Só cerca de mil pessoas se vacinaram contra mpox em Portugal este ano

“Devemos estar preparados para mais casos da variante I”, diz directora da entidade europeia da saúde. O primeiro caso desta variante (a mais perigosa) de mpox fora de África foi detectado na Suécia.

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A infecção do vírus da mpox (a vermelho) nas células saudáveis provocam bolhas e feridas no corpo NIAID
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Os números da vacinação contra a mpox baixaram em 2024 e só cerca de mil pessoas se vacinaram contra a infecção que voltou este mês de Agosto à ribalta. Os baixos números de vacinação são preocupantes, mas o estatuto de emergência internacional de saúde pública, atribuído pela Organização Mundial da Saúde (OMS) esta quarta-feira, tem reactivado o interesse.

Isso acontece pelo menos no Grupo de Activistas em Tratamentos (GAT), em Lisboa, que tem dois locais onde a vacinação contra a mpox pode ser administrada. Com a alteração do estatuto de emergência pela OMS, “aumentou a procura”, admite Miguel Rocha, enfermeiro do GAT que tem acompanhado o processo de vacinação contra a mpox. Aliás, o reforço de doses de vacina já foi pedido.

Este ressurgimento provocado pela atenção devolvida à mpox é partilhado pela comparação com o que tem sido o último ano em termos de vacinação contra esta infecção. O PÚBLICO pediu dados oficiais à Direcção-Geral da Saúde (DGS) sobre as doses administradas contra a mpox nestas primeiras semanas de Agosto, mas não recebeu qualquer resposta.

A preocupação, no entanto, já existia há algum tempo. Este Verão a DGS e o GAT lançaram uma campanha de apelo à vacinação contra a hepatite A e a mpox, doenças que podem ser prevenidas. “Não há tantos casos, não se fala tanto e, portanto, não há a percepção de ser um problema – e começa a diminuir a procura da prevenção”, explica Miguel Rocha, elucidando sobre o percurso que conduziu à diminuição da administração de vacinas. Em Portugal, embora tenham sido registadas duas mortes este ano, houve apenas 17 casos confirmados de mpox.

No total, desde que a vacinação foi autorizada em Portugal, em Julho de 2022, houve mais de 9300 pessoas inoculadas, a esmagadora maioria em contexto de pré-exposição, ou seja, como instrumento preventivo para não ter doença grave em caso de infecção – à imagem das vacinas contra a covid-19. Apenas 1135 pessoas tomaram a vacina em 2024.

Em Portugal, a vacina pode ser tomada após o contacto com casos de mpox ou então por pessoas com risco acrescido de terem a infecção, como é o caso de pessoas com múltiplos parceiros sexuais, com diagnóstico de infecção sexualmente transmissível nos últimos seis meses ou pessoas em programa Prep (profilaxia preventiva para o VIH). Como relembra Miguel Rocha, devem ser administradas as duas doses da vacina, uma vez que “sem o esquema completo a protecção é baixa”. Quem fez a vacinação completa contra a mpox há dois anos também está elegível para um reforço.

Os locais de vacinação podem ser encontrados na página da DGS, funcionando todos através de agendamento por telefone ou email. Na região de Lisboa e Vale do Tejo também há um formulário online para marcação de vacinna.

Teremos mais casos

Depois da recuperação do estatuto de emergência de saúde pública para a mpox, o anúncio do primeiro caso da variante I fora de África aumentou os receios de um novo surto na Europa. Esta sexta-feira, a directora-geral do Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC), Pamela Rendi-Wagner, declarou: “Devemos estar preparados para mais casos importados da variante I.”

O risco para o continente europeu mantém-se, ainda assim, baixo. O alerta para a situação internacional da mpox surge sobretudo pela rápida explosão de casos na África Central, com um epicentro muito bem definido na República Democrática do Congo – onde só na primeira semana de Agosto foram identificados cerca de 2400 casos suspeitos e 56 mortes devido à infecção. A disseminação para os países vizinhos Burundi, Quénia, Ruanda e Uganda (onde nunca tinham sido detectados casos de mpox) também suscita preocupação.

Outra razão é o desconhecimento existente sobre a nova sublinhagem da variante I da mpox que tem fustigado a região africana – a Ib, a mesma que também foi detectada na Suécia. A mpox divide-se em duas grandes variantes: a II é menos letal e transmissível, tendo sido a responsável pelo surto global em 2022; a I, pelo contrário, é mais letal e estava circunscrita sobretudo à República Democrática do Congo. Esta Ib é uma nova sublinhagem que parece ser mais mortífera e afectar sobretudo pessoas com menos de 15 anos. Todos os casos em Portugal são da variante II da mpox.

No entanto, há pouca investigação ainda sobre esta sublinhagem, pelo que todas estas suspeitas ainda terão de ser confirmadas.

Para já, os responsáveis africanos pedem dez milhões de doses para vacinar a população, dos quais apenas têm acordo para receber 215 mil doses, num curto apoio da Comissão Europeia. Em entrevista ao site online Stat News, o director executivo da Bavarian Nordic (fabricante da vacina aprovada contra a mpox na Europa) avança que a produção pode ser aumentada até oito milhões de vacinas por ano, mas que, até ao momento, a empresa só recebeu a encomenda da Comissão Europeia.

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