OMS anuncia pausas humanitárias em Gaza para vacinação contra poliomielite

Nações Unidas afirmam ter conseguido negociar com Israel um total de nove dias de pausas humanitárias para vacinação de crianças em Gaza.

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Mãe de Abdul Rahman Abu Jidyan, de dez meses, o primeiro infectado pelo vírus da poliomielite na Faixa de Gaza nos últimos 25 anos. Deir Al-Balah, 28 de Agosto Ramadan Abed/Reuters
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A Organização Mundial de Saúde anunciou esta quinta-feira um acordo com Israel para pausas temporárias dos combates na Faixa de Gaza, de modo a permitir a vacinação contra a poliomielite a centenas de milhares de crianças. Ministério da Saúde de Gaza confirmou a 16 de Agosto o primeiro caso de poliomielite dos últimos 25 anos.

Descritas como “pausas humanitárias” que durarão três dias em diferentes zonas do território devastado pela guerra, a campanha de vacinação terá início no próximo domingo no Centro de Gaza, onde foi confirmado o primeiro caso, anunciou Rik Peeperkorn, representante da OMS nos territórios palestinianos.

De acordo com esta agência das Nações Unidas, seguir-se-á outra pausa de três dias no Sul de Gaza e depois uma terceira no Norte do enclave. No total, deverão ser vacinadas 640 mil crianças com menos de dez anos.

A interrupção das ofensivas militares estará em vigor entre as 6h e as 15h locais de cada dia (entre as 4h e as 13h de Portugal continental). Para que a campanha seja eficaz, será ainda necessária uma segunda ronda de vacinação quatro semanas após a primeira.

"Não vou dizer que este é o caminho ideal a seguir. Mas é um caminho possível", disse Peeperkorn, garantindo que Israel aceitou respeitar as pausas humanitárias a partir de 1 de Setembro — ainda que de forma limitada, durante os horários e nas áreas previamente acordadas.

O Governo de Benjamin Netanyahu terá cedido à pressão feita pelas Nações Unidas e pelo seu principal aliado, os Estados Unidos, mas também à ameaça de um surto de poliomielite que pode alastrar-se ao seu território. Segundo a Al Jazeera, a ONU recebeu das autoridades de Israel a garantia de que, caso não seja possível vacinar todas as crianças em três dias em alguma das regiões, será acrescentado um dia à pausa humanitária para concluir a campanha.

"É necessária uma cobertura de pelo menos 90% em cada ronda da campanha para travar o surto e evitar a propagação internacional da poliomielite", explicou Mike Ryan, coordenador da resposta a emergências de saúde pública e crises humanitárias da OMS, ao Conselho de Segurança da ONU nesta quinta-feira.

Há 25 anos que não era registado um caso de poliomielite na Faixa de Gaza. A mais recente infecção foi confirmada pelo Ministério da Saúde de Gaza a 16 de Agosto (e pela OMS a 23 de Agosto) na região de Deir al-Balah, num bebé de dez meses não vacinado e que está em perigo de vida, com o corpo paralisado.

A poliomielite é altamente contagiosa e pode propagar-se rapidamente entre a população, principalmente em lugares sobrelotados, com más condições de higiene e sem cuidados médicos adequados, como a Faixa de Gaza.

O Hamas já reagiu ao anúncio da OMS, afirmando ter acolhido "com satisfação" o pedido das Nações Unidas para a implementação de pausas humanitárias.

“Pedimos à comunidade internacional que obrigue Israel a cumprir os seus deveres à luz do direito internacional enquanto potência ocupante”, é referido num comunicado do movimento islamista, assinado por Basem Naim, membro do gabinete político do Hamas. O Hamas informa também que está disponível para colaborar com organizações internacionais para que a campanha de vacinação seja bem-sucedida.

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