Minha casa portuguesa

Nós, brasileiros, somos a maior comunidade imigrante em Portugal, e já representamos 35% dos mais de 1 milhão de estrangeiros residentes no país. Posso dizer que ainda me sinto um pouco no Brasil.

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Os artigos escritos pela equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.

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Eu vivo há três anos em Lisboa, e posso dizer que ainda me sinto um pouco no Brasil.

O sotaque brasileiro me acompanha nas ruas, na academia (ginásio) onde eu malho, nos cafés, nos restaurantes, nos aplicativos de carros que me transportam de um canto a outro da cidade.

Não é de se estranhar! Nós, brasileiros somos a maior comunidade imigrante em Portugal, e já representamos 35% dos mais de 1 milhão de estrangeiros residentes no país.

Mas será que basta ouvir o som do português do Brasil para que meu coração se sinta aconchegado? Ou temos semelhanças que nos aproximam e quase nos fazem sentir em casa nesse cantinho europeu?

Os doces portugueses me acompanham desde a infância. Nasci em Pelotas, a cidade mais doce do Brasil, e, modéstia à parte, capaz de tornar as delícias portuguesas ainda mais saborosas.

Ao sentar à mesa de uma casa portuguesa, reconheço muito dos pratos que bisavós ou avós já nos tinham apresentado no Brasil.

Ok dizer que somos mais festeiros e, talvez, alegres. Criamos o samba e não o fado, e acho que preferimos cantar mais alegrias do que sofrimentos.

Somos mais falantes, menos dramáticos...

Usamos mais gerúndios e menos diminutivos, o que considero um jeitinho carinhoso que o português tem de tratar a própria língua.

Gosto de ouvir:

- Adeus, beijinhos..

- Anda cá provar um bolinho..

- Come mais um bocadinho…

Portugueses também sabem ser acolhedores, oferecer mesa farta e gargalhar com as nossas brasileirices.

Acho que valorizam a nossa alegria! E eu valorizo a acolhida que tive aqui, e a tranquilidade de poder caminhar nas ruas em segurança e liberdade.

Então, se você é um recém-chegado, ou em vias de chegar, meu primeiro conselho é: perca-se!

Portugal permite que a gente se perca sem medo!

Entre nos becos de Lisboa, nas ruelas, suba e desça as escadinhas e aproveite os inúmeros recantos da capital portuguesa!

Vá até o Miradouro de Santa Luzia, aprecie o caramanchão florido e a vista colorida da cidade. Desça para vasculhar com calma o bairro de Alfama, com seu traçado que nos remete à antiga Lisboa, anterior ao terremoto de 1755.

Sim, aqui a terra por vezes treme, e o daquele ano foi avassalador, um divisor de águas na cidade.

Da destruição surgiu a Baixa Pombalina, criação do famoso Marquês de Pombal, e que nos oferece ruas largas e planas, entre a Avenida da Liberdade e o Terreiro do Paço.

Reserve um tempinho ali e desfrute a linda Praça do Comércio.

Repare nos arcos e paredes de pedra originais no interior de algumas lojas por onde você passa.

A segunda capital mais antiga da Europa reserva surpresas no caminho. Uma capela, uma fachada, uma parede de azulejos…

Caminhe como um arqueólogo durante uma escavação! Garanto que Lisboa vai lhe surpreender, e com carinho, calma e atenção, se calhar, essa também pode ser a tua/vossa casa!

Bem-vindo a Portugal!

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