Turquia avisa Israel para a “perigosa” ideia de alterar o estatuto de Jerusalém

Governo de Erdogan reagia às declarações do ministro israelita Itamar Ben-Gvir a apelar à construção de uma sinagoga no Pátio das Mesquitas.

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Itamar-Ben Gvir numa das suas visitas ao Monte do Templo, em Jerusalém Temple Mount Administration/Handout via REUTERS
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O Governo turco considera as declarações do ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, a defender a construção de uma sinagoga no Pátio das Mesquitas como uma tentativa “nova e extremamente perigosa” de alterar o estatuto e a identidade de Jerusalém e dos seus lugares sagrados.

Num comunicado citado pela agência de notícias turca Anadolu, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia considerou que “as declarações do ministro da Segurança Nacional israelita, Itamar Ben-Gvir, sobre a construção de uma sinagoga na mesquita de Al-Aqsa são um exemplo novo e extremamente perigoso de Israel para alterar o estatuto e a identidade de Jerusalém e dos seus locais sagrados”.

Considerando que todas as pessoas com “bom senso” ficaram alarmadas com afirmações que provocaram a ira generalizada no mundo islâmico, o ministério turco chamou a atenção do Governo de Israel de que ataques “contra a mesquita de Al-Aqsa, um lugar sagrado que pertence exclusivamente aos muçulmanos, causam tensões em todo o mundo”.

Para Ancara, Israel é cada vez mais uma ameaça à estabilidade regional e global, nomeadamente por aquilo que está a fazer aos palestinianos e que deveria ser travado pela comunidade internacional.

Na segunda-feira, Ben-Gvir reiterou o apelo para que os judeus sejam autorizados a rezar no Pátio das Mesquitas (Monte do Templo para os judeus), em Jerusalém, atraindo fortes críticas por inflamar as tensões numa altura em que ainda decorrem negociações para um cessar-fogo na Faixa de Gaza. O Hamas já reagiu e pediu que se intensifique a violência na região. Ben-Gvir viu ainda uma nomeação para a polícia bloqueada pela procuradora-geral e uma outra alvo de críticas.

“A política permite orações no Monte do Templo, há direitos iguais entre judeus e muçulmanos — eu construiria uma sinagoga lá”, disse Ben-Gvir numa entrevista à Rádio do Exército na segunda-feira. Foi a primeira vez que o ministro falou na construção de uma sinagoga dentro do Pátio das Mesquitas, depois de reiteradamente ter defendido que os judeus deveriam poder rezar naquele espaço.

O Monte do Templo (como é chamado pelos judeus) é o lugar mais sagrado do judaísmo, por ter o muro exterior do segundo templo (o muro ocidental, onde rezam os judeus). O Nobre Santuário, como lhe chamam os muçulmanos, é, com a mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local sagrado do islão, a seguir a Meca e Medina (na Arábia Saudita).

Quaisquer acções israelitas no local, que está sob alçada da comissão islâmica de Jerusalém Waqf, cujo funcionamento é assegurado com verbas da Jordânia (as forças de Israel, encarregadas da segurança no exterior, impõem por vezes restrições ao acesso), são vistas pelos muçulmanos como um sinal de que Israel pode querer mudar o estatuto do local. Acções de grupos de judeus que desafiam a proibição de outras religiões levarem símbolos religiosos ou rezarem no local, ou que defendem mesmo abertamente a reconstrução do segundo templo no local, fazem com que aumente esse receio.

Em 2000, uma visita do então líder da oposição Ariel Sharon ao local foi a última gota que levou à segunda intifada, também chamada intifada de Al-Aqsa. Esta durou cerca de cinco anos, com atentados suicidas em Israel e acções militares israelitas para reocupar parte da Cisjordânia. Morreram mais de 4000 pessoas.

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