Direita aplaude Maria Luís Albuquerque, esquerda evoca “má memória” da troika

PS, BE, PCP, Livre e PAN associam ex-ministra das Finanças de Passos Coelho à austeridade e ao corte de salários e pensões.

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Maria Luis Albuquerque foi o nome escolhido pelo Governo para comissária europeia Daniel Rocha
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Depois do anúncio por Luís Montenegro do nome de Maria Luís Albuquerque para o cargo de comissária europeia, os partidos com assento parlamentar reagem à escolha da ex-ministra das Finanças. O Livre, um dos primeiros partidos a reagir, irá apresentar um requerimento para que a ex-ministra vá à Comissão de Assuntos Europeus do Parlamento.

Além dos partidos com assento parlamentar, também várias personalidades políticas pronunciaram-se sobre a escolha da ex-ministra das Finanças. O Presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, em entrevista à Renascença, admitiu a possibilidade de Maria Luís Albuquerque poder mesmo ocupar o lugar de vice-presidente da Comissão Europeia.

Mais crítica, Maria Manuel Leitão Marques, ex-eurodeputada socialista disse ao Observador que Maria Luís Albuquerque será com certeza "uma boa técnica", mas que "a visão tecnocrata é o que menos falta faz na União Europeia (UE)".

PS. Escolha de Albuquerque "não é uma boa notícia"

Pelo PS, Pedro Delgado Alves começou por notar que o nome “não surpreende”, tendo em conta a especulação das últimas semanas, mas disse que, ainda assim, “não é uma boa notícia”, pois não traz “boa memória”. Notando que o mundo “mudou”, o PS teme que a escolha de Albuquerque possa “representar um regresso ao passado”.

Embora tenha considerado “prudente” que o Governo tenha decidido anunciar o nome a partir da residência oficial e não na Universidade de Verão do PSD, Delgado Alves diz que Luís Montenegro poderia ter ouvido os partidos previamente, nomeadamente o PS.

Segundo Delgado Alves, o secretário-geral do PS e líder da oposição, Pedro Nuno Santos, foi informado “minutos antes” do anúncio público. O socialista recordou que o PS, no passado, ouviu os outros partidos em processos semelhantes. “Há aqui um padrão” de falta de diálogo e alargamento de consensos, considerou.

O vice-presidente da bancada socialista lembrou que a ex-ministra foi “responsável directa por um conjunto de medidas muito gravosas” para pensionistas e funcionários públicos e tem um “legado que em muitos aspectos ia até para lá do que a União Europeia defendia”. Para o socialista, isso é sinal de um perigo de “regresso ao passado”. “A União Europeia mudou bastante desde que [Maria Luís Albuquerque] foi ministra das Finanças”, alertou, referindo também o percurso “não-isento” da ex-ministra.

PSD: "Perfil de Maria Luís Albuquerque fala por si"

O deputado do PSD, António Rodrigues, considerou "injustas" as críticas à indicação de Maria Luís Albuquerque e disse esperar "sentido de Estado", lembrando situações passadas em que "houve comissários europeus apoiados por partidos distintos daqueles que estavam a nomeá-los".

O social-democrata lembrou que "um comissário europeu não é uma extensão do Governo nacional num órgão europeu" e sublinhou que é um "erro crasso" projectar "política nacional para uma dimensão europeia". António Rodrigues defendeu também que o perfil "académico, profissional e político" da ex-ministra fala por si.

Sobre as críticas do PS, que se queixou de saber do nome indicado pouco tempo antes do anúncio oficial de Montenegro, desvalorizou, dizendo que "todos já especulavam" sobre o nome de Maria Luís Albuquerque.

Chega. Um "currículo sólido" prejudicado pela falta de um consenso entre os partidos

Para o Chega, Maria Luís Albuquerque é um nome com um “currículo sólido”, mas a "legitimidade política da nossa nova comissária fica aquém por não haver um consenso entre partidos".

"Lamento muito que o Governo não tenha querido consensualizar o nome de Maria Luís Albuquerque, nomeadamente à direita”, afirmou André Ventura, acrescentando que isto “mostra uma certa atitude que continua de arrogância e de unilateralismo por parte deste Governo”.

BE: uma "agente da troika no Governo português"

Já o líder parlamentar do BE, Fabian Figueiredo, não poupou críticas à escolha do Governo, considerando que esta será uma das “piores representações da governação” em Portugal, apontando Maria Luís Albuquerque como “sobretudo uma agente da troika no Governo português”.

Fabian Figueiredo afirma que o país ainda não esqueceu “a actuação" da ex-ministra, que “significou cortes nos salários, pensões e legitimou todas as políticas” de austeridade, achando que a crise financeira se resolveria “empobrecendo as pessoas” e “forçando milhares de portugueses à emigração, sobretudo os jovens”. Para o BE, esse período de “má memória” teve em Albuquerque uma das “principais autoras dessa política de destruição social” que agora o Governo “premeia com um cargo europeu de elevado perfil”.

Além disso, o bloquista acusa também Albuquerque de ser uma “má gestora de fundos públicos” e recorda a comissão de inquérito dos swaps e das decisões que a ex-ministra tomou e custaram “centenas de milhões de euros ao erário público por decisões erradas que beneficiaram a banca”.

“Não nos esquecemos que decidiu ir trabalhar para a Arrow Global e acumular o salário de deputada com o salário de gestor de fundos-abutres”, acrescentou ainda. “É um rosto da má política que acha que não deve haver uma fronteira sólida entre os interesses privados que se tutelou e a gestão pública”, acrescentou, prosseguindo: “É uma das piores escolhas que o Governo podia ter feito. É um rosto derrotado do passado”.

PCP: ex-ministra teve "responsabilidades sérias no corte de salários e pensões"

Para Paula Santos, líder parlamentar do PCP, “o que importa” é saber que políticas Maria Luís Albuquerque pretende desenvolver na “defesa dos salários, nas pensões, na habitação e qual é a opinião sobre as taxas de juro”.

A deputada comunista recorda o papel da ex-ministra das Finanças “no período da troika, um período de má memória para os trabalhadores e o povo”. Paula Santos sustenta que a ex-ministra das Finanças de Passos Coelho “teve responsabilidades sérias no corte de salários e pensões”, bem como “na destruição de serviços públicos” e no “desvio de recursos públicos para tapar o buraco do BES”.

“Só podemos ver com preocupação e inquietação” a escolha de Maria Luís Albuquerque, diz a comunista. “As opções políticas que assumiu nas responsabilidades que teve foram sempre contrárias ao interesse do nosso país”, declarou Paula Santos. A deputada fez ainda saber que o PCP não se oporá a uma audição parlamentar de Albuquerque no Parlamento.

PAN: Albuquerque é "sinónimo dos tempos da troika"

"Maria Luís Albuquerque é sinónimo de austeridade, é sinónimo dos tempos da troika". Foi assim que Inês de Sousa Real, porta-voz do PAN, reagiu ao anúncio do nome da comissária europeia. A porta-voz do PAN referiu que a escolha é "sinónimo da política conservadora de Luís Montenegro", revelando ainda que o partido vai propor a audição de Maria Luís Albuquerque na Comissão de Assuntos Europeus.

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Jorge Pinto, deputado do Livre, anunciou que o Livre vai apresentar um requerimento para que a ex-ministra vá à Comissão de Assuntos Europeus do Parlamento Rui Gaudêncio

Criticou ainda a "falta de diálogo" na escolha do nome, sublinhando que cargos como o de comissária europeia "devem representar todas as sensibilidades políticas e não a sensibilidade de um Governo minoritário".

CDS: "Uma das melhores governantes que Portugal teve"

Por outro lado, o centrista Paulo Núncio – que revelou que o CDS "foi ouvido antes da decisão" – mostrou grande satisfação com a indicação de Maria Luís Albuquerque, referindo que a escolha traz "uma das melhores governantes que Portugal teve num momento dificílimo que foi necessário para recuperar o país da falência que os socialistas trouxeram a Portugal".

Defendeu ainda que a ex-ministra fez parte de um "Governo competente, sério, patriota que foi capaz de recuperar o país e devolver o país numa situação muito melhor do que o tinha recebido".

Livre: conhece-se "muito pouco do pensamento europeu"

Já o deputado Jorge Pinto, do Livre, referiu que o partido ficou surpreendido com a indicação de Maria Luís Albuquerque por esta estar "há vários anos afastada da vila política nacional" e por considerar que se conhece "muito pouco do pensamento europeu" da ex-ministra. "Aquilo que se conhece é muito mau", acrescentou o deputado.

Para o Livre, à semelhança do que disseram outros partidos, a candidata a comissária está associada à austeridade europeia: "Quando muitos especialistas defendiam que a austeridade não era o caminho, Maria Luís Albuquerque defendia essa austeridade acerrimamente."

Jorge Pinto revelou ainda que o Livre vai apresentar um requerimento para que a ex-ministra vá à Comissão de Assuntos Europeus, no Parlamento, para falar sobre a sua "visão para o projecto europeu".

IL: currículo e experiência com "competências técnicas necessárias"

Mariana Leitão, deputada da IL, considerou que o currículo e experiência de Maria Luís Albuquerque "aparentam ter as competências técnicas necessárias para o cargo". Sublinhou, porém, a importância de que a pessoa escolhida para o cargo "tenha visão reformista" e queira "reformar e mudar a União Europeia".

A liberal aproveitou para salientar a importância de haver "políticas que promovam o crescimento económico nos vários Estados-membros" assim como uma estratégia para lidar com a redução de fundos europeus" – dos quais, considerou, Portugal está dependente há 40 anos – que acontecerá à medida que se der o alargamento da UE.

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