Varíola-dos-macacos: norma de vacinação deixa de fora pessoas com múltiplos parceiros sexuais

A Direcção-Geral da Saúde publicou nesta terça-feira a norma de vacinação para a varíola-dos-macacos que estabelece uma estratégia preventiva. Ficam agora elegíveis pessoas que fazem PrEP, profissionais de saúde e profissionais do sexo.

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Portugal alarga a vacinação para abranger pessoas que estão em maior risco de ser infectadas DADO RUVIC/REUTERS

A vacinação preventiva contra a varíola-dos-macacos vai abranger pessoas que fazem profilaxia pré-exposição (PrEP, comprimido diário ou intermitente eficaz na prevenção da transmissão do VIH), bem como profissionais de saúde com elevado risco de exposição. De fora da norma de vacinação da Direcção-Geral da Saúde (DGS) ficam as pessoas com múltiplos parceiros sexuais.

Depois do anúncio da confirmação da vacinação preventiva na última quinta-feira, a DGS publica nesta terça-feira a norma de vacinação que define quem está elegível. Além dos já mencionados estão ainda abrangidos por este alargamento os homens que têm sexo com outros homens com VIH e que tenham sido diagnosticados com uma infecção sexualmente transmissível no último ano (IST); homens que têm sexo com outros homens com imunossupressão grave; e homens que têm sexo com outros homens e pessoas trans que sejam profissionais do sexo.

O arranque desta estratégia não foi esclarecido pela DGS. O alargamento da vacinação estava em cima da mesa desde Julho, mas até esta segunda-feira abarcava apenas os contactos de risco com casos confirmados ou suspeitos da doença. A estratégia preventiva pretende vacinar pessoas que possam estar em maior risco no actual momento do surto, dado que a transmissão tem sido observada maioritariamente entre homens que têm sexo com outros homens.

Apesar de poderem estar inseridas nalguns dos grupos elegíveis, ficam de fora pessoas com múltiplos parceiros sexuais, uma das prioridades anunciadas pela antiga porta-voz da DGS para o surto de varíola-dos-macacos (monkeypox ou VMPX), Margarida Tavares. No final de Julho, a agora secretária de Estado para a Promoção da Saúde afirmava ao PÚBLICO que a vacinação preventiva de “pessoas com múltiplos parceiros sexuais, com parceiros novos ou anónimos” era a hipótese mais provável para esta estratégia. Tal não se veio a confirmar.

Na mesma norma, informa-se que “os critérios de elegibilidade para a vacinação preventiva serão revistos de acordo com a disponibilidade de vacinas e a adesão à vacinação”, avançando-se possíveis mexidas no futuro. “Julgo que deveremos assistir a um período mais restritivo inicialmente, seguido de alargamento caso exista essa disponibilidade de vacinas”, justifica Bernardo Mateiro Gomes, especialista em saúde pública, num comentário ao PÚBLICO.

Uma das maiores novidades é a inclusão de profissionais de saúde e técnicos de diagnóstico em risco de exposição ao vírus mais elevado – e que já tinham sido enumerados há três meses pela Organização Mundial da Saúde, mas só agora poderão receber a vacina Imvanex.

Esta segunda-feira, num apelo dirigido à DGS, ao Infarmed e ao Ministério da Saúde, um grupo de 26 organizações não-governamentais reforçava o pedido urgente da vacinação preventiva contra a doença. Em causa estava uma maior celeridade no processo. Um dia depois, a norma de vacinação é publicada, apesar de não satisfazer as pretensões explicitadas no comunicado. Este grupo pedia a inclusão de pessoas com múltiplos parceiros sexuais e homens que têm sexo com homens por serem as que mais têm sido afectadas por este surto. Ambos ficaram de fora.

A aprovação pelo Infarmed da estratégia de “poupança de doses”, em que cada frasco da vacina contra a varíola permite administrar cinco doses da vacina, permitiu este alargamento, já que estão apenas disponíveis 2700 vacinas em Portugal – resultantes da primeira compra conjunta da Comissão Europeia. Esperam-se mais doses no futuro, depois de um novo contrato do organismo europeu com a farmacêutica Bavarian Nordic, responsável pela produção da vacina, que garantiu mais 170 mil doses para serem distribuídas pelos países-membros.

Em Portugal, até 12 de Setembro, foram vacinados 437 contactos de risco.

Depois de mais de 61 mil casos confirmados de varíola-dos-macacos (monkeypox ou VMPX) em todo o mundo, a maioria em países onde o vírus não está habitualmente presente, as expectativas são mais positivas. O continente europeu tem mostrado uma tendência decrescente nos casos confirmados, algo a que Portugal se junta com apenas dez casos confirmados na última quinta-feira (908 no total, desde o início do surto).

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