Burnout parental é um estado permanente de exaustão, diz investigadora

“O burnout é diferente do stress, que sempre existiu. A diferença é quando isto se torna crónico e as pessoas não têm recursos para lidar”, define a professora Marisa Matias.

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A investigação sobre o burnout parental é recente Manuel Roberto
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A investigadora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) Marisa Matias defende a necessidade de se detectar precocemente os sinais que provocam o burnout parental e de se reconhecerem os desafios inerentes à parentalidade. “O burnout é um estado extremo. Temos de ver isto como um processo e o que interessa é detectar precocemente os primeiros sinais de exaustão”, declara.

A investigadora e professora da FPCEUP, que falava à agência Lusa no âmbito da 3.ª Conferência Internacional sobre Burnout Parental, que decorre nesta quinta e sexta-feira no Porto, destacou a necessidade de se desmistificar “a visão romântica da parentalidade”.

“Ao falarmos mais sobre o tema, ao mostrarmos que existem momentos particularmente desafiantes na parentalidade, não só tornarmos possível as pessoas procurarem ajuda, como mostramos de forma mais realista que, neste caminho da parentalidade, não são só rosas, também são espinhos”, defende.

Embora a noção de stress parental remonte a 1980, a investigação sobre o burnout parental é relativamente recente, tendo começado há cerca de uma década. O burnout parental é, no entanto, uma condição diferente do stress parental e da depressão, uma vez que resulta do desequilíbrio crónico e resulta num estado permanente de exaustão de pais e mães associado ao cuidado dos filhos.

“O burnout é diferente do stress, que sempre existiu. A diferença é quando isto se torna crónico e as pessoas não têm recursos para lidar. A relevância do tema surge pelas suas consequências. Aquilo que sabemos de forma mais sistemática é que tem efeitos no indivíduo, na parentalidade, nas crianças e nas famílias e já sabemos que existe uma ligação entre o burnout e a negligência às crianças, a violência e o aumento de conflitos entre o casal”, observa Marisa Matias.

É precisamente sobre este tema que dezenas de investigadores se irão debruçar na conferência, que decorrerá na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, alguns dos quais pertencentes ao consórcio International Investigation of Parental Burnout, liderado pelas investigadoras Isabelle Roskam e Moïra Mikolajczak, da Universidade Católica da Lovaina, na Bélgica.

Marisa Matias e o investigador Jorge Gato, também da FPCEUP, integram o respectivo consórcio desde 2018, tendo já desenvolvido algumas investigações sobre o tema, bem como ferramentas de aferição do burnout parental.

Os investigadores portugueses têm-se focado sobretudo no burnout parental em famílias de minorias sexuais, que podem “estar em situação de maior risco e vulnerabilidade”, e nos impactos da cultura e das pressões sociais.

No âmbito deste último tema, a investigadora Marisa Matias recebeu um apoio da Fundação La Caixa, no valor de 115 mil euros, para durante os próximos dois anos aprofundar de que forma os valores, a cultura e diferentes factores influenciam os comportamentos dos indivíduos e das famílias, potenciando o burnout parental.

O projecto, intitulado UpBeaT, será centrado em Portugal e pretende recolher dados de cerca de mil participantes, acompanhando-os ao longo do tempo. “Os estudos demonstram como o burnout parental conduz a um sofrimento significativo tanto dos pais como das crianças, o que torna urgente o desenvolvimento de ferramentas de prevenção e de intervenção nesta área”, salienta a investigadora.

A conferência, que é sobretudo de cariz académico, é organizada pelo Centro de Psicologia da Universidade do Porto (CPUP) e Centro de Investigação e Intervenção Educativas (CIIE).