“Chega de machos alfas dizendo o que as mulheres devem fazer”, diz empresária

Clube reúne 300 empresárias que falam português em 18 países para fazer negócios. Elas internacionalizam suas empresas e veem o faturamento crescer. A primeira liberdade das mulheres é financeira.

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Rijarda Aristóteles, presidente do Clube Mulheres de Negócios, afirma que empresárias assumiram protagonismo nos mercados em que atuam Vicente Nunes
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Com a empresária cearense Rijarda Aristóteles não há tempo ruim. Muito menos espaço para vitimismo por parte das mulheres e misoginia vinda de machos alfas que se acham uma raça superior. Fundadora e presidente do Clube das Mulheres de Negócios em Portugal, ela arregimentou 300 empresárias, todas com mais de 40 anos, que estão espalhadas por várias partes do mundo e que criaram uma rede por meio da qual transacionam o que produzem, como sucos, cachaças, roupas, alimentos, móveis, além de variados serviços. “A nossa linguagem é uma só: fazer negócios. E isso tem sido tão bem compreendido pelas participantes do grupo, que suas empresas têm dado importantes saltos em termos de faturamento e sustentabilidade”, afirma.

Foi preciso percorrer uma longa jornada para que o clube se consolidasse. “Num primeiro momento, juntamos mulheres, a maioria, brasileiras, que estavam em Portugal na academia, cursando mestrados e doutorados. E levei um susto. Eram mulheres que, nos países delas, tinham conquistado espaços importantes em suas profissões, mas, em Portugal, aceitavam papéis de coadjuvantes, quando muito”, relata Rijarda. Incomodada, ela decidiu dar uma virada no jogo. “Houve muita conversa para a elevação da autoestima. Todas foram estimuladas a criar redes de relações e a buscar oportunidades que realmente condissessem com elas”, diz.

Os resultados, acredita Rijarda, foram muito bons. Mas era preciso transformar aquela união de mulheres em algo que trouxesse retorno financeiro. “Estamos falando de pessoas muito qualificadas”, reforça. Como em todo processo, houve uma seleção natural do grupo, que acabou migrando muito para a área de negócios. Pouco antes da pandemia do novo coronavírus, a empresária decidiu pôr fim à parceria. “Estava cansada, dando aulas em duas universidades”, conta. “Com a pandemia, no entanto, pensei: as mulheres serão as mais prejudicas pelo lockdown, pela paralisia da economia. Não só mantive o grupo, como houve uma transformação no perfil dele, que ficou muito mais empresarial”, acrescenta.

Nasceu, então, o Clube Mulheres de Negócios em Língua Portuguesa, com a missão de unir empresárias que falam português em todas as partes do planeta. “Quatro anos depois, estamos presentes em 18 países, como Brasil, Angola, Moçambique, Canadá, Itália e França. São mulheres fazendo negócios entre elas, sem intermediários”, destaca a cearense. “A nossa missão, agora, é transformar o português em uma língua internacional de negócios. No Brasil, temos mulheres empreendedoras extraordinárias, com as empresas funcionando muito bem, mas que não conseguem internacionalizar seus negócios porque não falam outro idioma. Por meio do clube, nas duas pontas de negócios, sempre tem alguém falando português, independentemente do lugar que a pessoa esteja”, frisa.

Todo mundo ganha

Para Rijarda, o clube é apenas um instrumento para que as mulheres possam romper as barreiras do machismo que imperam no mundo empresarial. “Esse modelo de macho alfa já provou que não tem futuro. Chega deles dizendo o que temos de fazer. São 10 mil anos que nos colocaram dentro de um cercadinho para sermos apenas seres reprodutivos. Temos muito mais a contribuir para a sociedade. Toda mudança para melhor passará por nós, mulheres”, assinala.

Ela acredita que esse movimento não tem mais volta, pois é calcado no conhecimento. “Hoje, as mulheres estão estudando mais, graduando mais, fazendo mestrados e doutorados e tendo dinheiro para pagar pelas escolhas delas. Enfim, todo mundo ganha com o protagonismo das mulheres”, complementa.

Segundo a empresária, das integrantes do clube, a maioria está no Brasil e em Portugal. “Mas temos representações muito fortes no México, no Canadá, no Reino Unido e na França”, afirma. Ela ressalta que, antes dessa união, era visível que as mulheres não tinham muita experiência nas comunidades de negócios. “Depois do clube, não só ampliaram as operações em seus países de origem, como levaram seus produtos e serviços para outros locais. Foi uma revolução”, comenta. Há empresárias da área de tecnologia da informação, do ramo imobiliário, de energias renováveis, do sistema financeiro, do setor de saúde. “Estamos em todos os segmentos. O machismo não nos intimida mais”, enfatiza.

Essa união foi importante também, na avaliação da presidente do Clube Mulheres de Negócios, para quebrar preconceitos, sobretudo, em relação às mulheres brasileiras. “Por meio do nosso trabalho, conseguimos desmistificar muita coisa. Não só. Mostramos que, quando se sai do vitimismo, todas podem construir negócios juntas. Tudo começou com uma frase que usei muito: a primeira liberdade da mulher é a financeira”, diz. Para incrementar as atividades do clube foram feitas parcerias com embaixadas, associações empresariais e com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Rijarda lembra que, entre as estratégias do clube, está a realização de seminários anuais, que se transformam em centros de negócios. No evento de 2023, realizado no Ceará, 90% das participantes fecharam parcerias e 33% realizaram vendas efetivas. Neste ano, no encontro em Portugal, 45% das empresárias firmaram acordos e 58% contabilizaram vendas. Ano que vem, o encontro está marcado para São Paulo, de 12 a 13 de março. “Mais: montamos um centro operacional em Lisboa em que as empresárias de todo o mundo podem transformar em um escritório para realizar negócios. Conosco, nenhuma mulher de negócios fica desgarrada”, afirma.

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