Educação sexual? Para quê?

Ignorar a educação sexual é a fórmula infalível para preparar os adolescentes para um caos emocional e físico. Quem não adora aprender com a prática e no caminho ainda ganhar umas cicatrizes?

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Vamos imaginar um mundo onde ninguém sabe nada sobre sinais de trânsito. As ruas, caos do puro, acidentes a cada esquina, peões confusos, e motoristas de rugas na testa com aquele círculo vermelho com uma faixa branca. Agora, substituamos os sinais de trânsito pelo conhecimento sobre o corpo humano e sobre relações sexuais e temos o cenário actual em muitas escolas secundárias (e na mente de muitos adolescentes): uma grande confusão.

A falta de educação sexual nas escolas secundárias não é só um problema, é um convite aberto ao desastre. Mas por que haveríamos nós de ensinar algo tão embaraçoso? Afinal, falar sobre sexo com adolescentes é tão desconfortável como discutir o prazer de um bom churrasco com um grupo de vegetarianos. Para quê educar sobre o corpo, os sentimentos e as consequências das nossas acções? Vamos mantê-los na escuridão, onde tudo é mais seguro. Ou será que não?

É verdade, a ignorância é uma bênção. Pelo menos, até que o deixe de ser. Sem educação sexual, os jovens são lançados no mundo das relações sexuais como náufragos sem colete salva-vidas. Navegamos nas águas turvas da puberdade com a orientação de publicações do Instagram, conversas no bar da escola e, claro, a pornografia online, onde as representações são tão reais quanto os dragões nas histórias medievais. Tem tudo para correr bem!

A ironia de tudo isto é que a falta de educação sexual é, na verdade, uma óptima forma de educar os jovens – só que pelos piores motivos. "Aprender a errar" parece ser o mantra. Afinal, como melhor aprender sobre consentimento do que caindo em situações desconfortáveis e potencialmente traumáticas? E que melhor maneira de entender os métodos contraceptivos do que através de uma gravidez não planeada? E sobre o preservativo, que tal olhar para as estatísticas de infecções sexualmente transmissíveis (IST) entre os jovens?

Talvez a maior ironia seja que, ao não falar sobre sexo, falamos muito sobre o assunto. A mensagem implícita é clara: o sexo é algo tão perigoso e sujo que livre-se de quem o mencionar. E quando o fazem, é sob um manto de vergonha e culpa. Nada como uma boa dose de repressão para preparar os jovens para relações saudáveis e equilibradas no futuro.

Além disso, há o argumento de que a educação sexual nas escolas pode "incentivar" os jovens a fazerem sexo. Claro, porque nada desperta mais o desejo adolescente do que um professor a explicar, com um diagrama, como usar um preservativo. Esqueçam as hormonas em ebulição e a curiosidade natural, o verdadeiro problema é aquela aula chata de biologia depois do almoço.

E que tal a abordagem "educação sexual pela abstinência"? Passamos a falar apenas sobre os perigos do sexo e recomendamos que todos se abstenham. Afinal, ignorar os impulsos naturais sempre funcionou, certo? A História mostra-nos que, quando as pessoas são instruídas a não fazer algo, imediatamente cessam de o fazer. Certamente, não há exemplos de sociedades que tentaram reprimir comportamentos naturais, apenas para vê-los explodir de maneiras desastrosas.

Mas talvez esteja a ser cínica. Talvez a verdadeira razão para não se educar os jovens sobre sexo seja que o mistério faz parte da diversão. Porquê queimar a etapa emocionante de aprender "com a prática"? As IST, as gestações inesperadas, as relações tóxicas baseadas em mal-entendidos sobre consentimento e limites – são todas apenas partes inevitáveis da jornada de crescimento, como a acne e as crises existenciais.

Em suma, não ter educação sexual nas escolas secundárias é uma maneira brilhante de manter os jovens no caminho certo para a idade adulta: confusos, envergonhados e perpetuamente despreparados. E não é isso que realmente desejamos para a próxima geração? Afinal, quem precisa de conhecimento quando se tem uma experiência dolorosa como professora?

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