João Félix deixa o Atlético para tentar reencontrar-se no Chelsea

Avançado português regressa à Premier League, agora a título definitivo, a troco de 50 mihões de euros. Aos 24 anos, procura o brilho que lhe foge desde 2019.

Foto
João Félix representou o Chelsea durante seis meses, em 2022-23 Neil Hall / EPA
Ouça este artigo
00:00
04:47

João Félix já pode apagar a cidade de Madrid da lista de destinos regulares que terá guardados no GPS. Atlético e Chelsea chegaram a acordo para a transferência do avançado, a título definitivo, o que significa que a carreira itinerante que tem vivido nos últimos anos está prestes a chegar ao fim. De resto, os “colchoneros” foram nesta segunda-feira a jogo diante do Villarreal, na jornada inaugural da Liga espanhola, sem o internacional português, precavendo-se contra uma eventual lesão que pudesse inviabilizar o negócio.

Será com algum alívio que este desfecho é encarado no Atlético. Por parte do treinador, porque a relação com João Félix foi mais turbulenta do que se previa; por parte dos adeptos, que nunca lhe perdoaram a forma como abordou o empréstimo ao Barcelona (já lá vamos); e por parte do próprio jogador, que embora tenha feito uma pré-época promissora não veria grande futuro no modelo de jogo de Diego Simeone.

Se tudo correr como previsto, João Félix fará os exames médicos da praxe nas próximas horas e assinará com o Chelsea um contrato válido por seis temporadas. Aos 24 anos, prepara-se para voltar a Londres, mas desta vez de forma definitiva. Em 2022-23, jogou em Stamford Bridge por empréstimo (quatro golos em 20 jogos), uma espécie de plano B do Atlético para um activo que estava longe de render o que dele a direcção esperava e que precisava de ser valorizado na óptica de forjar um negócio futuro.

Minimizar as perdas

Percebia-se bem o dilema. João Félix chegou ao Wanda Metropolitano em 2019 como o jogador mais caro da história do Atlético Madrid. A maior venda de sempre do Benfica (no total, a transferência ascendeu a 126 milhões de euros) aterrava na capital espanhola depois de uma temporada de ascensão meteórica, em Portugal e nas competições europeias, que fez disparar imediatamente as expectativas dos adeptoscolchoneros”.

A verdade é que não tardou até as expectativas, de um e de outro lado, começarem a redundar em frustração. Face a um modelo de jogo que retirava muitas vezes o avançado português do espaço entre linhas, onde é mais capaz de fazer a diferença, e como resultado de uma série de lesões (nas primeiras três épocas, Félix falhou 39 jogos, 13 em cada uma), o rendimento ficou sempre distante do que se exigia.

Quando terminou a época em Inglaterra, a prioridade no regresso a Madrid foi encontrar um novo habitat. Numa espécie de réplica do negócio de Griezmann (em sentido contrário), Barcelona foi o destino escolhido. Em campo, João Félix haveria de dar-se bem (afirmou-se como titular rapidamente), mas fora dele cavou ainda mais fundo o fosso que o separava dos adeptos “colchoneros”. Por via do discurso (“O Barcelona sempre foi a minha primeira escolha e adorava unir-me ao Barça”) e das atitudes (quando ganhou o embate com o Atlético festejou de forma efusiva).

A dada altura, Diego Simeone, treinador que procurou sempre colocar água na fervura quando o tema era a fricção com o jogador, foi mais directo.“O que está claro é que as pessoas do Atlético não gostam [de algumas atitudes de João Félix], porque temos outra idiossincrasia. Quando não entendes as idiossincrasias do local onde estás, é muito difícil conviver”.

Caiu Samu, levantou-se Félix

Por todo o contexto, a continuidade de Félix em Madrid seria sempre um último recurso. A direcção do Atlético, conformada com a desvalorização do passe do jogador, foi baixando a fasquia para atrair interessados e finalmente chegou a um acordo com o Chelsea. De acordo com os valores avançados pela imprensa espanhola, os “blues” pagarão 50 milhões de euros (mais 10 em função de objectivos) por 80% do passe e oferecem ao avançado um contrato válido até 2030.

O negócio facilitará também a conclusão da mudança de Conor Gallagher para o Atlético Madrid. O médio inglês já tinha sido anunciado como reforço dos espanhóis, a troco de 40 milhões de euros, mas um problema de última hora levou a direcção do Chelsea a intimar o jogador a regressar a Inglaterra. Em causa, segundo os media britânicos, estaria o fracasso na contratação de Samu Omorodion, avançado do Atlético que também estava envolvido na operação. Ora, caindo por terra a chegada do espanhol, o Chelsea virou-se para João Félix.

Aos 24 anos, é uma nova porta que se abre para Félix, numa Liga que já conhece. Nesta altura, o técnico Enzo Maresca tem à disposição um plantel na casa das quatro dezenas de jogadores, com atacantes do calibre de Nicolas Jackson (actualmente lesionado), Cole Palmer, Christopher Nkunku, Noni Madueke, Pedro Neto e ainda Raheem Sterling e Romelu Lukaku (ambos na porta de saída).

Concorrência feroz para o português, que deu sinais de retoma na pré-temporada com o Atlético mas que não encontrou o espaço que pretendia no Euro 2024 e continua à procura da sua melhor versão, aquela que o atirou para a ribalta a partir do Estádio da Luz. E a verdade é que, se o destino de Lukaku for o Nápoles, não está fora de hipótese que o goleador Victor Osimhen venha a juntar-se à interminável armadas dos “blues”.

Sugerir correcção
Ler 12 comentários