Truque de circo — as delícias da vida de um equilibrista da saúde

Creio que, para sermos saudáveis, é preciso fazer malabarismo pelo resto da vida para que possamos ter pequenos momentos de prazer, como tomar uma taça de vinho e comer uma porção de batatas fritas.

Ouça este artigo
00:00
03:32

Os artigos escritos pela equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.

Acesso gratuito: descarregue a aplicação PÚBLICO Brasil em Android ou IOS.

Por volta de 2010, trabalhei em uma revista feminina no Brasil. Minha chefe era uma mulher incrível, linda e poderosa no alto dos seus 50 e tantos anos. Um dia, no meio de uma reunião, ela afirmou que fazia 17 anos que não comia uma batata frita. Nós, pobres jornalistas normais, que mal conseguíamos resistir a um biscoito de água e sal, ficamos boquiabertas. Dezessete anos sem aquele prazer imenso de colocar na boca uma delícia crocante, salgadinha e saborosa!?

Se olharmos por qualquer parâmetro, batata frita não faz bem. Tem muita gordura e sal. Se for de pacote então, pior ainda. Adicionam gordura trans, produtos de nomes impronunciáveis e conservantes. Não é um alimento saudável e ainda engorda horrores. Isso quer dizer que está proibida para o resto da vida? Não.

Então pode comer batata frita? Pode. Todos os dias? Você sabe a resposta. Refrigerante, pode? Melhor evitar. Bebidas alcoólicas? Se formos seguir as indicações da Organização Mundial de Saúde (OMS), não existem níveis seguros de consumo. Outras instituições recomendam não mais do que duas doses por dia para os homens e uma para as mulheres, no máximo cinco vezes por semana. Mas o vinho, a cerveja e os drinks não são só o líquido que está no copo. Eles estão muito ligados à vida social, aos encontros que deixam as pessoas mais felizes. E o isolamento, dizem os especialistas, não é bom para as saúde física e mental e pode ser prejudicial para o cérebro.

A maioria das pessoas tem noção do que faz bem. Já ouvimos mil vezes que fazer exercícios e comer mais frutas e verduras é importantíssimo, e que os alimentos ultraprocessados não deveriam ser consumidos. Mas a vida é complicada e cansativa, temos muito trabalho e pouco tempo, somos bombardeados com informações contraditórias e não aguentamos mais tantas recomendações: coma isto, tome água, evite sal, açúcar e gordura, isso faz bem, isso faz mal... Como descobrir o que é verdade? Como encontrar horas extras para cozinhar refeições saudáveis? Como conciliar carreira, família, amigos e tempo para o ginásio (ou a academia, como dizemos no Brasil)?

No dia que eu encontrar uma resposta, juro que conto para vocês. Mas, por enquanto, dou uma dica que descobri depois de anos tentando não derrubar todos esses pratinhos: procurar o equilíbrio. Pode beber? Pode, mas tente beber pouco, de preferência o menos possível. Principalmente se você quer emagrecer. É quase um milagre. Um pouco antes de fazer 50 anos, resolvi ficar um ano sem tomar bebidas alcoólicas. Não fiz qualquer alteração na alimentação ou na ginástica e perdi cinco quilos.

É difícil ficar sem o vinho em um jantar romântico ou sem beber uma cervejinha num dia de praia? É um desafio. Mas a beleza do equilíbrio é que a gente se acostuma rapidamente. O paladar muda. A cerveja que era deliciosa perde um pouco a graça. O vinho parece mais forte.

Quinze anos mais tarde, minha chefe continua maravilhosa e faz o maior sucesso em sua conta no Instagram, onde aparece sempre linda, forte e poderosa. Imagino que continue sem colocar uma batata frita na boca. Mas não creio que, para sermos saudáveis, seja preciso fazer o malabarismo de passar o resto da vida sem esses pequenos momentos de prazer.

Sugerir correcção
Comentar