H. G. Cancela: a linguagem enquanto forma de dúvida

Um homem em fuga. De si, da linguagem, da ideia de humanidade? Nostos problematiza, mas não oferece respostas. Um romance sobre o poder, a linguagem e a imponderável condição humana.

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O título do mais recente romance de H. G. Cancela, de matriz clássica, remete para o regresso de Ulisses e uma deriva por mar. Em Nostos, contudo, esse retorno dá-se por terra Adriano Miranda
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Em Terra de Naumãn (Relógio D’Água, 2018), havia um mundo ainda sem humanidade. O mais recente livro de H. G. Cancela, Nostos, parece sugerir um mundo à beira de perder a humanidade. De perder a linguagem, ou abdicar dela. O narrador e a personagem com quem se cruza, cada qual a seu modo, prescindem desse código. Ao afirmar “não me pediria o que eu não tinha para dar” (p. 98), o narrador nada tem para oferecer porque, de certa forma, perdeu a realidade, ao deixar a linguagem. Mas o autor refuta. “Não sei se a ambição é ser um desenho tão grande, uma metáfora tão grande da própria ideia de humanidade. São pessoas concretas, com experiências concretas. Podemos, a partir daí, extrapolar para qualquer tipo de interpretação mais vasta. Mas são experiências concretas num tempo concreto”, diz H. G. Cancela ao Ípsilon, durante uma conversa no Porto.

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