A pole position das presidenciais

É agora que se atiram nomes à fogueira (para queimar) e é agora, quando ainda ninguém tomou decisões irrevogáveis, que se condicionam futuras escolhas.

Ouça este artigo
00:00
02:30

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

As próximas eleições presidenciais hão-de realizar-se em Janeiro de 2026, o que significa que falta qualquer coisa como um ano e quatro meses. Antes delas, o país vota para as autárquicas.

A esquerda não tem um Presidente da sua área política há quase 20 anos, razão pela qual tem de preparar este acto eleitoral com atenção redobrada. Um erro de cálculo pode rapidamente transformar 20 anos em 30 — em Portugal, quem se candidatou a um segundo mandato foi sempre reeleito.

O assunto não está esquecido pelos partidos, muito pelo contrário. Nesta pré-rentrée, surgiram já movimentações em torno de Mário Centeno do lado do PS, enquanto mais à esquerda há alguma vontade de convergência (mas com condições e sem Centeno).

No caso do PSD, o líder avançou com o perfil do/a desejado/a, sendo que um dos seus homem de confiança, Hugo Soares, deu uma entrevista em que considerou que Leonor Beleza é um activo a ter em conta — “uma excelente candidata”. O almirante Gouveia e Melo, esse, parece ter ficado em stand by.

Neste contexto, Marques Mendes acabou por também dizer que ainda não saiu de cena e que está "mais próximo do que nunca" de tomar uma decisão sobre se será ou não candidato a Belém, tentando repetir com sucesso a receita do comentador televisivo que se tornou Presidente.

A hora da qualificação para a pole position é agora. É agora que se atiram nomes à fogueira (para queimar) e é agora, quando ainda ninguém tomou decisões irrevogáveis, que se condicionam futuras escolhas.

Elogiar Leonor Beleza tem significado político? Tem. Mesmo que a própria nunca se tenha referido ao assunto, pode criar no eleitorado da sua área política e nos militantes do PSD uma necessidade: a necessidade de ter uma candidata mulher e mostrar progressismo, por oposição a outra direita. Ao mesmo tempo, é um aviso para outros putativos candidatos.

Na realidade, as presidenciais são eleições unipessoais, diferentes de todas as outras. Não se vota numa equipa, nem numa lista, vota-se numa pessoa. Os candidatos não precisam dos partidos para entrarem na corrida. Os partidos vêm depois. Essa é a teoria, mas na prática é preciso fazer contas, e quem quiser ser eleito tem de ser sensível aos desejos partidários.

Está ainda muito presente o caso de Manuel Alegre, que em 2006 avançou sem concertar posição com o PS, acabando por dividir eleitorado com Mário Soares. Começaram assim os quase 20 anos dos socialistas fora de Belém. A regra de “dividir para reinar” não vale para tudo.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários