Com o restaurante Corleone, a baía de Cascais está mais próxima de Itália
O novo restaurante italiano de Cascais, o Corleone Ristorante al Mare, é do grupo São Bento, que também gere o Bougain na vila. A decoração com limões é inspirada na Costa Amalfitana.
“Se era isto que Vito Corleone e a máfia siciliana bebiam, afinal não deviam ser assim tão maus.” É este o pensamento que surge enquanto se beberica um cocktail de limoncello com vista para a baía. Mas nem o mafioso siciliano existiu mesmo, nem isto é a Costa Amalfitana ou a Sicília, como pode parecer pela decoração, mas Cascais, que ganhou mais uma costela italiana com o Corleone graças a Miguel Garcia do grupo São Bento. Os bifes com molho à café vieram dar lugar aos clássicos italianos que querem parecer acabados de sair da cozinha da nonna.
A viagem até Itália começa assim que se abre a porta do Corleone Ristorante al Mare, como o próprio nome indica. Lá fora cai o final de uma tarde quente de Verão, cá dentro reina a frescura dos citrinos que servem de mote à decoração ─ do tecto com papel de parede com limões que podiam ter saído do limoeiro plantado na esplanada. “Querem um cocktail de assinatura?”, questiona Miguel Garcia que de italiano tem bem pouco, além da admiração por uma das cozinhas mais consensuais do mundo.
Com o Basilico al Limone (13€) na mão, servido em copo de cerâmica siciliana, não há como evitar sair para a esplanada debruçada sobre a baía. Fechando os olhos e ouvindo as ondas, podíamos estar na Costa Amalfitana ou na Sicília, que serviram de inspiração para o projecto que abriu silenciosamente as portas em Maio, mas só agora começa a fazer zunzum em Cascais, onde Miguel Garcia já estava instalado com o Bougain. “Sentia falta de um verdadeiro italiano em Cascais”, confidencia o empresário, que, perante a oportunidade, de abrir mais um espaço na vila não teve dúvidas.
Não o quis fazer sozinho e trouxe o chef Rodolfo de Santis, que nasceu no sul de Itália, na Apúlia. Mas foi no Brasil que o italiano se tornou um dos mais conceituados chefs e fundou o grupo Famiglia Nino, vendido em Dezembro do ano passado. “Quando soube que o Rodolfo estava livre, convidei-o para fazer isto comigo”, conta Miguel Garcia, detalhando que o chef não só idealizou uma carta de raiz italiana, como formou toda a equipa liderada agora por Victor Vieira.
A maior parte dos ingredientes chega directamente do sul de Itália, incluindo todos os queijos, mas também a carne ou grande parte das referências da carta de vinhos. “Somos fundamentalistas nas receitas clássicas”, insiste o empresário, que conheceu o chef italiano noutra vida, quando era director num conhecido grupo de hotelaria. E declara, orgulhoso. “Este é o primeiro projecto do Rodolfo na Europa.”
Como tal, mantêm-se fiéis à cozinha italiana, a começar pelas entradas, que incluem alguns dos antipasti mais populares, como o Vitello Tonnato (16€), que mistura lâminas de viela com molho de atum, o Crudo di Tonno (17€), com atum cru, mascarpone, gema de ovo e alcachofra, ou o Aracini (12€) com risoto crocante. “São tudo produtos italianos, mas de fornecedores portugueses ─ até a burrata”, explica Miguel Garcia, enquanto lá fora o sol desaparece no horizonte.
No interior do restaurante com a brisa do mar a entrar pela janela, passamos às opções mais quentes e igualmente tradicionais com destaque para o Ossobuco de vitela (28€), que demorou “seis meses” a encontrar o fornecedor perfeito. “Somos nós a serrar o ossobuco até hoje ─ é o prato mais difícil da carta. É de vitela branca de seis meses”, conta, assim que o prato chega à mesa, acompanhado do tutano. Nas carnes, Miguel Garcia elege ainda o Polpettone, que leva a viajar até à cozinha da avó pelo conforto do rolo de carne clássico acompanhado do molho de tomate e taglioni feito no restaurante.
As massas frescas são feitas no Corleone e uma das combinações menos óbvias da carta é o Cavatelli all’Arrabiata (26€) com gnocchetti de polvo e tutano. Apesar de a combinação não ser consensual à primeira vista, certo é que ambos os sabores de fundem na perfeição com o molho de tomate ligeiramente picante. Para os mais clássicos, não faltam a Carbonara (22€), o Cacio e pepe (20€) ou a Amatriciana (22€).
A fechar, as opções de sobremesa mantêm-se também em sabores tradicionais: Tiramisu (12€), Panna Cotta (11€) ou Torta della Nonna (12€) ─ nem mais nem menos que um pequeno bolo de chocolate com gelado de avelã. “Sou conservador nos restaurantes”, declara Miguel Garcia, que parece ter uma preferência clara por clássicos, do bife do Café São Bento, à cozinha mediterrânica no Bougain à comida italiana no Corleone.
O namoro com Cascais é para continuar e o Café São Bento, que comprou em 2022, chega à vila já no próximo ano. Em 2026, será vez de abrir um novo espaço na baixa de Lisboa, enquanto procuram oportunidades para novos conceitos, porque nem só de bifes vive o Homem.
A Fugas jantou a convite do Corleone Ristorante al Mare.