, evidenciado que o problema da habitação exige soluções muito mais ambiciosas do que a mera descida de impostos.
Se eu – jovem provinciano e sem qualquer conhecimento no sector imobiliário – consegui, sem muito esforço, lograr tal conclusão, surpreendido e entristecido me mostro quando reparo que os nossos governantes não são capazes de entender algo tão simples.
A carência de aptidão para o diagnóstico justifica-se pela falta de experiência no assunto, que resulta do facto de a classe política na sua generalidade não viver nem passar grandes dificuldades no que toca à habitação.
Em sentido contrário, as centenas de milhares de jovens portugueses obrigados a procurar uma carreira profissional fora da sua área de residência e longe das respectivas famílias têm pleno conhecimento das contrariedades que surgem quando se tenta arrendar um espaço nas áreas metropolitanas do país.
Longe vai o tempo em que o jovem médio português podia ambicionar ter ou arrendar uma habitação. Hoje em dia, terá de se contentar com o espaço que conseguir alcançar antes de qualquer outro concorrente e tentar preservá-lo quase eternamente.
A grande razão apresentada para justificar os preços que se praticam actualmente é a grande procura e a fraca oferta disponibilizada. Assim, revelam-se pouco inteligentes e eficazes as medidas que concedem maior facilidade de aquisição de imóveis.
Este tipo de medidas tem como consequência apenas a redução da oferta e o aumento dos preços. Ou seja, a bom rigor, as medidas implementadas permitem que os jovens – que outrora não tinham poder de compra – procedam agora à compra e se prendam perpetuamente a um crédito por uma habitação duplamente inflacionada.
Infelizmente, ainda são alguns os jovens que, na miragem de construírem uma grande carreira, atrasam a sua emancipação para viverem num quarto nas periferias das grandes cidades, não tendo sequer, dada a exigência do quotidiano laboral, oportunidade para aproveitar o enriquecimento cultural que a cidade possibilita.
A solução? O interior.
Ao contrário do que se julga, o interior do país – com particular ênfase para a região transmontana e duriense, onde vivo – não se resume a pedras e montes.
O incentivo ao teletrabalho, fomentando a ideia de os jovens viverem no interior do país enquanto continuam a trabalhar para empresas de grandes cidades, serve a descentralização do mercado de trabalho e consequentemente limita a elevada procura de casas no litoral e as nefastas consequências.
Ao mesmo tempo, deve apostar-se no efectivo benefício fiscal para quem empreende e cria emprego no interior, sendo para o efeito determinante que se fiscalize a presença territorial das empresas e não somente o local onde registam a correspondente sede social.
Conjuntamente, é igualmente necessária a aposta na melhoria da rede de transportes públicos de modo a que se permita a prática, rápida e barata deslocação dos habitantes entre as vilas e cidades da área de residência.
Neste domínio a esfera governativa tem indispensável participação, devendo exemplificar a descentralização do mercado de trabalho com a implementação do teletrabalho em diversos ramos da administração pública, promover um pacote excepcional de consideráveis benefícios fiscais para as entidades que fomentem o emprego no interior, operar a competente supervisão e melhorar a acessibilidade, portando o espírito citadino e facilitando amplas deslocações sem necessidade de viatura própria.
Vivemos num país díspar, com o interior a reclamar por jovens e as áreas urbanas a desesperar por espaço e casas. O produto desta premissa encontra-se ao alcance de qualquer mente, não devendo os senhores do poder decisório ser alheios a esta equação.