Idiotice não tem passaporte

Uma epidemia de idiotice assola nosso planeta. A internet acaba sendo palco principal disso tudo. Ódio, intolerância, preconceito, xenofobia. Isso dá engajamento, curiosidade mórbida que só adoece.

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"Volta pra sua terra, mas me leva junto com você! Pois eu adoro teu país!"

Vi isso num desses vídeos nas redes sociais esses dias, e fiquei maravilhado com a cena. Um susto, um gesto de amor ou solidariedade. Era um senhor português com uma expressão sisuda que falava isso para um casal de brasileiros.

Em um primeiro momento, os brasileiros ficaram paralisados, mas quando entenderam a brincadeira, correram para o abraço. Foi lindo! Fico imaginando o brinde que foi feito na sequência, com uma ginja ou com uma bela caipirinha… A sensibilidade desse senhor português me comoveu profundamente. E é assim mesmo que se combate a idiotice!

Ah, a idiotice, ela está em todo lado. Uma epidemia de idiotice assola nosso planeta. A internet acaba sendo palco principal disso tudo. Ódio, intolerância, preconceito, xenofobia. Isso tudo dá engajamento, como se fosse uma curiosidade mórbida qualquer, que só adoece nossa noção da realidade.

Nas ruas, pessoas infelizes, bombas-relógio com pernas e braços, bocas nervosas, prontas para o ataque. Invariavelmente, somos confrontados por pessoas e ideias ignorantes, absurdas, obscenas. Mas o que temos com isso?

Quando vejo qualquer cena dessas fico triste, mas sigo meu caminho. Aquilo não está em mim, não me pertence. Não sou justiceiro, nem super-herói. E como acredito na lei do retorno e que tudo, absolutamente tudo, está em órbita, deixo que a vida seja responsável pela punição de um idiota ativo aparente qualquer. Brasileiro ou português! Não importa! A idiotice, definitivamente, não tem passaporte!

Talvez, brasileiros e portugueses tenham uma sina qualquer de estarem juntos, mesmo quando querem se separar. Se é que querem mesmo. O brasileiro sabe festejar, tem alegria. O português cultua a saudade. O fado e o samba, dois poetas, dois amigos unidos pela língua e pelo destino.

Por mais que um lado grite, o outro acaba sempre sussurrando de volta, como quem pede desculpa, como quem confessa que, no fundo, estava mesmo com saudades. Portugal e Brasil, dois lados da mesma moeda, uma relação que tem seus altos e baixos, mas que, de alguma forma, sempre encontra um jeito de se reconciliar.

O português é o avô que reclama, mas que, no final do almoço, conta uma piada. O brasileiro é o neto que chega de chinelos, camiseta e boné para trás, mas que ganha o coração de todo mundo com sua alegria contagiante.

É isso que faz essa relação tão bela e única. Por mais que tentem nos afastar, somos atraídos um pelo outro, seja pela língua, seja pela cultura, pela história compartilhada ou simplesmente pelo carinho que cultivamos um pelo outro. E assim seguimos nessa dança que é só nossa, às vezes tropeçando, mas nunca parando de dançar!

Tenho tantos amigos portugueses que estão sempre no Brasil, no Rio de Janeiro, na Bahia, em todo lado. Muitos, e cada vez mais. No verão carioca, o Rio é invadido por portugueses de havaianas, que se misturam, que criam elos. Não temos como fugir um do outro, temos um caso de amor profundo. Porém, como em toda relação, há condições para que a harmonia permaneça intacta.

A regra principal: o respeito que nós, brasileiros e portugueses, temos que ter pela cultura, tanto cá, quanto lá. No fundo, gostamos desse intercâmbio cultural, dessa bagunça que tempera nossas vidas.

Chico Buarque já dizia: “Tantas léguas a nos separar, tanto mar, tanto mar, mas também como é bonito pá, navegar, navegar. Canta primavera pá, cá estou carente, manda novamente algum cheirinho de alecrim… E que nossa festa continue, pois esqueceram a semente do amor entre nós em algum canto de jardim…”

As interferências idiotas nas nossas relações não fazem sentido. Vamos em frente, portugueses que têm CPF, brasileiros que têm NIF. Em frente e em paz!

Portanto, que voltemos um para a terra do outro, sempre de mãos dadas, com respeito, de coração aberto, pois, assim, somos mais fortes e mais belos.

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