Ex-primeiro-ministro de Israel diz que se Ben-Gvir for ao Pátio das Mesquitas “vão morrer pessoas”

Hamas diz que se Itamar Ben-Gvir for ao local, haverá “violência explosiva”. Autoridade Palestiniana fala em “consequências negativas para toda a gente”.

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A Cúpula do Rochedo, em Jerusalém, situada no complexo que os muçulmanos chamam Nobre Santuário e os judeus Monte do Templo AMMAR AWAD/Reuters

O novo ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, quer fazer uma visita ao Pátio das Mesquitas, em Jerusalém, uma acção que arrisca ter consequências – o Hamas, no poder na Faixa de Gaza, já avisou para “violência explosiva” caso a vista do ministro, de extrema-direita, vá em frente.

Ben-Gvir fez o pedido horas depois de tomar posse como ministro da Segurança Nacional. A polícia vai analisar o pedido do ministro que a tutela, mas segundo a estação pública de televisão pública Kan, o facto de o pedido ter sido anunciado poderá fazer com que a visita não se concretize. Esta segunda-feira, o canal 12 da televisão israelita noticiou que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, falou com Ben-Gvir sobre a questão, mas não foi revelado o conteúdo da conversa.

O ex-primeiro-ministro Yair Lapid disse que a visita seria uma provocação. “Não interessa quão fraco é Bibi [Netanyahu], tem de enfrentar [Ben-Gvir] e dizer-lhe para não ir ao Monte do Templo, porque vão morrer pessoas”, declarou, citado pelo Jerusalem Post.

Esta segunda-feira, o porta-voz do Hamas, Abd al-Latif al-Qanua, disse que o plano era “mais um exemplo da arrogância do governo dos colonos e dos seus planos futuros para danificar a mesquita de Al-Aqsa e a dividir”, cita o diário israelita Haaretz.

Não foi só o Hamas a reagir: o porta-voz da Autoridade Palestiniana, Nabil Abu Rudeinah, afirmou, citado pelo Jerusalem Post, que “as ameaças repetidas de Israel de mudar o statu quo na mesquita de Al-Aqsa trará graves consequências para toda a gente”.

O Monte do Templo (como é chamado pelos judeus) é o lugar mais sagrado do judaísmo, por ter o muro exterior do segundo templo (o muro ocidental, onde rezam os judeus). O Nobre Santuário, como lhe chamam os muçulmanos, é, com a mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local sagrado do islão, a seguir a Meca e Medina (na Arábia Saudita).

Quaisquer acções israelitas no local, que está sob alçada da comissão islâmica de Jerusalém Waqf, cujo funcionamento é assegurado com verbas da Jordânia (as forças de Israel, encarregadas da segurança no exterior, impõem por vezes restrições ao acesso), são vistas pelos muçulmanos como um sinal de que Israel pode querer mudar o estatuto do local. Acções de grupos de judeus que desafiam a proibição de outras religiões levarem símbolos religiosos ou rezarem no local, ou que defendem mesmo abertamente a reconstrução do segundo templo no local, fazem com que aumente esse receio.

Em 2000, uma visita do então líder da oposição Ariel Sharon ao local foi a última gota que levou à segunda intifada, também chamada intifada de Al-Aqsa. Esta durou cerca de cinco anos, com atentados suicidas em Israel e acções militares israelitas para reocupar parte da Cisjordânia. Morreram mais de 4000 pessoas.

Em 2021, a restrição de acesso ao complexo imposta durante o Ramadão e um ataque da polícia aos fiéis muçulmanos na mesquita foi um entre vários factores que contribuiu para o último grande conflito entre o Hamas e Israel, e teve como consequência ainda violência em cidades israelitas, especialmente nas chamadas cidades mistas, entre cidadãos de origem palestiniana (ou árabes israelitas) e judeus.

No ano seguinte, houve novos incidentes no local quando estavam presentes extremistas judaicos – como a mulher de Ben-Gvir, então apenas deputado. O agora ministro da Segurança Nacional defende há muito que os judeus devem poder rezar no Pátio das Mesquitas e já visitou o local várias vezes. Mas esta violência não se transformou num conflito alargado.

Na semana passada, o rei Abdullah da Jordânia avisou que qualquer mudança no local era uma “linha vermelha”. “Se quiserem entrar em conflito connosco, estamos bem preparados”, declarou Abdullah à CNN, na semana passada. “Sempre gostei de olhar para o copo meio cheio, mas temos linhas vermelhas. E se as quiserem ultrapassar, lideraremos com isso.”

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