Piloto diz que acidente fatal ocorreu após se desviar de ave de médio porte

Relatório preliminar do GPIAAF apurou que a aeronave colidiu com a superfície da água com uma velocidade em torno dos 185 km/h “por motivos a determinar”.

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Helicóptero colidiu com a superfície da água com uma velocidade em torno dos 185 km/h “por motivos a determinar” PAULA LIMA / EPA
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O piloto do helicóptero de combate a incêndios que se despenhou no rio Douro na passada sexta-feira diz que o acidente que vitimou mortalmente cinco militares da GNR ocorreu após ter sido obrigado a desviar-se de uma ave de médio porte que se encontrava na trajectória da aeronave. Isso mesmo é referido no relatório preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários (GPIAAF), divulgado nesta terça-feira à tarde.

Segundo a descrição feita no documento, o acidente ocorreu às 11h32 em Cambres, Lamego, no voo de regresso à base de Armamar, de onde o helicóptero tinha saído 19 minutos antes, já após a aeronave ter iniciado a descida com vista à aterragem.

“No decurso dessa descida, segundo as declarações do piloto, este terá observado uma ave de médio porte à mesma altitude e na trajectória do helicóptero, que o obrigou a executar um desvio à direita, retomando a rota logo de seguida”, lê-se na nota informativa.

A aeronave, contudo, colidiu com a superfície da água com uma velocidade em torno dos 185 km/hora “por motivos a determinar”. Os técnicos do GPIAAF referem que “dos dados recolhidos até ao momento não foi possível determinar de forma independente o ponto de execução dessa manobra”, que terá estado na origem do acidente. “As evidências sugerem que o motor da aeronave estava a produzir potência no momento da colisão”, afirmam os especialistas.

Sobre o embate, o relatório dá conta de que o piloto e o ocupante que seguia na outra cadeira do cockpit foram projectados para fora da aeronave. "Da violenta colisão com a água, o helicóptero sofreu uma deformação da cabine incompatível com a sobrevivência dos seus ocupantes. A integridade estrutural ficou comprometida, libertando parte dos elementos de revestimento em material compósito", lê-se no documento, que classifica o piloto como um ferido grave.

A nota dá conta de que os componentes de baixa densidade ficaram à superfície da água, enquanto os restantes destroços assentaram no leito do rio entre quatro e seis metros de profundidade, numa área de aproximadamente 3600 metros quadrados. “À data da publicação da nota informativa, estão ainda por recolher do rio componentes do painel de instrumentos da aeronave, por dificuldades na sua localização”, refere o GPIAAF.

Sobre o aparelho, um Ecureuil AS350 B3+ operado pela HTA Helicópteros, o gabinete de investigação de acidentes constata que “estava autorizado a voar de acordo com os regulamentos em vigor”, concluindo ainda que “o piloto estava devidamente autorizado e certificado para realizar o voo”. Também o tempo não parece ter sido um problema. “A meteorologia para a área estava propícia à realização do voo descrito, apresentando céu com algumas nuvens, o vento de norte com fraca intensidade e uma temperatura em torno dos 26ºC”, descreve-se.​

Os cinco elementos da brigada helitransportada da Unidade de Emergência de Protecção e Socorro (UEPS) da GNR tinham sido accionados às 11h13 para combater um incêndio na zona de Baião, no distrito do Porto. “Ao sobrevoarem a localidade de Fojo, Baião, após avaliação do cenário pelo chefe de equipa da UEPS a bordo, às 11h30 foi decidido o regresso da aeronave à sua base por não se justificar o emprego dos meios num incêndio com o perímetro já circunscrito”, relata-se no documento.

Especificando os pontos sobre os quais se irá debruçar na investigação, o GPIAAF enumera: “planeamento e procedimentos operacionais do voo do evento e respectiva missão de combate a incêndios rurais”; “análise dos componentes críticos da aeronave”; “projecto, limitações e funcionamento da aeronave e dos seus sistemas”; “treino, preparação e experiência do piloto para realizar a missão, bem como os factores humanos envolvidos”, “dinâmica do voo para avaliar as condições da colisão” e “aspectos de sobrevivência”.​

Não há uma data prevista para a conclusão da investigação, mas o gabinete informa que, segundo a lei, "se não for possível publicar o relatório final no prazo de 12 meses após o evento, será apresentado um relatório intercalar pelo menos em cada data de aniversário, descrevendo os progressos da investigação e os problemas de segurança eventualmente encontrados".

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