Dominado incêndio em Arcos de Valdevez
O vento forte dificulta o combate ao incêndio em Arcos de Valdevez, que mobiliza centenas de operacionais. Presidente da Câmara pede reforço de policiamento para travar fogos de “origem criminosa”.
Foi dado como dominado, por volta das 22h30 de quarta-feira, o incêndio que mais de 200 operacionais estão combater no concelho de Arcos de Valdevez, distrito de Viana do Castelo, que deflagrou na noite de terça-feira em São Jorge e Ermelo e já consumiu mais de 900 hectares de mato. O vento tem dificultado os trabalhos, segundo o comandante do Comando Sub-regional do Alto Minho, Carlos Pereira, em declarações à Lusa.
Até agora não há registo de feridos ou danos devido aos fogos, nem aldeias em perigo, acrescentou fonte do Comando Sub-Regional do Alto Minho.
O presidente da Câmara Municipal de Arcos de Valdevez pediu esta quarta-feira ao secretário de Estado da Protecção Civil o "reforço de policiamento e investigação" para travar os fogos com "origem criminosa" que têm assolado o concelho.
"Tudo indica que é fogo intencional e de origem criminosa pelas circunstâncias em que ocorreu, a hora a que ocorreu, a forma como o fogo evoluiu. A informação que me vão dando é que será essa a origem deste e de muitos outros. Temos de ter uma acção concertada de forma que se consiga travar estas pessoas que têm intenções que são efectivamente criminosas", afirmou à agência Lusa João Manuel Esteves.
"O presidente da República também ligou hoje para se inteirar do incêndio e alertei para a necessidade de ser reforçado o policiamento e a investigação", acrescentou o autarca.
"Temos tentado resolver os problemas, mas há um número muito elevado de incêndios. A esmagadora maioria, segundo o sentimento geral, tem origem criminosa. Isto esgota os meios, desanima as pessoas e é um combate desigual. Fazem-se todos os esforços, as pessoas passam horas atrás dos incêndios e, de repente, surge mais um e, a seguir outro noutro lado", reforçou.
O incêndio começou por ter dois focos, de acordo com o site da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) — um em Ermelo, de maiores dimensões, e outro em Lugar da Portela. Esta manhã, todos os esforços se concentravam apenas no incêndio em Ermelo. Às 19h10 de quarta-feira, o incêndio mobilizava 229 operacionais, apoiados por 70 viaturas e quatro aeronaves.
O alerta para o incêndio em Arcos de Valdevez chegou às 20h21 de terça-feira, com um segundo alerta a surgir por volta das 00h50 para um novo foco de incêndio, entretanto dado como concluído.
Existiam outros dois fogos activos no distrito de Viana do Castelo ao final da tarde desta quarta-feira, ambos a lavrar em zonas de mato desde as 12h: em Ponte de Lima, mobilizando 95 operacionais e 30 viaturas; e em Ponte da Barca, com 31 operacionais e dez viaturas.
"Falhas graves"
O presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez disse esta quarta-feira que o elevado número de incêndios registados todos os anos são "uma falha grave" que merece "reflexão por todos os que constituem a Protecção Civil". "Ano após ano, Arcos de Valdevez continua a ser destacadamente o concelho com o maior número de incêndios a nível nacional. É raro falhar a medalha de ouro nesta trágica estatística. Há assim uma falha grave que tem de ser objecto de reflexão por todos os que constituem a Protecção Civil, principalmente a nível municipal", afirma Germano Amorim, citado numa nota enviada à imprensa.
Segundo o responsável, "não é tolerável que se se aceite esta realidade como normal e sem que essencialmente se lance um debate alargado entre todos os que constituem este complexo edifício". "Não é igualmente aceitável que se continue a aceitar que o nível de investimento público seja tão escasso em matéria de combate, já que a prevenção e a organização territorial são evidentemente uma falha terrível", acrescente.
Germano Amorim defende um "reforço significativo do financiamento, a montante e a jusante, em Arcos de Valdevez, que se encontra em pleno Parque Nacional Peneda Gerês (PNPG)".
"Cada vez que ocorre um incêndio estão em risco a integridade das pessoas, seus animais e bens. Está em causa a natureza, a biodiversidade, o bem-estar das populações, a sua riqueza, a sua economia, o turismo, entre outros. Quem quer continuar a tapar o sol com a peneira que o faça, que em dias de fogo, torna-se bastante mais fácil", avançou.
Como exemplo apontou o cenário que esta quarta-feira se vive no concelho "com 222 operacionais de vários pontos do país, 46 viaturas e apoio de oito aeronaves a proceder ao combate a vários incêndios que lavram essencialmente a zona da União de Freguesias de São Jorge e Ermelo e que, possivelmente, afectará também a freguesia do Vale, sendo que outro incêndio em Guilhadeses deflagrou recentemente".
Perigo máximo de incêndio em mais de 30 concelhos de seis distritos
Mais de 30 concelhos dos distritos de Portalegre, Santarém, Castelo Branco, Coimbra, Guarda e Bragança estão esta quarta-feira em perigo máximo de incêndio rural, dia em que se prevê uma subida de temperatura, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Vários concelhos de todos os distritos de Portugal continental apresentam esta quarta-feira um perigo muito elevado e elevado de incêndio. Este risco, determinado pelo IPMA, tem cinco níveis, que vão de reduzido a máximo. Os cálculos são obtidos a partir da temperatura do ar, humidade relativa, velocidade do vento e quantidade de precipitação nas últimas 24 horas.
O IPMA prevê céu pouco nublado ou limpo em Portugal continental esta quarta-feira, vento fraco a moderado do quadrante Norte — soprando por vezes forte na faixa costeira Ocidental e nas terras altas, com rajadas até 60 quilómetros por hora — e subida de temperatura, em especial da máxima e na região Sul. As temperaturas mínimas vão oscilar entre os 12ºC (em Coimbra) e os 16ºC (em Lisboa, Setúbal e Faro) e as máximas entre os 22ºC (em Aveiro) e os 31ºC (em Castelo Branco).