A última ou a primeira ceia?

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Olhando ainda o passado recente (mas também como tema presente e futuro). Na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris assistiu-se a uma produção musical e cénica bem diferente de tantas outras, desde logo pela diversidade dos elementos em cena, incluindo o protagonista principal. Tratou-se, na tradução da imprensa, de faustoso banquete protagonizado por artistas drag e dançarinos, acompanhados da presença da DJ e produtora Barbara Butch, um ícone LGBTQ+ (que depois veio a receber ameaças de morte).

De pronto, sectores religiosos sentiram-se ofendidos, pois os seus olhos só viram uma paródia a A Última Ceia, de Da Vinci, que retrata uma cena da Bíblia. A imprensa adiantou que os registos reprovadores se cifraram, por exemplo, em afirmações como “cenas de escárnio e troça do cristianismo”. Segundo parece, um sentimento partilhado pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova. Contudo, o director artístico da cerimónia, Thomas Jolly, adiantou que a performance era, afinal, uma mera referência aos deuses pagãos da Grécia Antiga, onde nasceram as olimpíadas. Conforme o noticiado, “queríamos uma cerimónia que juntasse as pessoas, que as reconciliasse".

E, nestas circunstâncias, surge Dionísio, o deus grego do vinho e do prazer, que era pai de Sequana, a deusa do rio Sena. “A ideia era fazer uma grande festa pagã ligada aos deuses do Olimpo”, disse Jolly ao canal BFM. “Nunca encontrará no meu trabalho qualquer desejo de denegrir alguém." A cena pretendia ainda promover “a tolerância às diferentes identidades sexuais e de género”.

Das enciclopédias retira-se que Dionísio era reconhecido como o deus do vinho, das festas, do teatro, muito relacionado com a alegria humana. Era conhecido como filho de Zeus e de uma mulher mortal chamada Sémele.

“Dionísio era representado nas cidades gregas como o protector dos que não pertencem à sociedade convencional e, portanto, simboliza tudo o que é caótico, perigoso e inesperado, tudo o que escapa à razão humana e que só pode ser atribuído à acção imprevisível dos deuses.”

“Às vezes sinto-me mulher, às vezes sinto-me homem.” Palavras de Nikki Hiltz, dos Estados Unidos da América, que competiu nos 1500 metros femininos (sétimo lugar na final). Declara-se transgénero não-binária de género fluido.
Dionísio também ganhou uma medalha de ouro em Paris.

josemeirim@gmail.com

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