Desinformação nas redes sociais: a que devo estar atento?

Não há receitas milagrosas para descobrir desinformação online. No entanto há detalhes que podem indicar que um anúncio é falso ou que determinados conteúdos foram gerados por inteligência artificial.

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Nas redes sociais é frequente encontrar conteúdo manipulado ou gerado de forma artificial– imagens, vídeos e até texto Manuel Roberto
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Hoje em dia, ao navegar nas redes sociais, é quase inevitável chocar com desinformação. Com uma imagem que foi manipulada, um anúncio que é, na verdade, fraudulento, um vídeo colocado fora de contexto. A lista de exemplos podia ser longa. E quando estes conteúdos são cada vez mais e mais, a dificuldade em identificar o que é confiável e o que não é também se torna cada vez maior. Para isso, a Prova dos Factos do PÚBLICO reuniu uma série de estratégias para ajudar a ter um cuidado extra a lidar com a desinformação nas redes sociais.

Burlas – como identificar?

Não existem receitas mágicas para identificar se um anúncio é fraudulento ou não. Mas há certos detalhes que podem ajudar a perceber.

Muitos dos anúncios fraudulentos online prometem artigos a um preço extremamente baixo ou, no limite, muito inferior àquele que é normalmente praticado para aquele produto em particular. A Prova dos Factos já identificou falsos anúncios de cadeirinhas de bebé para carro a 1,95 euros, mensalidades de Andante, para os transportes no Porto, a 2 euros e até malas de viagem alegadamente abandonadas em aeroportos. “Quando algo nos parece demasiado bom para ser verdade, geralmente não é verdade”, partilhou Luís Pisco, jurista da Deco, com o PÚBLICO em Novembro de 2023.

Olhando com mais atenção, é possível verificar que, frequentemente, as descrições dos produtos contêm erros ortográficos ou erros de construção frásica, o que também pode indicar não se tratar de uma loja autêntica e de um anúncio fidedigno. Uma forma de verificar se um anúncio é de uma verdadeira loja é confirmar as informações da página: morada, número de telefone, endereço de e-mail, entre outros.

Quanto ao contacto telefónico, é possível utilizar aplicações como, por exemplo, o Sync.me para identificar a quem pertence um número, sem ser preciso ligar. Para fazer o mesmo, mas com o endereço electrónico, pode recorrer-se a aplicações online como o Verifalia ou o Captain Verify, que permitem submeter endereços de e-mail e perceber se essa caixa de correio electrónico existe e está funcional. É aconselhável, também, pesquisar num motor de busca o nome da loja e ver qual é o seu site oficial e, posteriormente, comparar com o que existe na página suspeita.

Por último, vários dos anúncios falsos que o PÚBLICO analisou incluíam também comentários de utilizadores falsos. Eram páginas clonadas de outros utilizadores e que eram utilizadas para simular compradores reais. Os perfis falsos costumam também ter poucos amigos ou seguidores, poucas fotografias e informações de contacto que parecem não ser concordantes. Por exemplo, uma pessoa ter frequentado escolas em três países diferentes no espaço de poucos anos ou ter uma profissão que nada tem a ver com a escolaridade que tem podem ser indicadores de que uma página não é real.

Além disso, estes perfis, além de escreverem com erros ortográficos e gramática incorrecta, por vezes publicam comentários que nada têm a ver com o anúncio. Numa das publicações analisadas pelo PÚBLICO, sobre “três tipos de cadeiras auto novas e comprovadas à venda por apenas 1,95 euros” (anúncio falso), uma conta comentou: “Obrigado pelo serviço, recebi os comprimidos e já tive oportunidade de os testar. A cadeira auto está sã e salva!”

Imagens manipuladas ou criadas por IA

As imagens criadas por inteligência artificial (IA) generativa são cada vez mais sofisticadas e difíceis de identificar a olho nu. Porém, há detalhes em que os sistemas ainda falham, que podem indicar que uma dada imagem é criação de IA.

É frequente uma imagem de uma pessoa, por exemplo, criada por inteligência artificial ter dedos a mais ou a menos nas mãos, os sulcos nas orelhas anatomicamente estranhos ou ter rugas a mais (ou a menos) na cara. Caso haja uma multidão na imagem, é possível também que as pessoas em primeiro plano estejam mais bem construídas do que as do fundo.

Os sistemas de IA também tendem a ter dificuldade em criar texto em imagem. O PÚBLICO, para testar este ponto, pediu a um chatbot para criar um menu de um restaurante de comida italiana. O menu incluía gralhas como na própria palavra "italian" ("italiano", em inglês), que surgia escrito "italiian". A palavra "sobremesas" ("dessert", em inglês) aparecia uma vez escrita "dessrts".

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Imagem gerada por IA. Mão da mulher na imagem tem seis dedos Imagem criada com a versão gratuita aplicação do site Getimg.ai
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Menu criado com IA generativa. Inclui alguns erros Imagem criada com recurso ao chatbot Microsoft Copilot

Quando falamos de fotografias reais que são, depois da captação, manipuladas, pode ser mais difícil de identificar a olho nu que se trata de uma fabricação. Nesses casos, o que se aconselha é a realizar uma reverse image search (inglês para “pesquisa reversa de imagem”). Este método permite verificar se uma determinada imagem foi publicada anteriormente online. Isto ajuda a constatar se uma fotografia manipulada foi colocada na Internet num momento anterior à manipulação e, assim, pode comprovar se houve trabalho de alteração.

Numa Prova dos Factos realizada pelo PÚBLICO sobre um anúncio fraudulento que prometia 100 carros Hot Wheels a dois euros, com recurso a este método, foi possível descobrir que a imagem do anúncio era a versão editada de uma que já havia sido partilhada online.

Noutros casos, a “pesquisa reversa de imagem” permite também averiguar se uma fotografia está a ser colocada fora de contexto. Em Julho, alegava-se nas redes sociais, com recurso a uma fotografia, que Donald Trump tinha fingido a lesão na orelha. No entanto, a fotografia que servia de base às alegações tinha sido tirada em 2022 e não depois do ataque em Julho.

Deep fakes ou cheap fakes

Como as imagens podem ser manipuladas ou geradas por inteligência artificial, os vídeos também podem. Os deep fakes são vídeos que retratam algo que não existe ou algo que nunca aconteceu. O termo inglês não tem tradução directa para português, mas aproxima-se de “hiperfalsificação”. Os cheap fakes são, como indica o nome, “versões baratas” e muito menos sofisticadas.

Em vídeos criados com tecnologia deep fake, é comum o movimento da boca de um orador não ser completamente coerente com o discurso transmitido. O movimento do corpo, por vezes, também é pouco natural. É, também, frequente as sombras e a luminosidade das imagens permitirem perceber que não se trata de um vídeo inalterado.

No caso dos cheap fakes, o trabalho de edição e manipulação é bastante mais simples e rudimentar. Por vezes, trata-se de montagens de vídeos que são colocados em sequência, mesmo podendo sido gravados originalmente em momentos diferentes e, até, em diferentes lugares. Um vídeo divulgado no X (antigo Twitter), e analisado pelo PÚBLICO, mostrava um vídeo composto por dois clips, um que mostrava mísseis a serem lançados e outro de pessoas a correr. Apesar de passarem a ideia de que a sequência aconteceu na vida real, os vídeos tinham sido gravados em países diferentes, em momentos distintos.

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