Alergias alimentares duplicaram numa década em Inglaterra, revela estudo

Os investigadores analisaram os registos de mais de sete milhões de pessoas. A maior prevalência de alergia alimentar foi observada em crianças com menos de cinco anos (4% das quais foram afectadas).

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A maior prevalência de alergia alimentar foi observada em crianças com menos de cinco anos Francisco Romão Pereira
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O número de indivíduos diagnosticados com alergias alimentares em Inglaterra mais do que duplicou numa década, de acordo com um estudo publicado recentemente na revista Lancet Public Health.

A investigação, realizada por cientistas da Imperial College de Londres (Reino Unido), revelou ainda que um terço das pessoas em risco de sofrer uma reacção grave devido a uma alergia alimentar em Inglaterra não tem um EpiPen (por falta de prescrição), que corresponde a um dispositivo de injecção automática de adrenalina para responder rapidamente a uma reacção alérgica grave.

Os investigadores analisaram os registos dos médicos de clínica geral de mais de sete milhões de pessoas, com os dados a mostrarem que o número de novos casos de alergia alimentar aumentou de 76 por cada 100 mil pessoas por ano em 2008 para 160 por cada 100 mil pessoas em 2018. Já a prevalência total aumentou, ao longo do mesmo período, de 0,4% para 1,1% da população.

A maior prevalência de alergia alimentar foi observada em crianças com menos de cinco anos (4% das quais foram afectadas em 2018), com a prevalência de adultos com 20 anos ou mais com alergias alimentares a fixar-se nos 0,7%.

Uma necessidade urgente

Os investigadores acreditam que o aumento do número de casos em Inglaterra provavelmente se terá reflectido em todo o Reino Unido, tendo descoberto ainda que um em cada três doentes que já tinha sofrido anafilaxia – uma reacção alérgica potencialmente fatal – não tinha um EpiPen.

Paul Turner, investigador principal do estudo, afirmou, citado pelo diário britânico The Guardian, que os resultados demonstram que existe uma “necessidade urgente” de “apoiar melhor os médicos de clínica geral e o pessoal dos cuidados primários” no tratamento de doentes com alergias alimentares. “As alergias alimentares podem ter um enorme impacto na vida das pessoas e, nalguns casos trágicos, podem levar à morte.”

As alergias alimentares ocorrem quando o sistema imunitário reage de forma exacerbada a determinados alimentos – como, por exemplo, o leite de vaca, os frutos secos ou o marisco. Em casos graves, podem causar anafilaxia, resultando no inchaço das vias respiratórias, dificuldades respiratórias e paragem cardíaca.

Os autores do estudo não exploraram o porquê do aumento dos casos de alergias alimentares em Inglaterra, mas especialistas ouvidos pelo jornal The Guardian salientam que é provável existirem diversos factores que expliquem o crescimento – entre os quais o aumento da consciencialização sobre as alergias alimentares que leva mais pessoas a procurarem aconselhamento médico, dietas deficitárias, factores genéticos, deficiência de vitamina D, poluição e factores ambientais.

De acordo com o The Guardian, a Imperial College de Londres destaca que, embora mais diagnósticos tenham sido feitos na década estudada, a incidência de novos casos de alergias alimentares pode estar agora a estabilizar.

Tal poderá estar relacionado com uma alteração nas directrizes de alimentação infantil, que já não recomendam o adiamento da introdução de alimentos como o amendoim ou o ovo na dieta das crianças.

No estudo, os investigadores alertam para a falta de dispositivos de injecção de adrenalina, principalmente em zonas mais carenciadas do país, para quem precisa deste medicamento: “As nossas descobertas de que a maioria dos doentes com alergia alimentar são tratados fora do sistema hospitalar, com baixas taxas de prescrição de auto-injecções de adrenalina nas pessoas com historial de anafilaxia, destacam a necessidade de apoiar melhor aqueles que trabalham nos cuidados primários para garantir um bom acompanhamento dos doentes com alergia alimentar”.

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