Morreu Alice Pinto Coelho, fundadora do Procópio

Alice Pinto Coelho passou a última noite antes das férias no bar que fundara em Lisboa em 1972, à conversa com clientes, apesar da saúde debilitada. Morreu na madrugada seguinte, aos 86 anos.

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Alice Pinto Coelho no bar Procópio, que fundou em 1972 Matilde Fieschi
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Alice Pinto Coelho “fez sempre aquilo que queria até ao fim”. Na última noite de abertura do Procópio — espaço mítico de Lisboa — ​antes das férias, “foi jantar a um restaurante em frente com uma amiga da Mesa Dois” e depois regressou ao bar que fundara em 1972 uma última vez. “Estava cheio, mas ainda ficou ali sentada ao pé da televisão e a conversar com um casal de espanhóis muito simpático que ficou a noite toda a fazer-lhe companhia”, recorda a filha Maria João Pinto Coelho à Fugas. “Levei-lhe o livro dos 35 anos do Procópio que eles queriam ler e depois quis ir embora à 1h, estava cansada.”

A saúde de Alice tinha vindo a debilitar-se num “acumular de coisas” que as últimas semanas entre hospitais, consultas e médicos não conseguiram evitar, apesar da lucidez, da garra que lhe era característica, da vontade de “comprar um carro” comentada horas antes. Alice Pinto Coelho morreu em casa, aos 86 anos, na madrugada de sexta-feira, “onde queria estar e onde queria morrer”. “Fez sempre aquilo que queria até ao fim.”

Há dois anos, a propósito dos 50 anos do Procópio, Alice recordava à Fugas a inauguração triunfante do bar que abriu junto ao Jardim das Amoreiras, em Lisboa, em Maio de 1972, com Luís Pinto Coelho, e que geria desde 1974. Ninguém queria ir embora, com “o [Mário] Cesariny a tocar piano e o [José] Escada a dançar comigo por esse corredor fora até à porta”. No período pós-revolução, tornou-se extensão dos bastidores políticos, abrigo de artistas, gestores e jornalistas, uma “fauna de mescla pouco provável” que se reunia na Mesa Dois e que contribuiu para a fama e história do espaço, actualmente co-gerido pelas filhas.

“A minha mãe é uma pessoa super-sociável e boa vivant. Lembro-me sempre dela a rir-se às gargalhadas, com uma gargalhada inconfundível, e todos os amigos sempre de roda dela”, recordava nesse dia a filha Sofia Pinto Coelho. Nos últimos dias, têm sido “milhares” os telefonemas e mensagens recebidos, conta Maria João.

O velório de Alice Pinto Coelho deverá decorrer na Igreja de Santa Isabel, em Lisboa, na quinta-feira, e a missa e cremação no dia seguinte. O Procópio reabre no final de Agosto.

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