Vindima com previsões de “quebra de produção” e “ligeiro atraso” em relação a 2023

As previsões de vindima apontam para uma quebra na maioria das regiões, sobretudo no Alentejo e em Lisboa. Principais razões: a instabilidade meteorológica e o míldio da videira.

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Principais razões: a instabilidade meteorológica e o míldio da videira Nelson Garrido
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As estimativas da produção sugerem um decréscimo de 8% face a 2023/2024 Rui Gaudêncio
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Há quebras na ordem dos milhões de litros Anna Costa
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As estimativas da produção de vinho sugerem um decréscimo de 8% face à campanha de 2023/2024, de acordo com os dados de previsão de colheita divulgados pelo Instituto do Vinho e da Vinha (IVV). A maioria das regiões do país regista uma quebra da produção, com destaque para Lisboa (-15%) e para o Alentejo (-10%). Algarve, Beira Interior e Trás-os-Montes deverão aumentar a produção em relação ao ano anterior.

No total, segundo a estimativa de dados do IVV, é expectável que se atinja um volume de produção de vinho de 6.9 milhões de hectolitros. Apesar do decréscimo de 8% face a 2023, a campanha terá um “volume semelhante à média das últimas cinco”, diz o IVV.

A “instabilidade meteorológica durante o ciclo vegetativo da videira” terá favorecido o desenvolvimento de doenças como o míldio. O aumento das temperaturas e o risco de escaldão até à colheita poderão ainda ser determinantes na “quantidade e qualidade da vinha”.

Contactada pelo Terroir, a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana mantém as previsões de uma quebra de 10% na produção, o que significa “um volume na ordem do 110 milhões de litros”, estando na média dos cinco anos anteriores, sublinham.

“No início da Primavera, as vinhas apresentavam um potencial de produção acima da média, dizem. Os níveis de precipitação e as temperaturas mais elevadas terão levado ao míldio da videira. “Em Maio e Junho houve temperaturas acima dos 35 graus que causaram escaldão e secaram cachos. Já em Julho, houve novamente algumas situações de escaldão e desidratação das uvas nos cachos.”

De acordo com a CVRA, o primeiro registo de recepção de uvas aconteceu no dia 17 de Julho. No entanto, “só nas últimas duas semanas a actividade ganhou maior intensidade, beneficiando de boas amplitudes térmicas, que promovem equilíbrio na maturação”.

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No total, é expectável que se atinja um volume de produção de 6.9 milhões de hectolitros Nelson Garrido

Francisco Mateus, presidente da CVRA, afirma que até 26 de Agosto havia registo de vindima de 60% dos produtores da região, com castas brancas e algumas tintas, para a produção de rosés. “Estamos agora a evoluir para a vindima de castas tintas, que são a área mais representativa do Alentejo (79%), pelo que as próximas 6-7 semanas vão ser intensas para os produtores.”

Francisco Toscano Rico, presidente da Comissão Vitivinícola Regional de Lisboa (CVRL), também confirma as previsões apontadas pelo IVV, com um decréscimo de 15% de produção face à campanha anterior. “Ainda assim, representa um diferencial positivo, cerca de 3%, acima da média das últimas cinco campanhas”, diz ao Terroir. “O ano passado tivemos uma campanha muito abundante, das maiores desde que me lembro. É normal que haja uma alternância na vinha. Cedo se percebeu que tínhamos menos cachos.”

O presidente da CVRL diz que a campanha foi muito “castigada com a questão climática”. “A precipitação em determinadas alturas levou ao desenvolvimento de míldio, muitíssimo forte. É um ano em que vai fazer toda a diferença o grau de profissionalismo e a capacidade de intervenção dos viticultores”, garante. “Quem tratou preventivamente, quem conseguiu entrar na vinha no momento certo, não tem perdas significativas na produção e tem qualidade na vinha.”

Também na região dos Vinhos Verdes, “a incidência de míldio e black rot [outra doença da videira]” afectaram a produtividade de algumas vinhas, de acordo com Dora Simões, presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV). “As temperaturas apresentaram valores médios mais elevados que em 2023 em parte do ano, o que influenciou o ciclo vegetativo das videiras, causando um abrolhamento mais precoce, mas atrasando a floração em Maio, devido a baixas temperaturas durante este mês.”

De acordo com a presidente da CVRVV, a vindima está “algo atrasada em relação a 2023”. “Ainda não se iniciou em larga escala na região, mas estima-se que a produção poderá estar ao nível das verificadas o ano passado, cerca de 90 milhões de litros, sendo sempre possível haver variações ligeiramente acima ou abaixo destes valores.”

As previsões divulgadas pelo IVV apontam para uma quebra de 5% na produção. Dora Simões afirma que é preciso esperar pelo mês de Setembro. “Ainda é cedo para saber exactamente como irá fechar o ano de 2024 relativamente ao volume total, pois ainda só se iniciaram as vindimas para espumante e a vindima de castas mais precoces, mas pode-se desde já avançar que a qualidade geral das uvas é bastante boa e, se as condições actuais se mantiverem, será um ano de excelente qualidade de uvas para a Região dos Vinhos Verdes.”

Henrique Soares, presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal, diz que a vindima na região está “ligeiramente atrasada”, o que se deve ao clima. A previsão é também de uma quebra de 5% em relação a 2023, mas com “altas expectativas face à qualidade”. “Tudo aponta para um ano de muito boa qualidade, devido à chuva que foi relativamente frequente e que não impactou em nenhuma fase mais sensível do ciclo vegetativo da videira”, explica. “Não tivemos também calor excessivo, com poucos dias acima dos 35 graus, pelo que a maturação ocorreu sem grandes choques térmicos.”

Também no Douro, com previsões a apontarem para uma quebra de 5%, Rui Soares, presidente da Associação dos Viticultores Profissionais do Douro (ProDouro), diz que a vindima está numa fase inicial, com um “atraso na colheita em relação a 2023 e 2022”. No entanto, estas também foram “campanhas precoces, se olharmos para a média dos últimos dez anos”, sublinha.

“Ainda é cedo para fazermos contas mas diria que há uma ligeira quebra na região toda, um pouco menos de uva, mas nada muito significativo”, continua. “As vinhas estão com bastante vigor, choveu bastante no Inverno e na Primavera, não tivemos grandes vagas de calor na região e o escaldão não fez grande mossa. Temos matéria-prima de excelente qualidade.”

De acordo com as previsões iniciais do IVV, as únicas regiões que deverão aumentar a produção em relação ao ano anterior serão o Algarve (+7%), a Beira Interior (+15%) e Trás-os-Montes (+8%). Sara Silva, presidente da Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA), estima um aumento de 7% na região, “impulsionado pela entrada em produção de novas vinhas com uva de qualidade e boa maturação”, diz. “A rega localizada e a precipitação ocorrida na Primavera acabaram por beneficiar o desenvolvimento das videiras.” Na região também houve focos de míldio, “que foram controlados” e não tiveram grande impacto na produção.

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