“A cada dia que passa eles ficam mais isolados”, afirma Corina Machado
Oposição e regime venezuelano organizaram manifestações na quarta-feira para assinalar um mês desde as eleições presidenciais. Maduro critica países que exigem publicação das actas eleitorais.
Um mês depois das eleições presidenciais venezuelanas, que o regime diz terem sido ganhas por Nicolás Maduro, mas que a oposição contesta, os dois lados da barricada organizaram manifestações de sentido contrário.
Foi tímida a marcha convocada pela líder oposicionista María Corina Machado para o centro de Caracas com o objectivo de manter a pressão das ruas contra o Governo chavista. Foram alguns milhares os que compareceram à chamada da oposição para assinalar um mês marcado pela contestação à reivindicação de vitória de Maduro e pelo assédio cada vez mais intenso às vozes críticas do regime.
“Estamos a avançar”, assegurou Machado aos seus apoiantes durante a tarde de quarta-feira. “Enganam-se os que acreditam que o tempo favorece o regime, a cada dia que passa eles ficam mais isolados e nós mais organizados”, afirmou a líder política. Ao contrário de outras manifestações organizadas pela oposição logo a seguir às eleições, nesta quarta-feira não foram registados confrontos nem episódios violentos.
Ao fim de um mês vertiginoso na Venezuela, a oposição a Maduro parece não querer desviar-se de uma estratégia que combina a presença nas ruas com a pressão internacional para tentar impedir a manutenção do chavismo no poder.
“Temos uma estratégia robusta e está a funcionar. Disseram-nos que não íamos reunir a Venezuela e levantámos um país; disseram-nos que era impossível fazer primárias e fizemos as mais participadas da história; disseram-nos que não ia haver eleições e demos-lhes a pancada da sua vida; disseram-nos que não íamos poder demonstrar a fraude e mostrámos a vitória de Edmundo [González Urrutia] ao mundo inteiro”, disse Machado.
A oposição contesta a vitória de Maduro, que diz ter sido reeleito com 51% dos votos, confirmada pelo Conselho Nacional Eleitoral e, na semana passada, pelo Supremo Tribunal – duas entidades controladas pelo chavismo. Machado e Urrutia, apoiados por vários governos sul-americanos e europeus, têm exigido a publicação das actas eleitorais e acusam o Governo de ter falseado os resultados.
Mais detenções
Maduro tem respondido com mão pesada, rompendo com as tréguas entre regime e oposição que tinham permitido a realização das eleições do mês passado e que, idealmente, tinham como função retirar a Venezuela do ciclo ininterrupto de crises com que se debate há quase uma década. As detenções de figuras da oposição têm acontecido a um ritmo diário e teme-se que González possa ser preso em breve – o Ministério Público convocou-o pela terceira vez nesta quinta-feira para ser interrogado, mas é improvável que o candidato presidencial se apresente.
Na quarta-feira, foram detidos o dirigente opositor Biagio Pillieri, tal como o seu filho, Jesús Alfredo, quando abandonavam o local da manifestação em Caracas. Na véspera, um dos advogados de Machado, Perkins Rocha, que é também conselheiro jurídico do partido Vente Venezuela, também já tinha sido detido.
Ao todo, desde as eleições, foram presas mais de 2400 pessoas, a maioria das quais por ter participado em protestos organizados pela oposição. A ONU descreve um “clima de medo”. A violência durante as manifestações deixou 27 mortos.
Do lado do chavismo, a marca de um mês após as eleições também motivou uma demonstração de força, quase em simultâneo com a manifestação opositora. Para Nicolás Maduro, tratou-se de mais uma oportunidade para reafirmar a sua narrativa vitoriosa e para escarnecer dos seus adversários.
“Hoje podemos dizer que triunfaram a verdade e o amor da imensa maioria dos povos”, declarou o Presidente, que também justificou a acção musculada nos primeiros dias após as eleições. “Que poderia ter acontecido se nesses dias, 29, 30 e 31 de Julho, se tivesse imposto a violência ou tivessem ganho os criminosos? Quantas centenas de feridos e mortos haveria?”, questionou.
Maduro acusou González de se acobardar e de planear fugir da Venezuela e apresentou Machado como uma aliada de Elon Musk, com quem teria um “pacto satânico”. E não deixou sequer passar a pressão internacional para que as actas eleitorais sejam publicadas, com origem até em governos próximos do chavismo, como o do Brasil ou da Colômbia: “Não metam os vossos narizes nos assuntos internos da Venezuela.”