Incêndio na Madeira. Fogo chegou ao Pico Ruivo e há reforço de meios a caminho

Fogo no Curral das Freiras alastrou para a cordilheira central da região e atingiu o Pico Ruivo, onde há 22 operacionais e 7 veículos. Há ainda outra frente activa, na Ponta do Sol.

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Fogo na ilha da Madeira lavra desde a passada quarta-feira HOMEM DE GOUVEIA / LUSA
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O incêndio da Madeira progrediu e atingiu o Pico Ruivo durante a noite desta terça-feira, de acordo com a Protecção Civil regional, que pediu um novo reforço de mais 45 operacionais do Continente, que deverá chegar esta quarta-feira à região. Este incêndio, que começou na serra de Água, na Madeira, na passada quarta-feira, consumiu uma área de 8973 ​hectares, segundo os últimos dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais, o que representa mais de 14% de toda a área florestal da ilha da Madeira.

“O pior cenário que temos neste momento é o que decorre da propagação do fogo no Curral das Freiras que progrediu pela cordilheira central da região e atingiu o Pico Ruivo. Esta é uma zona muito complexa. Não se consegue actuar nesta zona devido às condições do terreno”, adiantou à agência Lusa o presidente do Serviço Regional de Protecção Civil.

De acordo com António Nunes, os operacionais estão a tentar conter a progressão para sítios mais problemáticos, mas a situação "não apresenta melhorias, bem pelo contrário".

Em directo para a RTP3 na manhã desta quarta-feira, o responsável disse que o Pico do Areeiro está a viver “um cenário bastante preocupante face à dimensão das chamas e da área que está a cobrir neste momento”. Neste local, estão sete meios e 22 operacionais. "É o possível porque as zonas são todas elas inacessíveis e não há qualquer forma de chegarmos ao sítio onde as chamas estão a lavrar”, explicou António Nunes, acrescentando que as autoridades estão “expectantes para ver, com o evoluir do dia, o que vai resultar”.

Os operacionais que estão no terreno estão a “fazer faixas de contenção, com equipamentos motorizados para ver se se consegue evitar a progressão para zonas onde existam habitações ou outras infra-estruturas”, mas nesta altura não há habitações em risco, avançou ainda António Nunes. “Esta frente de fogo que temos no Pico do Areeiro decorreu do incêndio que lavrou durante o dia de ontem no Curral das Freiras e que progrediu naturalmente naquela direcção”.

Na Ponta do Sol, onde há outra frente activa, as autoridades continuam a “desenvolver trabalhos" e esperam que as operações tenham sucesso e que, durante a manhã, consigam libertar profissionais os movimentar para a zona do Pico do Areeiro. “Face ao evoluir desta forma desfavorável foi solicitado à Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil o reforço de pessoal que veio do continente e está previsto durante o dia de hoje recebermos mais 45 elementos”, adiantou.

De visita aos locais afectados pelo incêndio, o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, negou que exista falta de meios no terreno para combater os fogos que estão activos em várias zonas. "Neste momento é essencial baixar a retórica um pouco alarmista porque a situação está segura. Se faltassem homens nas zonas cruciais as habitações já tinham sido destruídas", apontou. "O combate a um incêndio corre bem ou corre mal em função dos danos, da perda de vidas humanas ou de infra-estruturas. Não houve perda de nenhuma vida humana, não houve nenhum ferido, não houve nenhuma habitação destruída. Os objectivos estão concretizados. Foi salvaguardado aquilo que é essencial".

Albuquerque disse ainda que o Estado deveria assumir "as suas responsabilidades" nesta situação. "Não estamos a falar só do helicóptero, mas das tripulações, dos recursos, dos meios técnicos, tudo isso custa muito dinheiro", referiu, acrescentando que a estratégia de combate a estes incêndios está a ser a melhor. "Não podemos pôr pessoas, nem recursos nas zonas de pouca acessibilidade onde não existe água. Não se pode combater incêndios florestais de outra maneira".

O presidente do Governo refutou as críticas sobre continuar de férias no Porto Santo durante o incêndio, declarando que assume as suas responsabilidades e que a actuação deve ser avaliada pelos resultados. “Se me tentam intimidar, porque vou ficar com stress por causa disso, estão enganados”, declarou Albuquerque aos jornalistas à entrada da Câmara Municipal do Funchal, onde decorre a sessão solene do Dia do Concelho.

O chefe do executivo — que interrompeu no sábado as férias no Porto Santo para ir à ilha da Madeira e regressou ao Porto Santo um dia depois — assegurou que acompanhou a evolução do incêndio rural “desde a primeira hora”. “Isso a mim ninguém me dá lições, porque eu, ao contrário de outros, nunca deleguei as minhas responsabilidades em ninguém, nem disse que a culpa era dos técnicos.”

Entretanto, o incêndio que estava activo no Curral das Freiras, no concelho de Câmara de Lobos, foi declarado extinto. Num comunicado com o ponto de situação das 9h, o Serviço Regional de Protecção Civil (SRPC) adianta que as equipas permanecem no Curral das Freiras para realizar vigilância activa e evitar qualquer reacendimento.

O Curral das Freiras teve durante este fogo rural, que dura há uma semana, alguns momentos de grande preocupação, com a aproximação das chamas das casas. Na noite de terça-feira, segundo o município, o incêndio esteve muito activo na zona, descendo a encosta em direcção a uma área habitacional, e chegou a ser preciso retirar uma pessoa acamada.

Sindicato pede demissão de António Nunes

O Sindicato Nacional da Protecção Civil exigiu esta quarta-feira a demissão imediata do presidente da Protecção Civil da Madeira, António Nunes, e do secretário regional da Protecção Civil, Pedro Ramos, devido ao fogo que lavra na ilha há oito dias.

“Esperamos que as autoridades competentes tomem as medidas necessárias para proceder a estas substituições de forma rápida e transparente, garantindo assim que a Protecção Civil seja liderada por indivíduos verdadeiramente capacitados para proteger e servir a nossa comunidade”, acrescentou o sindicato.

Num comunicado, o SNPC referiu que está a acompanhar o trabalho dos operacionais neste incêndio com “profunda indignação e preocupação”, considerando “inadmissível” que o incêndio continue activo e se tenha intensificado, após uma semana, o que considerou revelar “uma clara falta de liderança e competência por parte daqueles que deveriam zelar pela segurança e bem-estar” da comunidade.

O sindicato criticou, sobretudo, a resistência em pedir ajuda externa e considerou que a resposta foi “tardia, desorganizada e insuficiente”, o que “coloca em risco vidas humanas, património natural e a segurança de todos os madeirenses”. “Não entendemos por que razão ainda não foi invocada a ajuda de Protocolo com as Ilhas Canárias que se encontra inscrito no Plano Regional de Emergência de Protecção Civil da Região Autónoma da Madeira”, afirmou.