Macron afasta governo da Nova Frente Popular em nome da “estabilidade institucional”

O anúncio foi feito pelo Presidente francês na tarde desta terça-feira, justificando com o facto de o seu programa ser “imediatamente” alvo de uma moção de censura na Assembleia Nacional.

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O anúncio foi feito pelo gabinete do Presidente esta tarde, depois do fim das negociações. TERESA SUAREZ / POOL / EPA
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O Presidente francês Emmanuel Macron anunciou esta tarde que afastava a possibilidade de empossar um Governo da Nova Frente Popular, citando como justificação a "estabilidade institucional" face à elevada probabilidade de o programa da esquerda sofrer uma moção de censura na Assembleia Nacional.

"Concluídas as negociações, o Presidente da República constatou que um governo baseado unicamente no programa e nos partidos propostos pela aliança com mais deputados, a Nova Frente Popular, seria imediatamente censurado por todos os outros grupos representados na Assembleia Nacional", lê-se no comunicado divulgado pelo gabinete presidencial do Presidente francês.

"Um governo assim teria imediatamente contra si uma maioria de mais de 350 deputados, o que o impediria de actuar. Tendo em conta a opinião dos responsáveis políticos consultados, a estabilidade institucional do nosso país não permite que esta opção seja adoptada", acrescentou Macron.

O comunicado surge no fim de várias reuniões com os partidos, que começaram na sexta com a Nova Frente Popular e os partidos macronistas e acabaram hoje com o partido da extrema-direita União Nacional e a facção sua aliada d'Os Republicanos, partido de direita.

Emmanuel Macron apelou ainda a uma nova ronda de reuniões com os responsáveis dos partidos e com "personalidades que se distinguiram pela sua experiência ao serviço do Estado e da República", excluindo, no entanto, a França Insubmissa e a União Nacional desta nova ronda de negociações, tendo apelado a forças centristas e aos partidos da esquerda para tentarem chegar a um acordo. "A minha responsabilidade é garantir que o país não seja bloqueado nem enfraquecido", concluiu Macron.

Revolta na França Insubmissa

Jean-Luc Mélenchon, fundador da França Insubmissa, afirmou na rede social X que a "resposta popular e política deve ser rápida e firme", afirmando que iriam apresentar um pedido de destituição e, eventualmente, iriam apresentar uma moção de censura a um "governo de direita". Mélenchon considerou ainda que o Presidente francês criou "uma situação excepcionalmente grave" e que "as organizações empenhadas na defesa da democracia devem iniciar uma resposta conjunta".

Na página do partido na rede social X, a França Insubmissa pediu "uma reacção firme da sociedade francesa contra o incrível abuso de poder autocrático de que é vítima", acrescentando que o momento era grave e pedindo a realização de "marchas pelo respeito à democracia"

O coordenador da França Insubmissa, Manuel Bompard, reagiu ao comunicado de Macron afirmando que o Presidente estava a fazer um "golpe antidemocrático totalmente inaceitável", em declarações à televisão francesa BFM. "Se há outra coligação possível, então o Presidente da República tem de nos dizer qual é. O Presidente da República está a sentar-se sobre os resultados das eleições legislativas e a agir como se não tivesse havido votação", acrescentou, tendo sublinhado que é a Nova Frente Popular que deve constituir o novo Governo do país.

Mathilde Panot, presidente do grupo parlamentar da França Insubmissa, também prometeu que iriam apresentar uma moção de censura à "nomeação de qualquer outro primeiro-ministro" e ameaçou novamente com a destituição do Presidente francês. "Se o Presidente da República persistir na sua negação, daremos início a um processo de destituição contra ele, em conformidade com o artigo 68.º da Constituição", ameaçou Panot, na rede social X.

Parceiros da Nova Frente Popular contra a decisão de Macron

Marine Tondelier, líder dos Ecologistas, considera que a declaração de Macron era "uma vergonha".

"Invocar a estabilidade quando se dissolveu o governo sem qualquer consulta e quando se recusa a aceitar os resultados de uma eleição para a qual os franceses nunca compareceram em tão grande número, é perigosamente irresponsável", sublinhou Tondelier, afirmando que pretendem cumprir com "uma ruptura política com o macronismo", mesmo com um convite feito abertamente pelo Presidente no comunicado emitido esta segunda.

Já Fabien Roussel, secretário-geral do Partido Comunista Francês, apelou, no canal de televisão francesa BFM, a "uma grande mobilização popular" e considerou a proposta de Macron, de o partido se juntar a partidos de direita num governo, "não-séria". "Se é para nos fazer reunir novamente e pedir-nos que formemos um governo para implementar a política do [actual] governo, em nome da estabilidade, não vale a pena", acrescentou.

A porta-voz do Partido Socialista, Chloé Ridel, diz que "o golpe do Presidente é insuportável" e que Macron "não ouve" a coligação e que as reuniões foram uma "farsa", pois "ele já sabia o resultado – a rejeição de um governo de esquerda". "Que outra coligação, além da NFP, encarnaria a alternância que os franceses queriam e seria mais “estável”? Nenhuma...", disse.

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