Portugal tem 15 mil doses de vacinas contra mpox, mas ainda não sabe quantas doará a África

Depois do pedido de apoio da Comissão Europeia, quatro países já anunciaram a intenção de doar vacinas aos países africanos mais afectados. Em Portugal, sobram 15 mil vacinas na reserva nacional.

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O continente africano precisa de dez milhões de vacinas para inocular a população em risco RUNGROJ YONGRIT/EPA
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Há praticamente um milhão de doses de vacinas contra a mpox que deverão ser encaminhadas para o continente africano, depois dos pedidos da Comissão Europeia para que os países europeus contribuíssem para ajudar a conter o surto deste vírus que tem afectado particularmente África – mas não só. Portugal tem 15 mil doses de vacinas na reserva nacional, mas ainda não sabe quantas doará.

O pedido de apoio da Comissão Europeia surgiu após a declaração de emergência internacional de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde, motivada pelo enorme aumento de casos na República Democrática do Congo (mais de 16 mil casos suspeitos desde o início do ano) e sobretudo pela sua disseminação pelos países vizinhos (outros seis países africanos). Os quatro países que já se mostraram disponíveis para ajudar são a Espanha (que doará 500 mil doses), a Bélgica (215 mil), a França e a Alemanha (100 mil). Além destes, os Estados Unidos também já se comprometeram com o envio de 50 mil doses. No total, são 965 mil doses já prometidas.

Em Portugal, ainda não se sabe qual será a resposta. A Direcção-Geral da Saúde (DGS) respondeu ao PÚBLICO que “está ainda em discussão a percentagem de doação que cada Estado-membro pode contribuir” – embora já haja anúncios de outros países. Até esta quarta-feira, não houve novidades quanto à ajuda que Portugal poderá dar aos países africanos afectados pelo surto de mpox (anteriormente conhecida como varíola-dos-macacos ou monkeypox). A DGS avança também que, “de momento, ainda não há prazos estabelecidos” para a decisão destas doações pelos Estados-membros.

De acordo com a DGS, foram doados a Portugal em 2022, à época do surto global de mpox, 11.460 frascos de vacinas – estas vacinas foram compradas através da Comissão Europeia, que depois doou as doses aos países, consoante a população com maior risco de ter a infecção. Ora, cada frasco pode ser dividido até cinco doses da vacina, tornando a reserva original de Portugal contra a mpox em torno das 57 mil doses.

Esta quarta-feira a DGS esclareceu, em resposta ao PÚBLICO, que a reserva nacional de vacinas contra a mpox em Portugal se cinge a 15 mil doses – ou seja, existirão ainda cerca de 3000 frascos dos 11.460 originais. Desde o início da disponibilidade das vacinas, em Julho de 2022, houve 16.706 inoculações, segundo o mais recente relatório da DGS – cujos dados se referem apenas até ao final de Julho deste ano.

No início da vacinação, não havia esta “poupança de doses”​, que permitiu que cada frasco inoculasse cinco pessoas, o que fez com que os frascos de vacinas dessem para menos inoculações – essa estratégia só entrou em vigor em Setembro de 2022. Isto explica, em parte, a utilização de 8000 frascos da vacina ao longo dos últimos dois anos para apenas 16.706 inoculações, que hoje dariam para administrar mais doses.

Meta dos 20%

Mónica García, ministra da Saúde espanhola, anunciou a doação de 500 mil doses (ou 100 mil frascos) depois do pedido da Comissão Europeia, o correspondente a 20% da reserva de Espanha. A ministra espanhola pede, numa publicação na rede social X, que a “Comissão Europeia estenda a todos os Estados-membros a proposta de doar 20% das suas vacinas existentes”. Algo em torno das 3000 doses no caso português, utilizando as estimativas de doses que Portugal ainda terá.

Além das doações dos países, a própria Comissão Europeia doará 215 mil doses da vacina contra a mpox fabricada pela empresa dinamarquesa Bavarian Nordic sob a marca Imvanex (ou Jynneos, nos Estados Unidos e na Suíça).

No total, a entidade responsável pela saúde no continente africano afirmou necessitar de dez milhões de doses para vacinar toda a população em risco – um valor ainda distante.

No surto de mpox centrado em África têm sido detectados sobretudo casos da variante Ia, cuja letalidade e transmissibilidade é historicamente maior do que a variante IIb que afectou todos os continentes a partir de Maio de 2022. No entanto, além dos casos de Ia, a emergência de uma nova variante (a Ib) também causou preocupações – sobretudo devido ao quanto desconhecemos dela. Esta variante também já foi detectada fora de África, com casos confirmados na Suécia e na Tailândia.

Durante o surto global de 2022, a infecção disseminou-se particularmente através de contacto próximo e contacto sexual, sobretudo com homens que têm relações sexuais com outros homens. Neste momento, o surto em África, maioritariamente focado na República Democrática do Congo, tem tido cadeias de transmissão sexual entre trabalhadores do sexo e também homens que têm relações sexuais com outros homens.

No entanto, também é importante notar que três em cada quatro das 975 mortes (suspeitas de terem decorrido da mpox) na República Democrática do Congo foram em crianças, infectadas sobretudo através do contacto próximo com outros casos ou do contacto com lesões provocadas pela mpox.

As mutações no vírus poderão explicar parte da maior transmissibilidade da mpox, mas isso é algo que ainda não sabemos se de facto aconteceu – faltam estudos que o demonstrem.

A vacinação contra a mpox em Portugal é aconselhada, pela DGS, após o contacto com casos de mpox ou então para pessoas com risco acrescido de terem a infecção, como é o caso de pessoas com múltiplos parceiros sexuais, com diagnóstico de infecção sexualmente transmissível nos últimos seis meses ou pessoas em programa Prep (profilaxia preventiva para o VIH), por exemplo.

Os locais de vacinação podem ser encontrados na página da DGS, funcionando todos através de agendamento por telefone ou email. Na região de Lisboa e Vale do Tejo também há um formulário online para marcação de vacina.

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