Sismo: não foi um teste, foi um aviso
É preciso conhecer melhor as zonas de risco, fiscalizar melhor, informar melhor, ouvir os avisos e “aprender”.
Passado o susto inicial, sismos como os da madrugada desta segunda-feira devem ser encarados como avisos. Sérios. Vivemos numa região especialmente sensível, sabemos que outros virão. Por isso, é essencial ouvir o que os especialistas têm para nos dizer e “aprender” — “temos todos de aprender”, como Marcelo Rebelo de Sousa repetiu na sua intervenção pós-abalo. Quatro avisos que ficam depois de um dia inteiro a falar de tremores de terra.
Primeiro: é preciso estar preparado para comunicar melhor. Às 5h11, a terra tremeu e muitos dos que acordaram viram o que aconteceu de seguida. O site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) bloqueou. Não houve informação oficial à população nos minutos que se seguiram. Mas vivemos na era da informação global, claro que quem escreveu a palavra “sismo” no motor de busca da Google recebeu nesse mesmo segundo a informação de que se registara um “terramoto” que afectara “Gibraltar, Marrocos, Portugal e Espanha”. É preciso garantir que um site como o do IPMA não bloqueia se os acessos disparam.
Segundo: é preciso conhecer melhor a realidade geológica portuguesa e identificar de forma mais precisa as zonas de risco. E isso significa mais investigação. Apesar dos avanços no mapeamento ao longo das últimas décadas, alguns cientistas alertaram para o escasso conhecimento das falhas activas e do tipo de sismos que aquelas podem gerar. O abalo desta segunda-feira ocorreu, de resto, num sítio onde não havia nenhuma falha activa mapeada.
Terceiro: só na Área Metropolitana de Lisboa, dois terços dos edifícios onde vivemos, onde trabalhamos, onde somos atendidos nos mais diversos serviços, foram construídos antes de existir legislação de protecção sísmica eficaz. A Câmara Municipal de Lisboa anunciou que está a “avaliar sismicamente mais de 1500 edifícios municipais” e que 10% precisam de “reforço” contra terramotos. Muitos outros também precisarão de ser avaliados.
Quarto: o Presidente da República diz que é importante debater a questão da protecção sísmica na “construção de grandes obras públicas”. Vários peritos têm alertado para falhas na fiscalização. Garantir que as regras existentes, seja na construção seja na reabilitação, são respeitadas é essencial. Parece consensual que Portugal tem boa regulamentação, mas ela só protege a população se for aplicada.
Nesta segunda-feira, o abalo que despertou o país mais cedo do que é habitual não provocou danos nem vítimas. Não foi um teste a nenhum dispositivo de emergência, não foi preciso, felizmente, ir para o terreno. Mas foi um aviso. Saibamos ouvir.