No primeiro dia da visita à Indonésia, Papa Francisco avisa contra extremismo religioso

Num discurso na capital do país com mais muçulmanos no mundo, Francisco alertou para a manipulação da religião, para o ódio e para o extremismo.

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Francisco iniciou na Indonésia uma viagem de nove dias ao Sudeste Asiático TATAN SYUFLANA / POOL / EPA
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O Papa Francisco pediu nesta quarta-feira aos líderes políticos da Indonésia, o país de maioria muçulmana com maior população no mundo, que se protejam contra o extremismo religioso, que, segundo ele, distorce as crenças das pessoas por meio de "engano e violência".

No primeiro dia da viagem mais longa do Papa ao estrangeiro, que inclui nove dias no Sudeste Asiático onde os cristãos são uma pequena minoria, o pontífice encontrou-se com católicos locais e pediu-lhes para não imporem a sua fé aos outros.

Num discurso dirigido aos líderes políticos indonésios, Francisco disse que a Igreja Católica iria aumentar os seus esforços no sentido do diálogo inter-religioso, na esperança de ajudar a travar o extremismo.

"Desta forma, os preconceitos podem ser eliminados e um clima de respeito mútuo e confiança pode crescer", afirmou o Papa num discurso no palácio presidencial de Jacarta.

"Isto é indispensável para enfrentar os desafios comuns, incluindo o combate ao extremismo e à intolerância, que, através da distorção da religião, tentam impor os seus pontos de vista recorrendo ao engano e à violência", disse Francisco.

Cerca de 87% da população indonésia de 280 milhões de habitantes é muçulmana. A liberdade de religião está garantida na Constituição do país.

Embora a Indonésia tenha assistido a alguns casos de violência islamista nos últimos anos, incluindo atentados suicidas em 2021 e 2022 ligados a um grupo inspirado no Daesh, o extremismo religioso tem vindo a diminuir desde uma série de ataques de grande visibilidade há duas décadas, que incluíram o atentado bombista de Bali em 2002, que matou 202 pessoas, incluindo 88 australianos.

O Presidente da Indonésia, Joko Widodo, agradeceu a Francisco os seus apelos ao cessar-fogo na guerra entre Israel e Gaza.

"A Indonésia aprecia a atitude do Vaticano, que continua a exprimir (e a apelar) à paz", afirmou no seu discurso de boas-vindas.

Religião "manipulada" para aumentar o ódio

Francisco foi saudado por uma multidão que agitava pequenas bandeiras do Vaticano e da Indonésia quando o seu carro chegou ao palácio presidencial.

Dorothea Dawai, de 10 anos, estava entre o grupo que recebia o Papa, usando uma kebaya verde, um vestido tradicional indonésio, e disse que esperava pedir uma bênção.

O pontífice, que sofre de dores nos joelhos e nas costas, estava numa cadeira de rodas quando saiu do seu carro e se encontrou com o presidente no exterior do edifício.

Nas suas declarações públicas, Francisco não mencionou nenhum incidente violento específico, mas fez várias referências ao extremismo, à intolerância e à manipulação da religião.

"Há momentos em que a fé em Deus é (...) tristemente manipulada para fomentar divisões e aumentar o ódio, em vez de promover a paz, a comunhão, o diálogo, o respeito, a cooperação e a fraternidade", disse o pontífice.

O ministro dos Negócios Estrangeiros indonésio, Retno Marsudi, contou que Francisco e Widodo não falaram especificamente sobre a guerra em Gaza no seu encontro, mas de uma forma mais geral sobre os conflitos em curso e "a importância da paz".

Seguir ensinamentos da Igreja "não significa impor a nossa fé"

Mais tarde, Francisco encontrou-se com os católicos locais na catedral de Jacarta. Uma multidão entusiasta de centenas de pessoas, incluindo uma criança vestida de Papa, juntou-se no exterior para o ver.

No interior da igreja, as crianças tocavam o angklung, um instrumento tradicional de bambu, enquanto aguardavam a chegada de Francisco.

Sentado no fundo da catedral, sob um tecto de madeira de teca, o Papa ouviu os breves testemunhos de quatro católicos indonésios.

Um deles foi o de uma freira que arrancou um sorriso a Francisco quando lhe pediu para pressionar os funcionários do Vaticano a apressarem as traduções indonésias dos textos católicos.

O Papa salpicou as suas observações preparadas com comentários e piadas improvisadas. Elogiou a diversidade cultural da Indonésia e disse aos católicos que seguir os ensinamentos da Igreja "não significa impor a nossa fé ou colocá-la em oposição à dos outros".

O Papa deixará a Indonésia na sexta-feira antes de se dirigir para a Papua Nova Guiné, depois Timor-Leste e Singapura e terá percorrido cerca de 33.000 km quando regressar a Roma, a 13 de Setembro.

Francisco tem enfatizado o diálogo católico-muçulmano e, em 2019, foi o primeiro papa a visitar a Península Arábica. Na quinta-feira, participará numa reunião inter-religiosa na Mesquita Istiqlal em Jacarta, a maior mesquita do Sudeste da Ásia.