Operação Vórtex: empresário diz que afinal não fez uma das três entregas de dinheiro a autarca

Julgamento do processo Vórtex está no segundo dia. Juízes continuam a inquirir Francisco Pessegueiro, um dos alegados corruptores de dois presidentes da câmara de Espinho.

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Miguel Reis renunciou ao cargo de presidente da câmara depois de ter sido detido na Operação Vórtex ESTELA SILVA / LUSA
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Francisco Pessegueiro, um dos 13 arguidos do processo Vórtex, disse esta sexta-feira, na segunda sessão de julgamento em Espinho, que, afinal, não fez um dos três pagamentos em dinheiro vivo ao então presidente da câmara daquela cidade, Miguel Reis, que estão relatados na acusação. O empresário não precisou, porém, se se referia a uma das duas entregas de cinco mil euros ou à de 50 mil euros.

Pessegueiro, o primeiro arguido a ser interrogado e que continua a ser ouvido no segundo dia do julgamento, respondeu assim a uma pergunta que lhe foi feita pelo advogado de Miguel Reis, Nuno Brandão. A questão surgiu após o arguido ter admitido que, por vezes, floreava algumas conversas que tinha com os pais, tendo o defensor pedido ao empresário para esclarecer o que era verdade e o que era mentira.

Francisco Pessegueiro não explicou mais nada sobre este assunto, prometendo voltar a este ponto mais tarde. O juiz presidente, Carlos Azevedo, que tem tentado conduzir o depoimento com uma determinada ordem, não deixou o empresário que geria uma imobiliária da família, a Construções Pessegueiro, falar das partes que envolvem Miguel Reis. Essa matéria só começou a ser escalpelizada perto das 16h, com a descrição da forma como o empresário conheceu o arquitecto que foi eleito em Setembro de 2021, nas listas do PS, presidente do município de Espinho, tomando um lugar antes ocupado pelo social-democrata Joaquim Pinto Moreira.

À saída do tribunal, após a sessão da manhã, Miguel Reis quis prestar declarações aos jornalistas que o questionaram sobre se tinha sido protegido por Pessegueiro: “Não fui protegido, foi a verdade.” E acrescentou: “Há um facto gravíssimo, quando entraram em minha casa à procura de 50 mil euros e disseram à minha mulher e ao meu filho que me viram a receber este dinheiro. Espero que não volte a acontecer a ninguém, a nenhum autarca e a nenhum português.” O ex-autarca ignorou, contudo, que o empresário apenas negou um dos três pagamentos descritos pelo Ministério Público.

Miguel Reis, que foi detido em Janeiro do ano passado e chegou a estar preso preventivamente, está acusado de quatro crimes de corrupção (um dos quais agravado) e cinco de prevaricação. Já a Francisco Pessegueiro o Ministério Público imputa oito crimes de corrupção (três dos quais agravados), cinco de prevaricação, dois de violação de regras urbanísticas e um de tráfico de influências. Pinto Moreira está a ser julgado por um crime de tráfico de influências na qualidade de parlamentar, além de dois crimes de corrupção agravada e um de violação de regras urbanísticas enquanto autarca.

Não é a primeira vez que Francisco Pessegueiro entra em contradição com declarações que fez anteriormente, tendo esta quinta-feira um dos advogados de um dos outros arguidos tentado confrontar o empresário com a versão que tinha dado durante o inquérito. O colectivo de juízes não autorizou o confronto, sustentando que para tal seria necessário que fossem ouvidas as gravações desses depoimentos em tribunal e só depois o arguido podia ser questionado.

Esta quinta-feira, à porta do tribunal, o ex-presidente da Câmara de Espinho Pinto Moreira, que foi o antecessor de Miguel Reis na autarquia, garantiu que nunca pediu dinheiro ao empresário para favorecer os seus projectos urbanísticos, ao contrário do que afirmou Pessegueiro perante o colectivo de juízes. Pinto Moreira notou ainda que durante a investigação o empresário disse que lhe tinha entregado dinheiro, uma versão que negou esta quinta-feira.

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