Produção nacional de carros caiu mais de 30% com paragem na Autoeuropa em Julho

Enorme variação homóloga negativa em Julho deve-se aos 13 dias de suspensão da actividade da principal fábrica de automóveis do país. Em termos acumulados, a produção nacional cai 6% desde Janeiro.

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Modernização tecnológica da Autoeuropa, que se prepara para a produção de um modelo híbrido em 2025, justifica um plano de paragem que previa 21 dias de inactividade em Junho e Julho, o que se reflecte de forma notória nas estatísticas da produção nacional Miguel Manso (Arquivo)
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A produção de automóveis em Portugal continua em quebra, tendo-se acelerado por causa da paragem forçada na maior fábrica de carros do país, a Volkswagen Autoeuropa, em Palmela, no distrito de Setúbal. Depois de uma quebra homóloga de 2,1% no primeiro semestre, o mês de Julho agravou ainda mais a descida, para 6% face ao mesmo período do ano passado, o que fica a dever-se aos 13 dias de paragem por que passou a fábrica da Autoeuropa em Julho.

Segundo os dados oficiais da ACAP – Associação Automóvel de Portugal, divulgados esta terça-feira, em Julho de 2021 foram produzidos em Portugal 18.008 veículos, dos quais 10.441 ligeiros de passageiros, 7539 ligeiros de mercadorias e 28 pesados.

Em termos homólogos, a produção nacional em Julho traduz uma diminuição de 32,7%, para a qual contribuíram quebras de 48,2% no segmento dos ligeiros de passageiros e de 95% nos pesados. Já os ligeiros de mercadorias registaram uma subida em Julho de 24,6% face ao mesmo mês de 2023. A quase totalidade desta produção destinou-se à exportação (97,9%, segundo a ACAP).

A Europa continua a ser o mercado líder nas exportações dos veículos fabricados em território nacional – com 85% –, com a Alemanha (23,5%), a Itália (13,3%), a França (10,8%) e Espanha (9,1%) no topo do ranking", lê-se na nota estatística divulgada esta tarde por aquela associação.

"Em termos de grandes regiões, o mercado africano, liderado pela Argélia (5,4%), mantém o segundo lugar nas exportações (...), com 8,1%. A Ásia encontra-se no terceiro lugar com 3,3%", acrescenta a mesma entidade.

Tudo somado, desde o início do ano até ao final de Julho, o país produziu 197.230 veículos automóveis, menos 6% do que em igual período do ano passado. Uma variação negativa que reflecte a suspensão da actividade da Autoeuropa que, nos últimos dois meses, esteve parada 21 dias (oito em Junho e 13 em Julho), tendo colocado 3742 dos cerca de 4900 trabalhadores no regime de layoff.

Esta suspensão é motivada por obras de adaptação na fábrica. A Volkswagen quer passar a produzir, a partir do próximo, um modelo híbrido em Portugal, onde actualmente produz um único modelo, o T-Roc, com motor de combustão interna. Segundo diversas notícias publicadas nas últimas semanas, a casa-mãe alemã também estará a considerar a fábrica de Palmela como candidata à produção de um veículo 100% eléctrico.

Em Maio, quando foram conhecidos os planos em Palmela, a administração garantiu que "estas paragens de produção serão essenciais para iniciar um conjunto de investimentos cruciais para a produção de modelos futuros" e para preparar "a descarbonização da Volkswagen Autoeuropa, tendo em vista a redução do seu impacto ambiental, adaptação tecnológica e cumprimento das normais ambientais".

A opção pelo layoff foi criticada por sindicatos e alguns partidos à esquerda com representação parlamentar. A administração da empresa foi, aliás, à Assembleia da República explicar o contexto e as consequências deste investimento na reestruturação daquela fábrica, tal como a Autoridade para as Condições do Trabalho, que garantiu numa audiência na Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão, que a lei do layoff tinha sido cumprida, confirmando-se que houve "motivo tecnológico" a justificar esta opção.

Em Maio, a Comissão de Trabalhadores chegou a acordo com a administração que garante a totalidade do salário dos trabalhadores que ficaram em casa. Apesar das paragens forçadas, a empresa manteve o objectivo de chegar ao fim do ano com mais unidades produzidas do que em 2023. Isto porque se projecta um aumento da capacidade diária de montagem para um objectivo de 955 a 1005 unidades, acima da produção habitual que fica perto das 900 unidades. Este aumento de capacidade já está a ser testado desde Junho.

Neste momento, a empresa encontra-se em período de férias.

Quanto aos dados da ACAP, as estatísticas da produção nacional confirmam o peso – e até dependência – da Autoeuropa e do único modelo actualmente ali fabricado. A produção de carros ligeiros de passageiros representa quase 79% da produção nacional e a produção de ligeiros de mercadorias – essencialmente centrada na unidade do grupo Stellantis (ex-PSA), em Mangualde – representa 20%.

O restante 1% fica por conta da produção de veículos pesados. Em termos acumulados, esta produção segue em forte aceleração, com um aumento de 76,2% desde Janeiro, quando comparado com os primeiros sete meses de 2023. Em termos nominais, é no entanto uma pequena fracção: são 185 veículos, todos eles pesados de passageiros, dos quais 52,4% foram montados para exportação, tendo como principais destinos o Reino Unido (64,9%) e a Alemanha (35,1%).

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