Israel matou o líder do Hamas em Jenin numa operação na Cisjordânia

Wassem Hazem e outros dois membros do Hamas foram mortos num ataque aéreo israelita. Forças de Defesa dizem que o líder do Hamas em Jenin promovia actividades terroristas na Cisjordânia.

Foto
Palestinianos inspeccionam um carro destruído por um ataque aéreo na aldeia de Al Zababda, perto da cidade de Jenin, na Cisjordânia, a 30 de Agosto ALAA BADARNEH / EPA
Ouça este artigo
00:00
04:55

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

As forças israelitas anunciaram esta sexta-feira que mataram o líder do movimento islamista Hamas na cidade de Jenin, na Cisjordânia. De acordo com as declarações publicadas pelas Forças de Defesa de Israel no X, Wassem Hazem "foi eliminado durante uma operação de contraterrorismo" na região Norte do território. Terá sido identificado "ao lado de uma célula terrorista num veículo que estava na área."

A mensagem incluía um vídeo que mostra um grupo de pessoas a fugir de dois veículos que parecem estar na mira dos israelitas. As imagens monocromáticas mostram uma mira que acompanha os indivíduos enquanto se afastam dos carros, mas culmina na explosão que terá matado o alegado líder do Hamas em Jenin. Segundo as Forças de Defesa de Israel, Wassem Hazem "esteve envolvido na execução e direcção de ataques com tiros e bombas" e "promoveu continuamente actividades terroristas na área da Judeia e Samaria [o nome bíblico para a Cisjordânia, adoptado pelo Governo de Israel]".

Além de Wassem Hazem, a operação israelita também terá resultado na morte de outros dois membros do Hamas que tentaram fugir do veículo em que viajavam com o líder. Maysara Masharqa e Arafat Amer "operaram sob o comando de Wassem Hazem e participaram em ataques contra comunidades israelitas", afirmam as Forças de Defesa de Israel numa segunda publicação.

Os soldados israelitas também apreenderam as armas que estariam na posse dos três membros do Hamas no momento em que foram interceptados. Uma fotografia tornada pública pelas Forças de Defesa de Israel mostram a apreensão de espingardas M16, uma pistola, cartuchos, explosivos, granadas de gás e milhares de shekels em notas que estariam no veículo dos membros do Hamas e na sua posse no momento do ataque.

Na vila de Zababdeh, nos arredores de Jenin, um carro queimado e cheio de marcas de bala estava encostado num muro onde o veículo embateu após ter sido perseguido por uma unidade das forças especiais israelitas. Saif Ghannam, um morador daquela zona, disse à Reuters que um dos outros dois homens que escaparam do veículo foi morto do lado de fora da sua casa por um pequeno ataque com drone que partiu as janelas. Um segundo homem foi morto a uma curta distância dali. Ghannam, de 25 anos, disse que as forças israelitas removeram os corpos, mas havia grandes poças de sangue no chão onde, segundo ele, os homens foram mortos.

Três dias de operação na Cisjordânia

O incidente ocorreu enquanto as forças israelitas mantêm uma operação em larga escala que envolve centenas de elementos das IDF e agentes da polícia. A operação foi lançada nas primeiras horas da manhã de quarta-feira em Jenin e Tulkarm, bem como no vale do Jordão. Veículos blindados israelitas, apoiados por helicópteros e drones, avançaram para Jenin e Tulkarm na sexta-feira, enquanto máquinas escavadoras blindadas abriam estradas para destruir bombas instaladas pelos grupos militantes.

Só nos dois primeiros dias da operação na Cisjordânia, pelo menos 17 palestinos foram mortos, incluindo o comandante local das forças da Jihad Islâmica apoiadas pelo Irão em Tulkarm. Na quarta-feira, dez palestinianos morreram durante uma "operação de luta contra o terrorismo" levada a cabo pelas IDF no Norte da Cisjordânia, em Jenin, Tulkarem e em Tubas, segundo informações israelitas à Reuters. No dia seguinte, o Exército israelita confirmou a morte de cinco palestinianos durante um tiroteio numa mesquita em Tulkarm, também na Cisjordânia ocupada.

A 17 de Agosto, Israel anunciou também a morte de dois comandantes do Hamas num ataque aéreo que atingiu o carro onde seguiam em Jenin, na Cisjordânia. As mortes foram depois confirmadas pelo próprio movimento palestiniano islamista. De acordo com as IDF, os dois militantes estiveram envolvidos na morte de um israelita, mas as autoridades israelitas não adiantaram mais detalhes sobre o caso.

Desde o ataque do Hamas a Israel, em Outubro passado, que desencadeou a escalada da guerra na Faixa de Gaza, mais de 660 palestinos — combatentes e civis — foram mortos na Cisjordânia, de acordo com contagens palestinianas, alguns por soldados israelitas e outros por colonos judeus que realizaram ataques frequentes às comunidades palestinas da Cisjordânia. Israel afirma que o Irão fornece armas e apoio a facções militantes na Cisjordânia — sob ocupação israelita — e, como resultado, os militares intensificaram as suas operações na região.

Reino Unido "preocupado"

O Governo britânico afirmou na sexta-feira estar “profundamente preocupado” com a operação de Israel em curso na Cisjordânia ocupada, alertando para o facto de o risco de instabilidade ser grave e para a necessidade urgente de desanuviar a situação.

“Continuamos a apelar às autoridades israelitas para que dêem provas de contenção, respeitem o direito internacional e reprimam as acções daqueles que procuram inflamar as tensões”, declarou um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico em comunicado: “Reconhecemos a necessidade de Israel se defender contra as ameaças à segurança, mas estamos profundamente preocupados com os métodos que Israel utilizou e com os relatos de vítimas civis e da destruição de infra-estruturas civis.”

O porta-voz acrescentou que o Reino Unido “condena veementemente a violência dos colonos” e que não é do interesse de ninguém que o conflito e a instabilidade se alastrem na Cisjordânia ocupada.

Notícia corrigida a 2.9.2024, para clarificar que Judeia e Samaria é o nome bíblico da Cisjordânia