Pintura roubada pelos nazis é devolvida aos herdeiros dos proprietários judeus

Saqueada pela Gestapo em 1942, a obra do pintor alemão Carl Blechen estava destinada a integrar o museu nunca realizado de Hitler, em Linz.

Foto
O Vale dos Moinhos perto de Amalfi era propriedade do Estado alemão desde 1960 Fundação do Museu Príncipe Pückler - Parque e Castelo Branitz
Ouça este artigo
00:00
02:51

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Uma obra do pintor paisagista alemão Carl Blechen (1798-1840), saqueada pelos nazis em 1942, foi devolvida aos herdeiros dos seus legítimos proprietários, noticiou esta sexta-feira o site ArtNews.

Valley of Mills near Amalfi (O Vale dos Moinhos perto de Amalfi, datada de 1830) foi adquirida em Berlim pelo médico D.H. Goldschmidt e herdada pelos seus filhos. Os dois irmãos suicidaram-se após os ataques contra a comunidade judaica naquela que ficou conhecida como a “Noite de Cristal” (“Kristallnacht”), o pogrom de Novembro de 1938 que viria a intensificar a perseguição anti-semita pelos dirigentes nazis.

Este quadro, bem como a colecção de arte dos irmãos, acabou por ficar nas mãos do sobrinho, Edgar Moor, que emigrou para a África do Sul, deixando as obras no apartamento de Berlim que partilhava com os tios. Estas foram roubadas pela Gestapo (a polícia secreta da Alemanha nazi) em 1942, e O Vale dos Moinhos perto de Amalfi foi comprada pela Comissão Especial de Linz, de Adolf Hitler, para ser exposta no Fürhermuseum, o museu projectado, mas nunca realizado, por Hitler na cidade onde cresceu (Linz, na Áustria).

O quadro de Blechen foi agora restituído à família, pela mão da Administração Federal de Arte da Alemanha, organismo dedicado a investigar a proveniência de bens culturais do Estado alemão e a rastrear as peças saqueadas pelos nazis. “A devolução desta obra é de grande importância para a família e para a sua história”, declarou um representante do herdeiro de Moor. “O meu cliente está muito grato pelo reconhecimento de que este roubo foi o resultado da perseguição dos irmãos Arthur Goldschmidt e Eugen Goldschmidt.”

“A investigação sobre o roubo de bens culturais pelos nazis é uma parte importante da memória dos perseguidos pelo regime nazi”, declarou, por sua vez, Claudia Roth, ministra da Cultura alemã, num comunicado de imprensa. “Com a devolução da pintura de Carl Blechen, os destinos de Arthur e Eugen Goldschmidt, bem como de Edgar Moor, tornam-se agora um pouco mais visíveis.”

Depois da Segunda Guerra Mundial, em 1952, O Vale dos Moinhos perto de Amalfi ficou sob alçada do governo federal alemão e tornou-se propriedade do Estado em 1960. Mais recentemente, foi emprestado à Fundação do Museu Príncipe Pückler - Parque e Castelo Branitz, na cidade alemã de Cottbus.

Em Junho, o Kunsthaus de Zurique, um dos mais célebres museus suíços, anunciou que iria deixar de ter expostas cinco pinturas de Claude Monet, Gustave Courbet, Henri de Toulouse-Lautrec, Paul Gauguin e Vincent van Gogh, seguindo novas directrizes internacionais sobre arte saqueada pelos nazis. Estas obras pertencem à colecção de Emil Bührle, fabricante e vendedor de armas alemão, naturalizado suíço, que entre 1940 e 1944, segundo números apresentados pelo portal de notícias SwissInfo, vendeu à Alemanha material de guerra no valor de mais de 400 milhões de francos suíços.

Sugerir correcção
Ler 7 comentários