Hamas não participa nas negociações para tréguas em Gaza que podiam travar ataque do Irão
Governo israelita envia uma delegação às conversações de quinta-feira, mas o Hamas pede um plano viável para concretizar uma proposta que já aceitou, em vez de mais conversações.
O grupo islamista palestiniano Hamas anunciou que não participará na nova ronda de negociações de cessar-fogo em Gaza, agendada para quinta-feira no Qatar, diminuindo as esperanças de uma trégua negociada que, segundo fontes iranianas, poderia travar um ataque do Irão a Israel como retaliação pelo assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, no seu território, no mês passado.
As conversações para o cessar-fogo, que deverão ter lugar em Doha, no Qatar, deverão incluir altos funcionários dos serviços secretos do Egipto, de Israel e dos Estados Unidos, bem como o primeiro-ministro do Qatar.
Os Estados Unidos esperam que as conversações indirectas decorram como planeado em Doha, capital do Qatar, e que um acordo de cessar-fogo ainda seja possível. No entanto, o Presidente dos EUA, Joe Biden, disse aos jornalistas que o acordo “está a ficar mais difícil”, mas que não estava “a desistir”. E nesse mesmo dia, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, adiou uma viagem ao Médio Oriente que deveria ter começado na terça-feira, sem adiantar a nova data.
Israel confirmou, nesta quarta-feira, que vai enviar uma delegação para as conversações. “Israel enviará a equipa de negociações na data acordada, ou seja, amanhã, 15 de Agosto, a fim de finalizar os pormenores da implementação do acordo”, disse o porta-voz do governo, David Mencer, num briefing. A delegação inclui o chefe de espionagem de Israel, David Barnea, o chefe do serviço de segurança interna, Ronen Bar, e o chefe militar de reféns, Nitzan Alon, disse um funcionário da defesa, de acordo com a Reuters.
Por seu lado, o Hamas insiste num plano viável para concretizar uma proposta que já aceitou, em vez de mais conversações. “O Hamas está comprometido com a proposta que lhe foi apresentada a 2 de Julho, que se baseia na resolução do Conselho de Segurança da ONU e no discurso de Biden, e o movimento está preparado para iniciar imediatamente a discussão sobre um mecanismo para a aplicar”, disse Sami Abu Zuhri, alto funcionário do Hamas, à Reuters. “Ir para uma nova negociação permite que a ocupação imponha novas condições e use o labirinto da negociação para efectuar mais massacres”, acrescentou.
Ahmad Abdul-Hadi, representante do Hamas no Líbano, disse em entrevista que isso significaria “voltar à estaca zero” e acusou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de estar a arrastar as negociações. “Netanyahu não está interessado em chegar a um acordo que ponha fim à agressão, mas sim em enganar e evadir-se e quer prolongar a guerra, ou mesmo expandi-la a nível regional”, disse Abdul-Hadi, citado pelo New York Times.
Dois funcionários informados sobre as conversações, que falaram sob anonimato ao NYT, disseram que o Hamas ainda estaria disposto a dialogar com os mediadores após a reunião, se Israel apresentasse uma “resposta séria” à última oferta do Hamas, do início de Julho.
O porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, afirmou que os funcionários do Qatar garantiram aos Estados Unidos que iriam trabalhar para que o Hamas estivesse representado nas conversações, embora não tenha dito se os membros do grupo estariam presentes pessoalmente ou se seriam representados apenas por intermediários. “Esperamos que estas conversações avancem”, disse Patel.
Apesar da marcação das negociações do Qatar, não houve qualquer abrandamento dos combates em Gaza, onde os residentes da cidade de Khan Younis, no Sul, afirmaram que as forças israelitas fizeram explodir casas no Leste e intensificaram o bombardeamento de tanques nas zonas orientais do centro da cidade.
Israel disse que estava a responder aos disparos de rockets do Hamas em direcção a Telavive na terça-feira e que tinha atingido plataformas de lançamento de rockets e mais 40 alvos militares, incluindo no centro de Gaza, em Khan Younis, e no Oeste de Rafah, no Sul.
Novo teste à diplomacia
Um acordo de cessar-fogo teria como objectivo pôr fim aos combates em Gaza e garantir a libertação dos reféns israelitas detidos no enclave em troca de muitos palestinianos presos por Israel, mas as duas partes continuam divididas quanto à sequência das libertações e a outras questões.
O Hamas quer um acordo para acabar com a guerra e uma retirada das forças israelitas de Gaza como condição básica para libertar os reféns, enquanto o primeiro-ministro israelita diz que só concordará com uma pausa nos combates para permitir o regresso do maior número possível de reféns e tem afirmado repetidamente que a guerra só pode terminar quando o Hamas for erradicado.
Embora rejeite as acusações de que está a bloquear as negociações, segundo documentos não publicados analisados pelo NYT, Netanyahu acrescentou novas condições às exigências de Israel que os seus próprios negociadores receiam ter criado obstáculos a um acordo. O seu gabinete justificou as novas exigências dizendo que ele estava simplesmente a clarificar ambiguidades.
Numa tentativa de evitar uma escalada separada entre o Hezbollah, apoiado pelo Irão, e Israel, depois de este último ter matado um comandante superior do Hezbollah nos subúrbios do Sul de Beirute no mês passado, Amos Hochstein, um conselheiro sénior de Joe Biden, aterrou em Beirute esta quarta-feira.
Hochstein encontrar-se-á com o primeiro-ministro interino do Líbano, Najib Mikati, e com o presidente do Parlamento, Nabih Berri, que dirige o movimento armado Amal, aliado do Hezbollah e que também disparou rockets contra Israel.
“Estamos perante oportunidades incertas para a diplomacia, que está agora a agir para evitar a guerra e travar a agressão israelita”, disse Mikati num discurso antes de uma reunião do Governo na quarta-feira. Mikati afirmou que as conversações com os líderes árabes e ocidentais se intensificaram devido à gravidade da situação no Líbano e na região.
Notícia actualizada às 12h24 com novas informações