Shein revela casos de trabalho infantil depois de auditorias aos fornecedores

De um modo geral, os resultados da auditoria publicados pela Shein revelam um número de infracções menos graves do que no ano passado. A empresa tem um total de 5800 fabricantes contratados.

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Dado Ruvic/Reuters/Arquivo
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No ano passado, a retalhista de moda rápida Shein encontrou dois casos de trabalho infantil entre os seus fornecedores, revela no seu relatório de sustentabilidade de 2023, conhecido nesta quinta-feira. À medida que intensificou as auditorias aos fabricantes na China para contestar as críticas ao seu modelo de negócio de baixo custo.

No seu relatório, a Shein afirma ter suspendido as encomendas a fornecedores que empregavam menores de 16 anos, voltando a abastecer-se junto deles apenas depois de terem reforçado os seus processos, incluindo a verificação dos documentos de identidade dos trabalhadores.

A empresa afirmou que ambos os casos tinham sido "resolvidos rapidamente", com medidas de correcção que incluíam o fim dos contratos dos trabalhadores menores de idade, a organização de exames médicos e a facilitação do repatriamento para os pais ou tutores, se necessário.

A Shein reforçou a sua política de fornecedores em Outubro passado, após a descoberta dos casos de trabalho infantil, de modo a que quaisquer infracções graves — designadas por "Violações de Rescisão Imediata" — resultassem no fim imediato da relação com o fornecedor.

Anteriormente, os fornecedores, como os que empregavam menores, tinham 30 dias para resolver o problema. Annabella Ng, directora sénior das relações governamentais globais da Shein em Singapura, afirmou que a política actualizada da cadeia de abastecimento teve em conta as reacções das entidades reguladoras e dos fornecedores.

A empresa não havia informado anteriormente o número de casos de trabalho infantil, citando apenas a percentagem de auditorias que encontraram menores no local de trabalho. Essa violação foi encontrada em 1,8% das auditorias de fornecedores em 2021, 0,3% das auditorias em 2022 e 0,1% em 2023.

"Continuamos vigilantes na protecção contra este tipo de violações e, em conformidade com as políticas actuais, iremos pôr termo a todos os fornecedores não conformes", afirma a Shein no relatório.

A retalhista, que cresceu rapidamente online, vendendo tops a 5€ e vestidos a 10€, a compradores em todo o mundo, disse que 3990 auditorias foram realizadas em 2023, contra as 2812 em 2022 e 664 em 2021.

No ano passado, recorreu ao Bureau Veritas, Intertek, Openview, SGS, TuvRheinland e QIMA para 92% das suas auditorias e afirmou que pretende que 100% dessas auditorias sejam efectuadas por essas agências.

De um modo geral, os resultados da auditoria publicados pela Shein revelam um número de infracções menos graves do que no ano passado.

Aumento de emissões

O relatório de sustentabilidade de 2023 da Shein, publicado mais de um ano depois do relatório de 2022, será analisado pelos investidores que ponderam se devem comprar acções do retalhista, se e quando este se apresentar à Bolsa londrina. O grupo apresentou um pedido de oferta pública inicial em Londres no início de Junho.

Numa nota introdutória, o CEO da Shein, Sky Xu, afirmou que a melhoria da governação da cadeia de abastecimento da Shein e a gestão da sua pegada de carbono, em especial as emissões indirectas de "âmbito 3", eram áreas "críticas" para a empresa.

A Shein envia produtos directamente dos fornecedores na China para os clientes por via aérea, e as suas emissões provenientes do transporte de produtos mais do que duplicaram em 2023, atingindo 6,35 milhões de toneladas de equivalente de dióxido de carbono, segundo o relatório.

A empresa tem um total de 5800 fabricantes contratados, a maioria dos quais está localizada na província chinesa de Guangdong.

Começou a abastecer-se de alguns produtos junto de fornecedores mais próximos dos seus consumidores, na Turquia e no Brasil, o que, segundo a empresa, a ajudará a reduzir as emissões dos transportes. A empresa afirmou ter poupado 49.578 toneladas de equivalente a CO2 no ano passado, ao passar do transporte aéreo para o marítimo e terrestre.

A Shein afirma que, em Junho deste ano, submeteu os objectivos de redução das emissões à Science-Based Targets Initiative, o principal árbitro mundial da forma como as empresas estabelecem objectivos climáticos, e que está a passar pelo processo de validação.

A empresa informa ainda ter criado, em Julho do ano passado, um comité de sustentabilidade a nível do conselho de administração, composto pelo seu CEO, presidente executivo e três representantes dos investidores — Jiajia Zou, sócio da HongShan, Cornelia Gomez, directora global de ESG da General Atlantic, e Josh Raffaelli, sócio-gerente da Brookfield Growth.

Questionada sobre se a Shein tinha criado o comité para reforçar a sua governação devido à futura emissão de acções, Ng disse que não podia comentar quaisquer questões relacionadas com essa intenção.

"Mas, sem dúvida, temos procurado melhorar as nossas estruturas de governação como parte do nosso percurso global, no sentido de uma maior transparência e responsabilização", conclui.

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