De tudo “normal” a uma “doação”: o que eles disseram sobre os fundos Airbus na compra da TAP

A Inspecção-Geral de Finanças confirmou que a privatização da TAP foi feita com uma garantia da própria empresa a um empréstimo da Airbus. O PÚBLICO recupera as frases dos principais protagonistas.

Foto
Negócios da TAP continuam envoltos em muita controvérsia Miguel Manso
Ouça este artigo
00:00
05:00

A Inspecção-Geral de Finanças concluiu que a privatização da TAP em 2015 foi feita com recurso a um empréstimo da Airbus ao empresário David Neeleman, no valor de 226 milhões de euros, de que a própria companhia aérea apresentou garantia.

É isso que consta do relatório de auditoria conhecido na segunda-feira à noite, e que levou a IGF a recomendar o envio da informação ao Ministério Público. Mas o recurso aos chamados “fundos Airbus” não é uma novidade: veio a público em 2023, já depois de a companhia ter sido parcialmente renacionalizada, e foi um tema quente da comissão parlamentar de inquérito que então se realizou à gestão da TAP.

Recorde o que os principais protagonistas da privatização e da nacionalização disseram sobre o assunto.

Era "razoável"

“Vejo o balanço da companhia reforçado com uma frota de 53 aviões a desconto (…) A Airbus também tem essa componente de financiadora de quem compra. Parece-me razoável tudo isso e parece-me claro tudo isso.”

Miguel Pinto Luz, actual ministro das Infra-Estruturas, que em 2015 foi secretário de Estado das Infra-Estruturas no segundo Governo de Passos Coelho e concluiu a privatização da TAP

"Escrutinado" por todos

​“O processo de privatização da TAP, que eu concluí em 2015, foi escrutinado, foi sufragado nas urnas, foi escrutinado pelo Tribunal de Contas, foi escrutinado por comissões parlamentares, pela justiça portuguesa, por jornalistas, por toda a sociedade.”

Miguel Pinto Luz, numa carta em que exigiu um pedido de desculpas a António Costa, em Outubro de 2023, por o ex-primeiro-ministro ter dito que a TAP fora vendida “às três da manhã (…) com um Governo já demitido”:

Era "desconhecido"

“[Os fundos da Airbus] não eram conhecidos em Junho [de 2015]”, quando o executivo escolheu vender a TAP ao consórcio de David Neeleman e Humberto Pedrosa. “Tomámos conhecimento das fontes de financiamento (…) nos meses de Setembro e Outubro” desse ano.

Sérgio Monteiro, secretário de Estado das Infra-Estruturas no primeiro Governo de Pedro Passos Coelho, que optou e deu início à privatização da companhia

O Estado foi o ganhador

“O principal beneficiário daquele dinheiro que apareceu na TAP foi o Estado”.

Diogo Lacerda Machado, advogado e conhecido amigo do ex-primeiro-ministro António Costa, que em 2016 negociou a reversão parcial da privatização da TAP em nome do Governo do PS, afirmou no Parlamento, em 2023, que logo em 2016 soube que tinham sido fundos da Airbus a custear a recapitalização da empresa

Parpública não informou

“Os membros do Governo que fizeram a transições de pastas connosco não informaram de nenhuns ‘fundos Airbus’. A Parpública, na reunião que tivemos em Dezembro de 2015, não me informou de nenhuns ‘fundos Airbus’.”

Pedro Marques, ex-ministro das Infra-Estruturas de António Costa, na mesma comissão de inquérito em 2023

Não houve transição

“A pasta de transição na dimensão TAP era inexistente, nem pens, nem dossiês, não havia nenhuma referência à TAP na pasta de transição da ministra das Finanças do XX Governo [Maria Luís Albuquerque] para o ministro das Finanças do XXI Governo.”

Mário Centeno, ministro das Finanças à data da renacionalização parcial da TAP

"Nada feito em cima do joelho"

“Nunca percebi muito bem essa afirmação de que isto tinha sido encoberto. Foi [uma privatização] altamente trabalhosa. Entendo que foi uma operação muitíssimo bem-feita. Tecnicamente, está muitíssimo bem-feita. Nada foi feito em cima do joelho. Há perguntas, há respostas, há clarificações. Foi altamente escrutinado. De escondido, tem zero.”

Pedro Ferreira Pinto, antigo presidente da Parpública, que negociou a privatização em 2015

Tudo nas actas

“[Toda a operação] está espelhada nas actas, nos pareceres dos consultores, está tudo na Parpública. É um não-problema, é um problema político que montaram agora”.

Pedro Ferreira Pinto

TAP "não foi prejudicada"

Continuo convencidíssimo de que o negócio que se fez [com a Airbus] foi feito a preços de mercado. A TAP não foi prejudicada, bem pelo contrário.”

António Pires de Lima, ministro da Economia à data da privatização da TAP, em 2015

Foi "normal"

“[Dinheiro da Airbus] foi uma contribuição financeira. É normal que os fornecedores de referência apoiem um parceiro de longa data quando em dificuldades.”

David Neeleman, antigo accionista da TAP

Luvas, jamais

​“Não prejudiquei a empresa e jamais – como já ouvi dizer e escrever – recebi ‘luvas’ ou comissões pelo negócio com a Airbus. Tal suspeita é insultuosa e inaceitável.”

​David Neeleman, antigo accionista da TAP

Talvez uma doação

​“Não sei o que lhe hei-de chamar. Uma doação, será?...”

Humberto Pedrosa, empresário que integrava o consórcio com David Neeleman que comprou a TAP em 2015, sobre os “fundos Airbus”

Sugerir correcção
Ler 1 comentários