OE2025: BE pede clareza a Pedro Nuno Santos e espera que PS não entre “em truques”
Para Mariana Mortágua “o pior pântano é aquele que é criado” pela “repetição obsessiva de uma velha chantagem que diz: mais vale um Orçamento mau que Orçamento nenhum”.
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, pediu neste domingo clareza a Pedro Nuno Santos sobre o próximo Orçamento do Estado, esperando que o PS não entre "em truques" para viabilizar um Orçamento que "era praticamente impossível". "Cinco meses se passaram [após as eleições legislativas] e o praticamente impossível tornou-se numa disponibilidade para negociar, e Pedro Nuno Santos diz agora que está disponível para assinar um Orçamento de direita, desde que seja negociado com o Partido Socialista. E aqui andamos nós neste bailarico de Verão", afirmou a líder bloquista no discurso de encerramento do "Fórum Socialismo", em Braga, iniciativa que marca a rentrée política do partido.
De acordo com Mariana Mortágua, o PS diz que não quer o IRC no Orçamento, então o PSD tira este imposto do Orçamento e apresenta-o num anexo para o aprovar à parte com o Chega, antes ou até depois do Orçamento, "o Chega assina a borla fiscal e o Orçamento fica desimpedido à espera de uma possível assinatura do PS".
"Ouvi o PS na noite eleitoral a dizer que tinha aprendido a lição e que o tempo da política dos truques tinha acabado. Ora aqui estaria um truque e dos mais lamentáveis: primeiro, Pedro Nuno Santos viabilizar um Orçamento, e depois apoiado na bengala do Partido Socialista, Luís Montenegro juntar-se ao Chega para aprovar uma descida de impostos aos mais ricos e às maiores empresas", antecipou a coordenadora do BE.
Enquanto isso, para Mariana Mortágua "o SNS [Serviço Nacional de Saúde] degrada-se, a habitação é deixada ao negócio e abandona-se o povo que trabalha e que tem uma vida tão difícil, com os preços a subir e sem ter serviços públicos de qualidade".
"Espero não ver o PS em semelhante truque para uma viabilização de um Orçamento que era praticamente impossível. E perante esta confusão é preciso falar claro, é preciso clareza ao povo de esquerda, incluindo aos socialistas (...). Quem viabiliza o Orçamento de direita, suporta o Governo de direita, quem suporta o Governo de direita, não faz oposição à direita, quem não faz oposição à direita não representa uma alternativa a esse Governo", vincou.
Para Mariana Mortágua "o pior pântano é aquele que é criado" pela "repetição obsessiva de uma velha chantagem que diz: mais vale um Orçamento mau que Orçamento nenhum, sem Orçamento vai tudo para eleições, é uma desgraça, o Mundo acaba e sabe-se lá que mais...".
A dirigente bloquista entende que a democracia "também é projecto de alternativa", e abdicar dessa força, de ser uma oposição, de ter um projecto diferente, "tornaria o Parlamento numa câmara corporativa, onde se negociam interesses, mas não se confrontam opções sobre o país".
"Esse é o reino da politiquice que nos querem impor, um reino que não tem brilho, que não tem alternativa, que não tem contraponto, que é governado pelo medo, como se a aprovação do Orçamento fosse um bem em si mesmo e que para lá chegar todos os truques valessem na política", criticou Mariana Mortágua.
A coordenadora do BE frisou que o "Orçamento do praticamente impossível não é um documento neutro, que tanto pode ser aprovado à direita do PSD, como à esquerda do PSD, como parece ser o plano de Luís Montenegro", lembrando que o documento estará ao serviço de um programa ideológico do Governo PSD/CDS-PP.
"Nós conhecemos esse programa ideológico, sabemos o que está em causa: saúde, habitação, é o mercado que resolve, imigrantes, nas próximas obras serão clandestinos, sem direitos, impostos, é para cortar aos mais ricos, é uma ideia para Portugal e é uma ideia errada, porque hipoteca o nosso futuro, o futuro do povo que aqui trabalha, que vê os preços a subir, para quem ter casa é um sonho e pôr os filhos na creche é um pesadelo", acusou Mortágua.
Na Escola Secundária Alberto Sampaio, Mortágua disse que "neste Portugal de privilégio que o PSD está a construir, só os ricos vêem futuro e liberdade à sua frente, porque o povo, o que vê, é medo e uma fuga possível para a emigração".