Pugilista argelina Imane Khelif visa J.K. Rowling e Elon Musk em queixa-crime em França
Autora da saga Harry Potter e o dono da rede social X são referidos como autores ou promotores de uma campanha de “assédio agravado” contra a campeã olímpica de boxe feminino.
A escritora J.K. Rowling e o bilionário Elon Musk são visados numa queixa-crime por "actos de ciberassédio agravado" apresentada pelo advogado da pugilista argelina e campeã olímpica Imane Khelif, noticia a revista Variety. O processo deu entrada sexta-feira no gabinete anti-ódio online da procuradoria parisiense.
A queixa é dirigida contra desconhecidos, visando no entanto a rede social X, o seu proprietário e a autora da saga Harry Potter. O ex-Presidente norte-americano Donald Trump e o influenciador Logan Paul são outros nomes apontados como autores ou divulgadores de mensagens que atentaram contra a dignidade de Imane Khelif.
Em causa está uma torrente de publicações nas redes sociais em que a atleta argelina era acusada falsamente de ser um homem ou uma pessoa transgénero, questionando a legalidade da participação de Khelif no torneio de boxe feminino dos Jogos Olímpicos de Paris, que a pugilista venceu na sua categoria de peso (-66 kg).
O Comité Olímpico Internacional veio defender publicamente Khelif, declarando que a atleta cumpria todos os requisitos necessários para participar na competição feminina.
"Sou uma mulher como qualquer outra. Nasci mulher e vivi como mulher, mas há inimigos que não conseguem digerir o meu sucesso", disse a atleta em conferência de imprensa depois de ser condecorada em Paris, depois de vencer a chinesa Yang Liu na final. "Esta medalha de ouro é a melhor resposta à feroz campanha contra mim", acrescentou.
Khelif tinha sido uma de duas atletas desclassificadas pela IBA (Associação Internacional de Boxe) durante os Mundiais de 2023. A organização, cuja idoneidade deixou de ser reconhecida pelo Comité Olímpico Internacional há vários anos, devido a múltiplos escândalos de corrupção, alega que a argelina exibia "cromossomas XY". No entanto, a IBA nunca fundamentou cabalmente a decisão nem foi transparente sobre o processo, e Khelif autorizada a participar nos Jogos Olímpicos.
Agora, o advogado da atleta, Nabil Boudi, afirma que os autores da campanha de desinformação terão de enfrentar a justiça francesa, independentemente da sua nacionalidade, e que o leque de visados pode aumentar: "Pode ter como alvo pessoas no estrangeiro."
"O que estamos a pedir é que a procuradoria investigue não apenas estas pessoas mas todas as que entender que são necessárias. Se o caso seguir para tribunal, terão de ir a julgamento", disse à Variety.