Jovens empreendedores: famílias inspiram, mas é preciso resiliência até o sucesso

Jovens brasileiros têm empreendido em Portugal. Pais e avós são fontes de inspiração na hora de se ter o próprio negócio. Especialista dá dicas sobre o que fazer para que a frustração não impere.

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O pernambucano Caio Danyagil inaugurou uma filial de sua empresa, a Loc, no Porto e já prevê expansão para Lisboa Arquivo pessoal
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A família de empreendedores foi o grande norte para que o jovem pernambucano Caio Danyagil, 24 anos, se enveredasse para o mundo dos negócios. Desde muito pequeno, ele presenciou os pais, os tios e os primos metidos num corre-corre danado para resolver problemas em suas empresas. Nenhum detalhe daquela movimentação escapava do garoto. Mas nada o encantava mais do que as histórias que ele ouvia sobre os dois avôs, Bino, por parte de mãe, e Ibrahim, do lado do pai. “Eles sempre foram as minhas inspirações”, diz.

Seu Bino era dono de uma distribuidora de alimentos e bebidas no Seridó, no sertão do Rio Grande do Norte. “Ele morreu muito cedo, em um acidente. Mas sempre ouvi falar muito bem dele”, conta o jovem. Já seu Ibrahim nasceu na Turquia, porém, por conta das perseguições contra cristãos ortodoxos naquele país, migrou para o Brasil em busca de uma vida menos sacrificada. Engenheiro mecânico, construiu uma empresa que fabricava máquinas para a indústria e, hoje, atua no ramo de saneamento, mais especificamente, no tratamento de esgoto. “Vejo o empreendedorismo como marca da minha família”, afirma.

Caio cresceu, estudou, formou-se em fotografia, mas sempre sonhou em ter um negócio para chamar de seu. Assim que completou 21 anos, o jovem reuniu um grupo de amigos para abrir uma empresa, a Loc, que tinha como base o aluguel de equipamentos para filmes e sessões fotográficas. Detalhe: todos os produtos que seriam arrendados tinham sido acumulados por ele durante os tempos de faculdade. Com sede em Recife, aos poucos, a empresa foi ganhando musculatura, e profissionais que também tinham equipamentos parados em casa resolveram colocá-los para aluguel. Do outro lado, quem não tinha dinheiro para comprar os materiais para algum trabalho passou a recorrer ao cardápio da Loc.

O jovem, no entanto, tinha um olhar muito voltado para Portugal. Sabia que, em algum momento, cruzaria o Atlântico para fincar a bandeira da empresa que ele havia criado. Coincidentemente, um primo dele, da área da Tecnologia da Informação (TI), foi selecionado em um concurso para instalar uma startup no Fundão, região central do país lusitano. Portanto, já teria uma companhia e um lugar para ficar a fim de sondar o mercado português. No fim de 2022, Caio fez as malas e aventurou-se por Portugal. Para a satisfação dele, encontrou no Porto o local que esperava para implantar a Loc. Depois de mais de um ano para vencer toda a burocracia, finalmente, registrou a empresa.

“A Loc, efetivamente, abriu as portas em março deste ano e, desde então, tem acumulado resultados surpreendentes. A cada mês, dobramos o faturamento”, destaca o jovem. Mas ele levou um susto. “Em agosto, a clientela sumiu. Num primeiro momento, não entedi o que estava acontecendo. Só fiquei mais calmo quando descobri que era o mês de férias em Portugal. A boa notícia é que, da última quinzena de agosto em diante, a normalidade voltou e o faturamento está maior do que em julho”, acrescenta. Com tudo correndo como o esperado, Caio pretende abrir uma filial em Lisboa no próximo ano. A Loc tem três funcionários em Portugal e 10 no Brasil. “Somos uma empresa totalmente online. Tudo se resolve pela Internet”, explica.

Mundo da estética

Filha de uma brasileira com um japonês, Arissa Matsumoto, 24, também se inspirou na família para desenvolver o dom para os negócios. Os pais são donos de uma clínica de bem-estar, com massagens e uma série de terapias orientais que ajudam a manter a saúde equilibrada. “Desde cedo, participei de tudo. Era uma espécie de cobaia para o desenvolvimento de terapias. Como aprendi a falar japonês ainda muito menina, atuava como tradutora para o meu pai e para os clientes”, conta. “Isso me permitiu acumular muitas informações”, emenda.

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Arissa Matsumoto diz ter se inspirado na mãe, a brasileira Vanessa, que nasceu em Brasília e tem um spa Arquivo pessoal

Aos 20 anos, já com uma boa experiência no ramo e ávida para dar os próprios passos, Arissa convenceu os pais de que tinha chegado a hora de ela montar um centro de estética que fosse dela. E não houve nenhuma objeção. Muito pelo contrário, a jovem recebeu todo o apoio necessário para seguir com seus planos. “Planejei tudo, fiz todas as entrevistas para contratar funcionários, dei treinamentos. Hoje, tenho quatro pessoas na minha equipe”, diz. A clínica de estética faz parte do Nippon Spa, que agrega todos os serviços prestados pela família Matsumoto.

“Minha mãe, Vanessa, que nasceu em Brasília, sempre foi minha inspiração. Aos 17 anos, ela se mudou para o Japão sem falar japonês, porque ouvia de todo mundo que os salários naquele país eram altos”, relata. “Lá, ela fez de tudo, exerceu uma série de funções, como fazer entregas de mercadorias e cuidar de um crematório, pois não era necessário ter o domínio da língua. Tão logo passou a falar japonês com mais fluência, conseguiu empregos que lhe permitiram juntar uma boa quantia”, complementa. A família está em Portugal há 18 anos.

Com a clínica de estética funcionando a pleno vapor no bairro de Telheiras, em Lisboa, Arissa planeja abrir uma filial na região mais central da cidade. Os planos dela passam por oferecer terapias e cuidados com a pele e o corpo a estrangeiros que estão de passagem pela capital portuguesa. “Esse mercado de estética está em evolução constante e há muita demanda pelos serviços”, assinala. Já pensando na expansão do negócio, a jovem quer começar a treinar pessoas para que possam compor o quadro de pessoal. Ela também planeja ajudar jovens que desejam ter o próprio negócio a criarem as bases para transformar os sonhos em realidade.

Moda jovem

Com apenas 19 anos, o luso-brasileiro Guilherme Ferreira — ou Gui, como todos o chamam — se diz pronto para jogar em muitos campos como empreender. No primeiro deles, já demarcou território: começou a produzir e vender camisetas. O público jovem, como ele, é o alvo principal. A motivação para ter o próprio negócio é clara. “Sempre tive tudo em casa, nunca me faltou nada. Mas quero ajudar os meus pais e ganhar o meu dinheiro. Não quero ser só mais um”, justifica.

Filho de um português e de uma brasileira de Ibiporã, no Paraná, Gui não fica parado. Além da produção de camisetas, trabalha em uma loja de materiais de construção em Carnaxide, perto de Lisboa, 45 horas por semana. No lado empreendedor, está reunindo um grupo musical para tentar impulsionar a sua marca. “Tenho gosto pelo trabalho, vontade de trabalhar. Estou montando a minha empresa. Vai ser uma marca de roupa, que já está em processo de registro”, detalha.

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Com apenas 19 anos, o luso-brasileiro Guilherme está investindo na moda jovem e fabricando camisetas Jair Rattner

Inicialmente, o nome da empresa era para ser Fora d’órbita. Mas, nas redes sociais, não é possível colocar o apóstrofe. A escolha, então, recaiu para Plute Nine. “O nome surgiu pensando em Plutão, que não se sabe se é um planeta ou não. E o nine, porque seria o nono planeta”, assinala. A fabricação das camisetas começou em março deste ano. “Já vendi umas 50 peças”, comemora o jovem. O investimento até agora para colocar os produtos na rua foi de 700 euros (R$ 4.200), sendo que conseguiu ter algum lucro.

A nova coleção está a caminho e deverá estar pronta em novembro ou dezembro. “Além das camisetas, quero ter casacos de malha. E estou começando a criar roupa feminina”, conta. Na avaliação dele, o caminho para o sucesso é tornar sua marca conhecida, utilizando a música como instrumento de marketing. “A ideia é reunir três ou quatro pessoas com potencial, pô-los a gravar e ter um disco com o nome da marca”, explica.

Os planos de Guilherme incluem ainda fazer um curso superior. “Tenho planos de voltar aos estudos. Quero fazer algo relacionado com design de moda. Isso vai ajudar muito a minha marca”, avalia. “Quero, também, entrar no mercado imobiliário, tratar de aluguel de casas, armazéns e lojas. É uma área que tende a continuar crescendo”, vaticina.

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